
Bonecas renascidas saem da terapia e viram febre no Brasil

Bonecas hiper-realistas conhecidas como “renascidas” viraram febre nas metrópoles brasileiras. Adotados se opõe a planos do governo suíço de proibir a adoção no exterior. Estes e outros temas foram destaque na imprensa suíça nesta semana.
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De 14 a 20 de junho de 2025, vasculhamos a imprensa suíça para dar uma visão geral das notícias mais importantes relacionadas ao Brasil, Portugal ou África lusófona.

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Brasileira se opõe à proibição de adoções estrangeiras
O Zofinger Tagblatt e diversos outros veículos suíços publicaram recentemente a história de Lara Jornod, uma brasileira adotada por um casal suíço ainda bebê, como parte da cobertura sobre a polêmica proposta do governo suíço de proibir adoções internacionais.
Lara, hoje com 27 anos e vivendo em Berna, foi adotada no Brasil aos 18 meses. Ela afirma que enxerga a adoção como um “golpe de sorte” e se opõe à proposta do Conselho Federal, que quer banir esse tipo de adoção após revelações de irregularidades graves em processos passados. O governo argumenta que a proibição é a única forma de proteger as crianças e evitar abusos.
No entanto, a proposta tem encontrado resistência, tanto no Parlamento, que deve rejeitá-la, quanto entre pessoas diretamente afetadas, como Lara e seus pais adotivos. Para eles, uma reforma do sistema seria mais sensata do que uma proibição total. “A adoção pode mudar vidas”, afirma Lara, que ainda considera a possibilidade de um dia adotar uma criança.
O caso de Lara Jornod, divulgado amplamente pela imprensa helvética, ilustra o impacto pessoal que a proibição pode ter, ao mesmo tempo em que levanta o debate sobre como garantir processos éticos sem eliminar oportunidades de famílias e crianças em busca de um futuro melhor.
Fonte: Zofingertagblatt.chLink externo, 19.06.2025 (em alemão)
Esquerda da América do Sul treme
O semanário conservador suíço Weltwoche publicou um artigo contundente sobre a prisão da ex-presidente argentina Cristina Kirchner, destacando seu impacto simbólico no declínio da esquerda latino-americana.
Kirchner teve sua condenação a seis anos de prisão por corrupção confirmada pela mais alta corte da Argentina, devido ao desvio de cerca de um bilhão de dólares por meio de contratos públicos superfaturados entre 2009 e 2017. O artigo afirma que a decisão marca o fim de uma era iniciada com Hugo Chávez, que impulsionou uma rede de governos de esquerda no continente — incluindo nomes como Lula, Evo Morales, Rafael Correa, Dilma Rousseff e os próprios Kirchner.
Para o Weltwoche, esse modelo político ruiu: Venezuela afundada na miséria, Morales foragido, Castillo preso, e Lula, embora de volta ao poder, descrito como um sobrevivente de um sistema judicial falho. A publicação elogia a gestão do presidente argentino Javier Milei, que estaria “limpando” os legados do kirchnerismo com uma “motosserra”, numa referência ao seu estilo radical de reformas econômicas e cortes de gastos.

O texto também critica a reação de líderes como Lula, Maduro e Petro, que classificaram a prisão de Kirchner como perseguição política. Para o semanário, essas acusações são vazias, pois o processo judicial começou anos antes do governo Milei e seguiu seu curso legal.
Concluindo, o Weltwoche apresenta a queda de Cristina Kirchner como um marco no colapso da esquerda populista sul-americana, abrindo espaço para novos rumos políticos na região.
Fonte: Weltwoche.chLink externo, 19.06.2025 (em alemão)
Suíça: ainda o país mais rico do mundo
O portal Watson e diversos outros veículos suíços destacaram que, segundo o UBS Global Wealth Report 2025Link externo, a Suíça continua sendo o país mais rico do mundo. Cada adulto suíço possui, em média, cerca de 687 mil dólares em patrimônio, superando até mesmo os Estados Unidos, que aparecem em segundo lugar. Esse cálculo inclui ativos financeiros e propriedades, descontadas as dívidas.
Apesar da média elevada, a distribuição de riqueza dentro da Suíça ainda é desigual: metade da população possui menos de 182.250 francos. Ainda assim, houve um crescimento de mais de 8% na riqueza média das famílias suíças em 2024. O relatório aponta que a desigualdade de riqueza é ainda mais acentuada em países como Brasil, Rússia e África do Sul, com o Brasil liderando esse ranking negativo.
A Suíça também se destaca pelo número de milionários em dólares: mais de 1,1 milhão, o que representa mais de um oitavo da população. Quando ajustado por número de habitantes, o país lidera com folga o ranking global. Enquanto isso, os Estados Unidos concentram a maioria absoluta dos milionários do mundo, seguidos por China e França.
Fonte: Watson.chLink externo, 18.06.2025 (em alemão)
Brasil leiloa áreas de produção de petróleo
O jornal Basler Zeitung publicou um artigo crítico destacando que o Brasil continua desconsiderando preocupações ecológicas, mesmo sob forte pressão de ambientalistas. Na última terça-feira, o governo brasileiro leiloou áreas para exploração de petróleo em regiões ambientalmente sensíveis, como a foz do Amazonas e partes do interior da floresta amazônica.
Apesar dos protestos de ativistas e da ameaça de ações judiciais, 19 blocos offshore foram arrematados por grandes petroleiras, como Chevron, ExxonMobil, Petrobras e a chinesa CNPC. As empresas veem alto potencial na região, geologicamente similar à Guiana. No entanto, o desenvolvimento é considerado arriscado devido às condições ambientais e à proximidade com áreas indígenas e ecossistemas frágeis.
O IBAMA, sob pressão do presidente Lula, aprovou um plano de emergência que abriu caminho para a exploração, o que foi classificado por organizações ambientais como uma decisão irresponsável. A ONG Arayara anunciou novas medidas legais para tentar barrar os projetos. Mesmo com baixa adesão (apenas 34 dos 172 blocos foram arrematados), o leilão arrecadou um recorde de 180 milhões de dólares em bônus de assinatura, evidenciando a prioridade econômica sobre a proteção ambiental.
Fonte: Bazonline.chLink externo, 18.06.2025 (em alemão)
Plano sujo para os condenados da Nescafé
O jornal francófono Le Courrier publicou um artigo revelador sobre uma investigação conduzida pelas ONGs Public Eye (Suíça) e Repórter Brasil, que documenta casos de escravidão moderna em plantações de café no Brasil, incluindo uma fornecedora da multinacional suíça Nestlé. O caso principal ocorreu na fazenda Mata Verde, no Espírito Santo, onde trabalhadores foram submetidos a condições degradantes, sem contratos formais, com jornadas exaustivas e pagamento inferior ao salário mínimo, além de sofrerem servidão por dívida.
A investigação expôs a contradição entre a realidade no campo e os selos de sustentabilidade promovidos por empresas como a Nestlé, que afirma manter uma política de “tolerância zero” à escravidão. No entanto, a ONG aponta que outras fazendas certificadas e ligadas à empresa já haviam sido denunciadas por práticas semelhantes, e que a Nestlé só cortou relações com a Mata Verde após a repercussão midiática da operação policial que resgatou trabalhadores do local.

Para a Public Eye, o caso revela o fracasso sistêmico das grandes multinacionais em garantir condições dignas na cadeia de fornecimento do café. A ONG cobra que empresas como a Nestlé assumam responsabilidade concreta, paguem preços justos e melhorem os controles para evitar abusos. O artigo também destaca que o trabalho escravo no Brasil está profundamente ligado à desigualdade histórica e à concentração de terras, sendo combatido por movimentos sociais que defendem uma reforma agrária como caminho para uma produção mais justa e autônoma.
Fonte: Lecourrier.chLink externo, 13.06.2025 (em francês)
Apagão na Espanha não foi ataque cibernético
O respeitado jornal suíço NZZ, em reportagem assinada pela correspondente Ute Müller, revelou o que provocou o misterioso apagão de energia que afetou Portugal e Espanha no final de abril. Após cinquenta dias de investigação, o governo espanhol concluiu que o blecaute foi causado por uma sobretensão na rede elétrica, agravada por erros de planejamento da operadora Red Eléctrica (REE) e decisões precipitadas de fornecedores privados, que desligaram suas usinas para evitar danos — o que acabou gerando uma reação em cadeia. Em apenas 12 segundos, mais de 55 milhões de pessoas ficaram sem eletricidade por até oito horas.
O relatório governamental destacou que a infraestrutura da rede elétrica está defasada e precisa ser modernizada para lidar com a crescente participação de energias renováveis, como solar e eólica. Especialistas já alertavam que a rede foi originalmente projetada para fontes convencionais de energia e carece de sistemas de armazenamento adequados. O episódio reacendeu o debate político sobre a extensão da vida útil das usinas nucleares na Espanha, com a oposição responsabilizando a geração renovável pela instabilidade.
Além dos prejuízos econômicos e logísticos, o apagão pode ter causado impactos graves na saúde pública: um estudo do Instituto Carlos III estimou um aumento de 8% na mortalidade na Espanha nos dois dias seguintes, o que representa cerca de cem mortes adicionais. O governo evitou citar diretamente os nomes das empresas responsáveis, como Endesa, Iberdrola e Naturgy, provavelmente para evitar consequências judiciais.
Fonte: NZZLink externo, 18.06.2025 (em alemão)
Pictet engole pílula amarga
Vários veículos suíços, como Blick, Cash e Finews, divulgaram a condenação de um ex-funcionário do Banque Pictet e do próprio banco, no contexto das investigações da Operação Lava Jato, o maior escândalo de corrupção da história do Brasil. A Procuradoria Geral da Suíça concluiu que o banco não adotou medidas organizacionais suficientes para impedir atividades ilegais, o que permitiu a movimentação de subornos ligados à Petrobras.
O ex-gerente de ativos, que era responsável pelo mercado brasileiro no departamento de Wealth Management do banco, foi considerado culpado por lavagem de dinheiro grave e condenado a seis meses de prisão condicional, com dois anos de liberdade condicional. A investigação mostrou que mais de 4,1 milhões de dólares em subornos foram movimentados entre 2010 e 2013 por meio de contas mantidas no Banque Pictet.
O banco, por sua vez, foi condenado a pagar uma multa de dois milhões de francos suíços por falhas na sua estrutura de controle e organização, o que facilitou o crime. A Procuradoria destacou que o esquema foi possível devido à ausência de medidas eficazes para detectar e prevenir a lavagem de dinheiro.
A sentença, agora definitiva, considerou o tempo decorrido desde os crimes e a boa colaboração do banco nas investigações, incluindo medidas corretivas internas adotadas após a revelação do caso Petrobras. Tanto o ex-funcionário quanto o banco aceitaram as penalidades impostas e renunciaram a recorrer, encerrando o processo judicial.
Fonte: finews.chLink externo, cash.chLink externo, blick.chLink externo, 17.06.2025 (em alemão)
A febre das bonecas renascidas
O jornal dominical NZZ am Sonntag, em artigo assinado pelo correspondente Alexander Busch, um alemão radicado há décadas no Brasil, publicou uma reportagem curiosa sobre a crescente moda das bonecas “renascidas” no país. Esses bebês hiper-realistas, inicialmente usados como terapia para mães em luto, viraram uma febre nas metrópoles brasileiras e estão até motivando projetos de lei, como o inusitado “Dia da Cegonha Renascida”, proposto no Rio de Janeiro e posteriormente vetado pelo prefeito Eduardo Paes.
Segundo Busch, o Brasil adotou essa tendência com um fervor incomum. Influenciadoras como Andrea Janaína, de São Paulo, ganharam milhões de seguidores ao compartilhar rotinas diárias com seus “bebês” de silicone em redes como o TikTok. Esses conteúdos se transformaram em uma espécie de RPG maternal, com “mães renascidas” organizando encontros públicos com carrinhos de boneca e até gerando cobertura da imprensa.
O fenômeno também tem gerado situações surreais: de pessoas tentando vacinar bonecas em postos de saúde a pedidos de licença-maternidade por parte de funcionárias que tratam os bonecos como filhos. Até padres e juízes já se viram envolvidos em disputas sobre batismos e direitos trabalhistas relacionados às bonecas.
Apesar da viralização do tema, especialistas e comerciantes apontam que o fenômeno pode estar sendo exagerado pela mídia. Alana Generoso, dona de uma loja especializada, disse ao jornal Folha de S.Paulo que, na prática, a maioria dos clientes ainda são crianças, e não adultos em busca de vínculos emocionais com bonecos.
Fonte: NZZ am SonntagLink externo, 15.06.2025 (em alemão)
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Publicaremos nossa próxima revista da imprensa suíça em 27 de junho. Enquanto isso, tenha um bom fim de semana e boa leitura!
Até a próxima semana!

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