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Britânicos celebram fim do ‘príncipe Andrew’, símbolo de escândalo e vergonha

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Os britânicos celebram, nesta sexta-feira (31), a decisão histórica do rei Charles III de retirar o título de príncipe de seu irmão Andrew, embora esta medida possa não ser suficiente para pôr fim à sua queda em desgraça nem às intenções do Parlamento de supervisionar a família real.

“Finalmente!”, estampou o Daily Mirror nesta sexta-feira, enquanto o The Sun ironizou com “Andrew, anteriormente conhecido como príncipe”. A última vez que um príncipe foi destituído de seu título pelo rei foi em 1919, durante o reinado de Jorge V.

“Apoiamos plenamente a decisão tomada ontem pelo Palácio”, disse nesta sexta-feira um porta-voz do governo trabalhista (esquerda) de Keir Starmer, que costuma ficar em silêncio sobre os assuntos relacionados à realeza.

Para o historiador e comentarista real Ed Owens, “este é um momento verdadeiramente histórico”, comparável ao impacto que representou para o país a trágica morte da princesa Diana em 1997 e a abdicação de Eduardo VIII em 1936.

O interminável escândalo derivado dos vínculos entre Andrew e o pedófilo americano Jeffrey Epstein envenena a vida da família real desde 2011, quando a principal denunciante do financista acusou o segundo filho de Elizabeth II de tê-la explorado sexualmente, inclusive duas vezes quando tinha 17 anos.

Acusações que Andrew sempre negou, sem conseguir convencer.

Embora Andrew, de 65 anos, não exercesse nenhuma função oficial desde 2019, as acusações contra ele não param de ressurgir, impulsionadas nos últimos dias pela publicação das memórias póstumas de Virginia Giuffre, nas quais ela detalha suas denúncias com riqueza de detalhes.

Mesmo depois de anunciar, em 17 de outubro, sua renúncia ao título de duque de York, vieram à tona novas revelações constrangedoras, como o fato de que Andrew hospedou em sua casa Jeffrey Epstein, sua cúmplice Ghislaine Maxwell e o ex-produtor de Hollywood Harvey Weinstein — condenado por estupro — para celebrar o aniversário de sua filha mais velha em 2006.

– Decisão tardia? –

Essas revelações tornaram sua presença na família real “insustentável”, analisa Ed Owens. E, apesar dos elogios, muitos consideram que a decisão é tardia.

“Provavelmente deveria ter feito isso há muito tempo. Para ser sincero, não sei quem iria querer continuar sendo associado a ele”, respondeu Luke Whittaker, de 27 anos, entrevistado pela AFP nas ruas de Londres.

Jasmine Grenier, uma estudante de 16 anos, concordou: embora “seja bom que a família real assuma suas responsabilidades e atue”, poderia ter “feito mais”, afirmou.

Uma fonte do Palácio de Buckingham alegou, no entanto, que a medida exigia “assessoria jurídica e constitucional especializada”.

Charles “deve sentir certo alívio após ter seguido o procedimento adequado e mantido contato com sua família”, avaliou nesta sexta-feira na BBC John Dimbleby, historiador e amigo do monarca.

Na prática, Andrew — que continua sendo o oitavo na linha de sucessão ao trono — se instalará na propriedade de Sandringham, no condado de Norfolk, propriedade privada do rei, que o continuará financiando.

Fontes do Palácio de Buckingham indicaram que a mudança ocorreria “o mais breve possível”. No entanto, a imprensa inglesa aponta que ela poderia demorar até o início de 2026.

– “Prestar contas” –

Ao exilar Andrew, o objetivo do rei é fazer esquecer este irmão tão tóxico e tirar a família real do escândalo. Mas muitas perguntas permanecem sem resposta.

Segundo Andrew Lownie, biógrafo do duque caído em desgraça, o ex-príncipe está longe de ter se livrado de seus problemas e pode enfrentar inclusive processos judiciais.

A polícia de Londres investiga uma informação da imprensa segundo a qual Andrew teria pedido ao agente encarregado de sua segurança que buscasse dados sobre Virginia Giuffre para desacreditá-la.

O contexto agora é mais propício “para que examinem esta questão corretamente”, comentou Andrew Lownie em declarações à AFP.

Um grupo antimonarquista chamado Republic também anunciou ter pedido para advogados estudarem a possibilidade de abrir uma investigação.

Além disso, a questão mais ampla do controle do Parlamento sobre a família real, surgida nos últimos dias, poderia continuar vigente.

A deputada Rachel Maskell, que apresentou um projeto de lei para permitir ao rei ou a uma comissão parlamentar retirar os títulos de nobreza daqueles que os possuírem, instou que se mantenha a pressão sobre a monarquia.

“Acho que o mundo mudou e precisamos que a monarquia preste contas por todos os meios possíveis”, disse ela nesta sexta-feira à BBC.

Segundo uma pesquisa do instituto YouGov, 58% das pessoas consultadas consideram que a família real esperou demais para agir contra Andrew.

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