“O ápice da engenharia suíça”: o bondinho mais íngreme do mundo

Um trecho do bondinho Schilthornbahn, inaugurado recentemente na Suíça, é o mais recente exemplo da extraordinária engenharia que está conquistando os Alpes suíços.
Eu tinha um vizinho no andar de cima que, inclinando-se para fora da varanda, descia um balde amarrado numa corda até seu gato, que esperava pacientemente embaixo. O gato então entrava no balde e era puxado para cima. Pensei nesse vizinho – e no gato – quando li sobre o bondinho mais íngreme do mundo, localizado no cantão de Berna.
Em 13 de dezembro, foi inaugurado o trecho mais baixo do projeto Schilthornbahn 20XXLink externo, que custou CHF 100 milhões. O trecho transporta passageiros entre os vilarejos de Stechelberg e Mürren, alcançando uma inclinação de até 159,4%.
“É absolutamente fantástico o que os trabalhadores e trabalhadoras conseguiram fazer aqui! Fenomenal!”, disse @cobra1010 em resposta a este vídeo da empresa de construçãoLink externo. “É preciso muita inteligência, habilidade e dedicação para realizar um projeto desse! É o ápice da engenharia suíça!”
Mas o que significa uma inclinação de 159,4%? Bem, não é exatamente um balde subindo na vertical, mas é íngreme: para cada metro percorrido horizontalmente, você percorre quase 1,6 metro verticalmente (em graus, isso é quase 58°). A Stoosbahn, no cantão de Schwyz, a ferrovia funicular mais íngreme do mundo, atinge uma inclinação de 110% (47°).

O bondinho entre Stechelberg e Mürren percorre sete metros por segundo, subindo 775 metros em quatro minutos – cuidado com a dor de ouvido!
Como o terreno é muito íngreme, cada uma das duas cabines é suspensa por um braço de 11 metros. Tudo é automático – não há funcionários a bordo – mas as câmeras e os sensores estão sempre funcionando. Cada cabine acomoda até 85 pessoas, podendo transportar até 800 pessoas por hora quando estiver funcionando em plena capacidade.
“Tenho muito orgulho de ter participado desse projeto impressionante – mesmo tendo que trabalhar em alturas vertiginosas!”, disse @Saw4825.

Embora o bondinho Schilthornbahn ainda não seja reconhecido pelo Guinness World Records, muitas outras façanhas da engenharia suíça já tiveram esse reconhecimento:

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Funcionalidade e estética
Conheço bem essa área, já que passei muito tempo no vilarejo de Mürren, um glorioso refúgio sem carros, situado à beira de um penhasco, parte do deslumbrante vale de Lauterbrunnen. Naquela época, se você quisesse ir de Stechelberg (no fundo do vale) até o Schilthorn (o topo da montanha), era necessário dividir o trajeto em quatro trechos: de Stechelberg para Gimmelwald, de Gimmelwald para Mürren, de Mürren para Birg e, finalmente, de Birg para o Schilthorn. A subida completa nos horários de pico podia levar quase uma hora.
Agora, o primeiro trecho do novo bondinho vai diretamente de Stechelberg para Mürren (o antigo bondinho ainda para em Gimmelwald). De acordo com a Schilthornbahn AG, o tempo total de viagem do vilarejo de Stechelberg, no fundo do vale, até o Schilthorn foi reduzido de 32 minutos para 22 minutos. As conexões otimizadas permitem que, mesmo nos horários de pico, a viagem não demore mais de 30 minutos.
Nesse vídeo, os arquitetos das novas estações no Schilthorn explicam como combinaram funcionalidade e estética, incorporando os bondinhos à paisagem da montanha e preservando essa forma de transporte de montanha, que é considerado um bem culturalLink externo:
O mais baixo dos três trechos, aquele que conecta Stechelberg a Mürren, foi inaugurado em 13 de dezembro, assim como um dos dois bondinhos da FuniforLink externo que cobrem o trecho intermediário entre Mürren e Birg (o segundo deve ser inaugurado em 28 de novembro). Por enquanto, o mais alto que se consegue chegar é até Birg. O Schilthorn em si está inacessível até 15 de março, quando o primeiro dos dois bondinhos da Funifor que ligam o pico de Birg ao Schilthorn será inaugurado. O segundo bondinho desse trecho – e o projeto como um todo – está previsto para ser concluído no primeiro semestre de 2026.
Altos e baixos
O Schilthorn e seu restaurante giratório, o Piz Gloria, já são conhecidos em todo o mundo graças à sua aparição no filme de James Bond A Serviço Secreto de Sua Majestade, de 1969. O bondinho mais íngreme do mundo provavelmente atrairá ainda mais visitantes – a notícia foi veiculada por meios de comunicação de todo o mundo, do BrasilLink externo à ÍndiaLink externo.

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Embora transportar 800 pessoas por hora para o topo da montanha possa ser bom para a economia, o espectro do turismo excessivo ameaça o meio ambiente e as comunidades locais com problemas como trânsito, inflação, poluição e lixo.
Os moradores locais estão divididos: é difícil conviver com o afluxo constante de turistas, esquiadores, alpinistas e esportistas de todo o tipo. Mas seria impossível viver sem eles. Mürren, por exemplo, tem cerca de 400 moradores, ao mesmo tempo que oferta 2.000 camas de hotel.
“O novo teleférico para o Schilthorn é uma proeza técnica realmente fascinante”, admitiu o leitor Donat Greutmann, em resposta a um artigo sobre o projeto no jornal Berner OberländerLink externo. Mas ele também tem suas preocupações. “Como Lauterbrunnen e toda a região de Jungfrau vão lidar com o crescente fluxo de turistas nas montanhas e no vale? O turismo em massa está aumentando em Lauterbrunnen, ao ponto de já estar indo contra todo bom senso. Com a construção do novo teleférico, todos os encantos desse vilarejo tão bonito estão sendo pressionados a um nível cada vez mais insuportável”.
“Estamos desesperados. Os moradores simplesmente não têm mais lugar em Lauterbrunnen”, disse um morador à emissora pública suíça, SRF, em 2023. Lauterbrunnen está agora considerando a possibilidade de cobrar taxas de entrada para turistas, nos moldes da cidade italiana de Veneza.

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“Nós nos sentimos como funcionários de um parque de diversões”
Embora a Switzerland Tourism fale de “gargalos locais e temporários” em vez de turismo em massa, seu diretor disse em julho que levava “essas situações locais muito a sério”. Em uma tentativa de melhorar a situação, a Switzerland Tourism está trabalhando com operadoras de turismo para promover a Suíça na baixa temporada, particularmente os locais fora da rota turística mais conhecida.
Quanto ao teleférico mais íngreme do mundo, a partir de 15 de março, os visitantes poderão desfrutar das vistas deslumbrantes do topo do Schilthorn 365 dias por ano.
(Adaptação: Clarice Dominguez)
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