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Uruguai, a um passo de legalizar a eutanásia

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Após duas décadas sofrendo de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), Beatriz Gelós está confiante de que o Senado uruguaio colocará fim a anos de idas e vindas parlamentares nesta quarta-feira (15) para transformar em lei um projeto sobre eutanásia que enfrenta resistência. 

Apelidada de “Morte Digna” e promovida pela Frente Ampla (a esquerda governante), a iniciativa descriminaliza a morte assistida sob certas condições. A Câmara dos Deputados a aprovou preliminarmente em agosto e, no Senado, a Frente Ampla tem a maioria necessária para transformá-la em lei. 

“Me daria uma paz incrível se fosse aprovada. É uma lei compassiva, muito humana, muito bem escrita”, disse Gelós à AFP dias antes da votação. 

Se seu desejo for atendido, o Uruguai se juntará a um pequeno grupo de países que permitem o procedimento, que inclui Canadá, Países Baixos, Nova Zelândia e Espanha.

Na América Latina, a Colômbia descriminalizou a eutanásia em 1997 e o Equador aderiu no ano passado. 

Ser maior de idade, ser cidadão ou residente e estar mentalmente apto em fase terminal de uma doença incurável ou que cause sofrimento insuportável, com grave deterioração da qualidade de vida, são alguns dos requisitos. 

O paciente também deve passar por várias etapas antes de deixar seus desejos por escrito e na presença de testemunhas.

– “Chegou a hora” –

Gelós, de 71 anos, convive com a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) desde os 52, uma doença neurodegenerativa que causa paralisia muscular progressiva até levar à morte. 

Em uma cadeira de rodas e com a voz embargada, ela está confiante de que “chegou a hora” de encerrar o debate. 

E para aqueles que se opõem à eutanásia, ela diz: “Vocês não têm ideia de como é viver assim”. 

Amante da leitura, fiel ao seu passado como professora e avó de duas crianças pequenas, ela quer “ter a opção” de dizer chega. 

Para a ativista Florencia Salgueiro, do grupo Empathy, a chave para a regulamentação é o respeito ao desejo do adulto de acabar com seu sofrimento. 

Florencia testemunhou a luta de seu pai para receber assistência para acabar com a própria vida quando a ELA tornou seus dias insuportáveis. 

Pablo Salgueiro morreu aos 57 anos sem realizar seu desejo.

– Projeto com garantias? –

Os defensores do projeto de lei afirmam que sua redação oferece garantias e representa a história de um país acostumado a aprovar leis liberais, como a regulamentação do mercado da cannabis, o casamento homoafetivo e o aborto. 

Segundo uma pesquisa apresentada em maio pela consultoria Cifra, 62% dos uruguaios são favoráveis à legalização da eutanásia e apenas 24% se opõem ao projeto.

A Igreja Católica expressou “tristeza” com a votação positiva na Câmara dos Deputados. A resistência ao projeto de lei se estendeu para além dos círculos religiosos. Mais de uma dúzia de organizações e dezenas de indivíduos rejeitaram o projeto por considerá-lo “deficiente e perigoso”. 

“As pessoas mais vulneráveis estão sendo deixadas desprotegidas”, disse Marcela Pérez Pascual, uma das signatárias da carta, à AFP. 

gfe/mar/db/aa

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