Procurador-geral da Espanha nega acusações no primeiro dia de julgamento
O procurador-geral espanhol, Álvaro García Ortiz, negou nesta segunda-feira (3) ter divulgado ilegalmente informações confidenciais e prejudiciais sobre o namorado de uma figura da oposição, no primeiro dia do julgamento sem precedentes contra ele em Madri.
“Não”, foi tudo o que García Ortiz respondeu quando o presidente do tribunal, Andrés Martínez Arrieta, lhe perguntou se ele se considerava culpado dos crimes de que era acusado.
Com expressão séria e fazendo anotações, García Ortiz vestia uma toga e sentou-se ao lado de seus advogados.
Este é um julgamento sem precedentes na história do Supremo Tribunal, já que o procurador-geral permanece no cargo. O julgamento envolve o governo de Pedro Sánchez, que nomeou García Ortiz em 2022.
O procurador-geral é acusado de vazar um e-mail confidencial para a imprensa referente a uma investigação de fraude fiscal contra o empresário Alberto González Amador, com o objetivo de prejudicar sua companheira, Isabel Díaz Ayuso, presidente da região de Madri e figura proeminente da direita espanhola.
Sua advogada, Consuelo Castro, afirmou que García Ortiz “foi submetido a um processo totalmente injusto” e que a investigação “começou com a ideia preconcebida de que o acusado era culpado”.
– Batalha política –
O caso de García Ortiz remonta a fevereiro de 2024, quando o Ministério Público acusou González Amador de fraudar o Tesouro espanhol em 350.000 euros.
Em 2 de fevereiro, o advogado do empresário enviou um e-mail ao promotor propondo um acordo: confessar dois crimes fiscais em troca de evitar a prisão.
Mais de um mês depois, em 13 de março, uma emissora de rádio e um canal de televisão divulgaram o conteúdo desse e-mail, que lançou dúvidas sobre a inocência do namorado de Ayuso.
O vazamento desencadeou uma tempestade. González Amador processou García Ortiz, alegando que somente o procurador-geral tinha acesso ao documento e que ele o enviou à mídia para prejudicar a reputação de Ayuso.
Quatro procuradores prestaram depoimento nesta segunda-feira como testemunhas na primeira sessão do julgamento, que se estenderá por seis dias, três nesta semana e três na próxima.
O julgamento prejudica a carreira deste jurista de 57 anos, que pode pegar vários anos de prisão e ficar inabilitado para exercer a profissão, e reacende o debate sobre a relação entre justiça e política na Espanha.
Este é também um novo revés legal para Pedro Sánchez, cuja esposa, Begoña Gómez, seu irmão, David Sánchez, e duas figuras socialistas importantes que foram fundamentais para sua ascensão, Santos Cerdán e o ex-ministro dos Transportes, José Luis Ábalos, são acusados em casos de corrupção.
A Promotoria pede a absolvição de García Ortiz, alegando que ele não cometeu nenhum crime. Enquanto isso, o companheiro de Ayuso pede uma pena de quatro anos de prisão para o procurador-geral e 300.000 euros em indenização por danos morais.
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