Passam de 100 os mortos após chuvas na Grande Recife
O número de mortos após chuvas torrenciais nos últimos dias no nordeste do Brasil subiu para 106, informaram as autoridades locais nesta terça-feira (31), continuando as buscas por 14 pessoas desaparecidas.
Na tarde desta terça, três dias depois dos deslizamentos mais críticos provocados pelas chuvas, "os bombeiros encontraram mais seis vítimas", informou em nota a Secretaria de Defesa Social do governo do estado de Pernambuco.
"Com isso, o número de óbitos registrados no estado desde a última quarta-feira subiu para 106" e há oito desaparecidos "identificados", acrescentou o governo, cujo boletim anterior registrava uma centena de mortos.
Com a ajuda de "cães de busca e aeronaves", mais de 400 bombeiros e militares continuavam buscando os últimos desaparecidos sob a lama que arrasou bairros inteiros na região metropolitana da capital, Recife.
A descoberta dos novos corpos encerrou as buscas na comunidade Jardim Monteverde, uma das mais afetadas, onde mais de 20 pessoas morreram sob uma enxurrada de lama e escombros.
"Foi uma tragédia, perdi muitos amigos", disse à AFP Maria Heronize, uma moradora de 49 anos, segurando as lágrimas.
Pelo menos 24 municípios do estado declararam situação de emergência devido à devastação, que deixou mais de 6.000 pessoas desabrigadas ou deslocadas e causou grandes danos à infraestrutura.
As chuvas começaram em meados da semana passada, mas se intensificaram no fim de semana.
Entre a madrugada de sexta-feira e a manhã de sábado, o volume de água atingiu 70% do esperado para todo o mês de maio em alguns pontos da capital.
- Mudanças climáticas e planejamento deficiente -
O presidente Jair Bolsonaro sobrevoou a região na segunda-feira e lamentou as mortes. Seu governo habilitou um crédito de 1 bilhão de reais para reforçar a assistência humanitária e a reconstrução, de responsabilidade das autoridades locais.
As imagens do Recife evocam o drama vivido em fevereiro em Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro, onde 233 pessoas morreram após chuvas torrenciais e deslizamentos de terra.
Especialistas atribuem esse tipo de tragédia a uma combinação de fortes chuvas - acentuadas pela mudança climática - e a construção de grandes bairros com casas precárias em áreas de risco íngremes.
"As mudanças climáticas podem ser responsáveis pelo aumento das chuvas extremas e violentas, que estão sendo detectadas não só no Brasil, mas em todo o mundo", explicou à AFP o coordenador de pesquisa do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), José Marengo.
"Mas não podem ser culpadas pelos governos que permitem construções em áreas de risco ou que a população pobre não tenha para onde ir e deva construir e viver em áreas vulneráveis", acrescentou o especialista.
O Cemaden calcula que no Brasil 9,5 milhões de pessoas vivem em áreas de risco de deslizamento de terra e inundação, muitas delas em favelas sem estruturas de saneamento básico.