Intervenção dos EUA na Venezuela, cúpula Trump-Xi e investimento nuclear
Bem-vindo à nossa revista de imprensa sobre os acontecimentos nos Estados Unidos. Toda semana, analisamos como a mídia suíça noticiou e reagiu a três notícias importantes nos EUA – nas áreas da política, finanças e ciência.
A crescente presença militar dos EUA perto da Venezuela e sua série de ataques letais contra supostos barcos de drogas alimentaram os temores de que o presidente dos EUA, Donald Trump, possa tentar derrubar o presidente autoritário Nicolás Maduro, que enfrenta acusações criminais, incluindo por narcoterrorismo, nos EUA. Qual é a opinião da mídia suíça?
Também nesta semana, analisamos a importância da reunião de quinta-feira entre Trump e o presidente chinês Xi Jinping e por que os EUA estão investindo cerca de US$ 80 bilhões em novos reatores nucleares.
Donald Trump prometeu manter os EUA fora das questões internacionais. O envio de tropas para o Caribe e o Pacífico conta outra história, afirma o jornal Neue Zürcher Zeitung (NZZ).
A luta do governo dos EUA contra os cartéis de drogas na América Latina atingiu um novo nível de escalada, informou a televisão pública suíça SRF na sexta-feira (24). O envio do maior porta-aviões do mundo para as águas latino-americanas é a demonstração mais clara de poder na América Latina até o momento e vai muito além de todas as missões anteriores contra o tráfico de drogas, afirmou.
“Quem acreditou em Trump quando ele prometeu durante a campanha eleitoral manter os soldados americanos fora de conflitos estrangeiros está esfregando os olhos”, escreveu o NZZ em um editorial na quarta-feira. “O pretexto continua sendo a luta contra o tráfico de drogas da Venezuela e da Colômbia. No entanto, o envio parece exagerado para esse fim”.
Será que a verdadeira razão é uma mudança de regime na Venezuela? O presidente Nicolás Maduro tem alegado repetidamente que os EUA esperam afastá-lo do poder.
“O que Trump está realmente planejando?”, questionou o Blick na terça-feira. “Para os apoiadores de Trump, essa operação se encaixa perfeitamente em um cenário político bem planejado. Aos olhos deles, a queda de Maduro tornaria possível conter a migração, garantir os interesses petrolíferos dos Estados Unidos e consolidar Donald Trump como um líder carismático.”
Mas a política dura de Trump é um jogo perigoso, alertou o Blick. “A aposta de Trump pode, na verdade, sair pela culatra: um ataque americano, percebido como brutal e injustificado, poderia fortalecer a posição de Maduro, unindo a população venezuelana contra um inimigo externo.”
O NZZ disse que era “óbvio” que Trump continuava a ter Maduro na mira – “desta vez não como um inimigo da democracia, mas como um criminoso do tráfico de drogas” –, mas o envio de tropas para a Venezuela também era uma demonstração de poder para o mundo inteiro. A mensagem, concluiu o NZZ, é “se os EUA quiserem, eles moverão suas tropas e intervirão, não importa onde”. Afinal, o policial do mundo não vai desaparecer completamente”.
- ReportagemLink externo – SRF (em alemão)
- Trump mostra sua face intervencionistaLink externo – editorial NZZ (em alemão)
- O que está por trás da ofensiva de Trump na VenezuelaLink externo – Blick (em francês)
- A única guerra que Trump quer travar é a guerra pelo petróleLink externo – Blick (em francês)
O presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente chinês, Xi Jinping, devem se encontrar na Coreia do Sul na quinta-feira. Mas o que Trump apresentará como um sucesso é, na verdade, uma capitulação, escreve o Tages-Anzeiger, de Zurique.
Comerciantes e investidores de ambos os lados do Pacífico esperam que o encontro amplamente antecipado amenize meses de tensões comerciais. De fato, como observou o Tages-Anzeiger na terça-feira, ambos os lados já anunciaram concessões iniciais: novas tarifas dos EUA serão suspensas; a China pretende retomar a compra de soja; e a venda do negócio americano TikTok também parece estar progredindo. “Mas não há uma verdadeira redução da tensão à vista. Trata-se mais de uma trégua – uma trégua sob a qual ambos os lados estão se reorganizando”, afirmou o jornal.
“Donald Trump apresentará qualquer acordo, por mais vago que seja, como uma vitória. Mas o que provavelmente será revertido são principalmente as medidas que Pequim impôs em resposta às tarifas. O presidente dos EUA calculou mal. Ele aparentemente acreditava que poderia colocar a China de joelhos devido aos seus problemas internos, como a crise imobiliária em curso e a fraca demanda interna.”
Ao fazer isso, os americanos superestimaram seu próprio poder, continuou o Tages-Anzeiger. “As tarifas de Trump estão prejudicando a China, mas também seu próprio país. Elas são mal concebidas, afastam parceiros e enfraquecem aliados como a União Europeia na competição com a China.”
Por sua vez, o Neue Zürcher Zeitung (NZZ) não aposta em uma distensão duradoura. Ele afirmou que, ao suspender novas tarifas, Trump e Xi terão evitado o pior: uma nova escalada da disputa comercial – “nada mais e nada menos”. “A trégua que provavelmente será alcançada [na Coreia do Sul] continuaria, portanto, frágil”, afirmou.
“É um pouco como a Guerra Fria entre os EUA e a União Soviética: Xi tem os elementos de terras raras de que as indústrias de defesa e automóvel americanas precisam desesperadamente, enquanto os EUA têm as soluções e tecnologias de que a China precisa para modernizar a sua economia. Cada lado pode abrir ou fechar a torneira a qualquer momento. Esse equilíbrio, tal como na Guerra Fria, pode impedir uma escalada – um equilíbrio do terror”.
- Os EUA calcularam mal na disputa tarifáriaLink externo – Tages-Anzeiger (em alemão)
- IO caos alfandegário chegou ao fim? A viagem de Trump à Ásia dá esperança aos investidoresLink externo – NZZ (em alemão)
Washington investirá pelo menos US$ 80 bilhões (CHF 64 bilhões) em novos reatores nucleares por meio de uma parceria com o grupo americano Westinghouse.
Este é um passo fundamental para o renascimento da energia nuclear americana, impulsionado pela crescente demanda por eletricidade por parte das gigantes da tecnologia e da inteligência artificial (IA), informou a emissora pública suíça RTS na terça-feira.
O acordo é uma extensão de uma ordem executiva emitida pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no final de maio, intitulada “Revitalizando a Indústria Nuclear”, na qual Trump estabeleceu uma meta de dez reatores convencionais em construção até 2030.
“Esta parceria concretiza a visão ousada do presidente Trump – reconstruir nossa soberania energética, criar empregos com altos salários e levar os Estados Unidos à vanguarda do renascimento nuclear”, disse o secretário de Comércio, Howard Lutnick.
Os EUA não constroem uma usina nuclear desde 2009. Os dois últimos reatores comissionados nos EUA custaram mais de US$ 30 bilhões, mais do que o dobro dos US$ 14 bilhões originalmente planejados. Mas a invasão da Ucrânia pela Rússia perturbou o equilíbrio do mercado de energia, levando os governos a diversificar seus suprimentos.
A isso se somou a aceleração do consumo de eletricidade nos EUA, resultado do aumento dos centros de dados com a revolução na computação em nuvem remota e na inteligência artificial.
- Donald Trump destina US$ 80 bilhões para novos reatores nucleares para fins de inteligência artificialLink externo – RTS (em francês)
A próxima edição da newsletter “Notícias dos EUA na imprensa suíça” será publicada na quarta-feira, 5 de novembro. Até a próxima semana!
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Adaptação: Fernando Hirschy
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