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Avós da Praça de Maio encontram 140º neto roubado na ditadura argentina

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A organização Avós da Praça de Maio, que busca as crianças roubadas durante a ditadura argentina (1976-1983), anunciou nesta segunda-feira a descoberta do 140º neto, e pediu mais apoio do Estado para encontrar cerca de 300 mais.

“Confirmamos, mais uma vez, que nossos netos e netas estão entre nós, e que, graças à perseverança e ao trabalho constante nestes 47 anos de luta, eles continuarão aparecendo”, disse em entrevista coletiva em Buenos Aires a presidente da organização, Estela de Carlotto.

Também estava presente Adriana Metz Romero, 48, irmã mais velha do neto recuperado, que vive na capital argentina. Ambos são filhos do casal Graciela Alicia Romero e Raúl Eugenio Metz, levado de casa em 16 de dezembro de 1976, em Cutral-Có, e que continua desaparecido.

Adriana tinha 1 ano na época dos fatos, e ficou sob os cuidados de vizinhos até ser acolhida por seus avós paternos. Sua mãe tinha 24 anos e estava grávida de cinco meses.

Testemunhas contaram que Graciela foi torturada em dois centros clandestinos de detenção, em Neuquén e em Bahía Blanca, onde ela deu à luz em 17 de abril de 1977. “Agora sei onde meu irmão está”, disse Adriana, que pediu a continuação da “busca coletiva pelos 300” que faltam.

Estela, 94, disse estar feliz com a descoberta, e lamentou a política do presidente argentino, Javier Milei, cujos cortes orçamentários estrangulam financeiramente órgãos como o Banco Nacional de Dados Genéticos (BNDG), cujas amostras de DNA levaram à identificação do novo caso.

A descoberta anterior havia ocorrido em janeiro, e se tratou da filha de uma mulher de 25 anos sequestrada em 1977 em Buenos Aires, quando estava grávida. Ela deu à luz no cativeiro e segue desaparecida.

Em dezembro de 2024, foi divulgada a descoberta do 138º neto, e em setembro, a do 137º.

– Direito à identidade –

A restituição anunciada hoje foi possível graças a uma denúncia anônima, informaram as Avós. “Decidiu-se chamá-lo, para saber se ele concordaria com o teste de DNA. Ele concordou e foi revelado que é meu irmão”, disse Adriana.

Embora os detalhes sejam mantidos em sigilo, Adriana contou que eles tiveram um primeiro contato por videochamada, e que ainda não se encontraram pessoalmente.

“Foi o próprio Estado, por meio do terrorismo de Estado, que facilitou a apropriação dessas crianças, por isso tem que facilitar as buscas”, disse Adriana, ao pedir a proteção do BNDG. “Essas 300 pessoas que resta encontrar fazem parte da nossa sociedade e devem poder exercer seu direito à identidade.”

O BNDG foi criado em 1987, por iniciativa das Avós da Praça de Maio, e funciona como uma autarquia.

Desde que assumiu a Presidência, em dezembro de 2023, Milei tomou várias medidas contra o que chamou de “roubo dos direitos humanos”. Entre outras, ele rebaixou para subsecretaria a Secretaria de Direitos Humanos, e anunciou o corte de 30% de seu pessoal.

Milei também eliminou por decreto a unidade de investigação sobre crianças desaparecidas durante a ditadura, subordinada à Comissão Nacional pelo Direito à Identidade (Conadi).

sa/db/nn/mvv/dd-lb/am

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