
Sobre a mesa da COP30: menos emissões, mais florestas e dinheiro

A conferência climática da ONU que vai acontecer em novembro, em Belém, será a primeira na Amazônia, e vai marcar uma década do Acordo de Paris. Mas, além do seu simbolismo, o que estará em pauta?
As negociações maratônicas reúnem quase todos os países do mundo para enfrentar o aquecimento global, mas, ao contrário de edições recentes, a COP30 não tem um tema ou objetivo específico, o que não significa que os grandes poluidores vão escapar da pressão das nações mais vulneráveis ao clima, decepcionadas com o nível de ambição e ajuda financeira prometida.
Seguem abaixo as principais questões que estarão sobre a mesa:
– Emissões –
O mundo não está reduzindo as emissões com rapidez suficiente para limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C em relação à era pré-industrial, como estabelece o Acordo de Paris. A maioria dos cientistas estima que esse teto será alcançado em poucos anos se não houver uma mudança de rumo radical.
Os países que assinaram o acordo são obrigados, a cada cinco anos, a apresentar metas mais ambiciosas para a redução das suas emissões de gases do efeito estufa, e a última rodada de compromissos para 2035 deveria ter sido entregue em fevereiro.
O Brasil foi um dos primeiros a dar o exemplo, mas a maioria dos países descumpriu esse prazo. No começo de outubro, cerca de 60 países haviam apresentado seus planos revisados, sendo que poucos deles impressionaram. A meta da China, em particular, ficou muito aquém das expectativas.
A União Europeia ainda não definiu sua nova meta, tampouco a Índia, outro grande emissor. Já os Estados Unidos saíram do Acordo de Paris. Na COP30, no entanto, poderiam ser incluídos os compromissos dos países mais atrasados.
– Dinheiro –
O dinheiro será novamente um ponto de discórdia em Belém, mais especificamente quanto os países ricos oferecem aos mais pobres para se adaptar às mudanças climáticas e fazer a transição para um futuro com baixas emissões de carbono.
No ano passado, após 15 dias negociações, a COP29 terminou com um compromisso dos países desenvolvidos de oferecer US$ 300 bilhões (R$ 1,6 trilhão) anuais aos países em desenvolvimento até 2035, muito abaixo do valor necessário. Também estabeleceram uma meta, menos específica, de obter US$ 1,3 trilhão (R$ 7 trilhões) anual até 2035, de fontes públicas e privadas. As nações em desenvolvimento vão exigir detalhes concretos na COP30.
O financiamento para a adaptação – para construir, por exemplo, defesas costeiras que protejam contra o aumento do nível do mar – consta da pauta, e é possível que seja discutida uma nova meta financeira.
– Florestas –
O Brasil escolheu sediar a COP30 em Belém devido à localização da cidade, na Amazônia, um cenário ideal para chamar a atenção do mundo para o papel da floresta tropical no combate às mudanças climáticas.
O país lançará na COP30 um fundo mundial inovador, que propõe recompensar os países com alta cobertura florestal tropical que mantiverem as árvores de pé. O Fundo Tropical das Florestas (TFFF) tem como objetivo arrecadar até US$ 25 bilhões (R$ 136,5 bilhões) de países doadores e outros US$ 100 bilhões (R$ 546 bilhões) do setor privado. O Brasil já anunciou um aporte de US$ 1 bilhão (R$ 5,5 bilhões).
Clément Helary, do Greenpeace, disse à AFP que o TFFF “poderia ser um passo para proteger as florestas tropicais”, se acompanhado de medidas mais claras na COP30 para acabar com o desmatamento até 2030.
A destruição das florestas tropicais nativas atingiu um recorde histórico em 2024, segundo o Global Forest Watch, órgão que monitora o desmatamento. Perdeu-se o equivalente a 18 campos de futebol por minuto, devido, principalmente, a incêndios devastadores.
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