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UE defende acordo comercial com EUA em meio a reações mistas

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A União Europeia defendeu, nesta segunda-feira (28), o acordo firmado com os Estados Unidos para evitar uma guerra comercial, em meio a reações que variaram de receptivas àquelas que a consideraram uma rendição a Washington. 

Após várias semanas de negociações acirradas, o presidente dos EUA, Donald Trump, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, firmaram um acordo no domingo que eliminou a possibilidade de um conflito comercial em larga escala. 

O principal negociador da UE, o comissário europeu para o Comércio, Maros Sefcovic, afirmou nesta segunda-feira que estava “100% certo de que este acordo é melhor do que uma guerra comercial com os Estados Unidos”. 

No entanto, nem todos no bloco europeu ficaram satisfeitos com o que se sabia sobre o acordo, que inclui uma tarifa de 15% sobre os produtos europeus exportados para o mercado americano. 

Essa tarifa de 15% está no meio do caminho entre a eliminação das tarifas que a UE havia proposto e a tarifa de 30% que Trump havia ameaçado aplicar.

Além dos 15%, a UE se comprometeu a comprar cerca de 750 bilhões de dólares (R$ 4,1 trilhões na cotação atual) em energia e a fazer investimentos adicionais de outros 600 bilhões de dólares (R$ 3,3 trilhões).

Vários detalhes técnicos do acordo ainda precisam ser definidos, e a Comissão Europeia ainda precisa apresentar o plano aos países do bloco, um processo que levará vários dias.

Para o alemão Bernd Lange, presidente do Comitê de Comércio do Parlamento Europeu, o acordo deixa “uma assimetria gravada no mármore”. 

“Os defensores do acordo (…) dirão que o pior foi evitado, que o acordo cria estabilidade para a maior relação comercial do mundo (…). Espero firmemente que estejam certos”, apontou em um comunicado.

– Reações divergentes –

Nas capitais europeias, no entanto, as reações não foram unânimes. 

O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, expressou seu “apoio” ao acordo, mas destacou que o fazia “sem entusiasmo”. 

A Federação Espanhola de Indústrias de Alimentação e Bebidas (FIAB) indicou em uma nota que “é melhor um acordo do que uma guerra comercial aberta, mas não nos conformamos que as exportações de nossos produtos para os Estados Unidos sejam penalizadas com uma tarifa de 15%”

Para o primeiro-ministro francês, François Bayrou, a UE “submeteu-se” aos Estados Unidos com este acordo. Na sua opinião, foi “um dia sombrio” para a Europa, que “se resigna à submissão”. 

Em contrapartida, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, saudou o acordo. “Uma escalada comercial entre a Europa e os Estados Unidos teria consequências imprevisíveis e potencialmente devastadoras”, comentou. 

Para o chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, o acordo “evita uma escalada inútil” nas tarifas comerciais.

– “Rendição” –

O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, afirmou que o acordo alcançado pela UE foi “pior” do que o alcançado pelo Reino Unido. 

“Não foi Trump quem fez um acordo com Ursula von der Leyen, mas sim Trump jantou Ursula von der Leyen”, declarou o líder húngaro ultraconservador. 

O influente setor automotivo europeu, que enfrenta uma crise e seria severamente atingido por uma guerra comercial, enfatizou que o acordo representa uma desescalada bem-vinda. 

A indústria química alemã, por outro lado, lamentou que as tarifas acordadas ainda sejam “muito altas”. 

Enquanto isso, o principal núcleo empresarial da França observou que o acordo “ilustra a dificuldade que a UE ainda tem em afirmar o poder de sua economia e a importância de seu mercado interno”. 

Para o analista Alberto Rizzi, do think tank Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR), o acordo “parece um pouco com uma rendição”. 

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, estimou que o pacto representa um “golpe muito duro” para a indústria europeia. 

“Essa abordagem levará a uma maior desindustrialização da Europa, a um fluxo de investimentos da Europa para os Estados Unidos e, claro, será um golpe muito duro”, disse ele.

A Bolsa de Nova York abriu suas operações nesta segunda-feira com uma leve alta, expressão do alívio do mercado diante do acordo comercial.

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