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Biografia mostra trajetória de cientista suíço na Amazônia

Edificio principal do Museo Emilio Galdi, em Belém museu.goeldi.br

O zoólogo e naturalista suíço Emilio Goeldi (1859-1917) foi um dos mais importantes cientistas do final do século XIX e início do século XX.

No entanto, 150 anos após seu nascimento, sua vida e obra Goeldi são ainda pouco conhecidas. Agora, essa realidade começa a mudar no Brasil com o lançamento de uma biografia de Goeldi.

Até hoje reconhecido por seus pares, o trabalho de Goeldi teve seu apogeu durante os 23 anos em que suíço viveu no Brasil, onde se transformou num dos pioneiros a realizar estudos científicos sobre a biodiversidade da Amazônia.

Escrito pelo historiador Nelson Sanjad, o livro “Emilio Goeldi: a ventura de um naturalista entre a Europa e o Brasil” (EMC Edições) acaba de ser lançado e revela detalhes poucos conhecidos da riquíssima trajetória do suíço: “O livro preenche uma lacuna no conhecimento da vida e da obra de Emilio Goeldi, pouco estudadas e lembradas. A obra do zoólogo, por exemplo, é notável pela quantidade de trabalhos escritos, pela diversidade de temas e pela complexidade das abordagens”, afirma Sanjad.

Método

O autor explica o método utilizado para o livro: “Evidentemente, seria impossível dar conta de uma análise detalhada de todos os assuntos. Nesse sentido, meu objetivo foi elaborar uma biografia intelectual, traçar um panorama ou uma moldura a partir da qual será possível acessar essa obra e aprofundar os estudos. No livro estão identificados os grandes temas que atraíram a atenção de Emilio, a forma como ele os abordou e as suas influências teóricas”.



Goeldi viveu e trabalhou no Brasil entre 1884 e 1907, passando os dez primeiros anos no Rio de Janeiro e os treze anos seguintes no Pará. O suíço chegou ao Rio, então capital imperial, a convite do Museu Imperial e Nacional, onde se tornou diretor do Departamento de Zoologia.

Com a Proclamação da República, em 1889, Goeldi deixou o Museu Nacional e viveu por cinco anos em uma colônia suíça na cidade de Teresópolis (RJ).

Biodiversidade




A chegada à Belém do Pará aconteceu em 1894. Convidado pelo governador Lauro Sodré, Goeldi assumiu a direção do Museu Paraense de História Natural e Etnografia e, durante sua gestão, transformou o museu em uma referência internacional em termos de estudos e pesquisas sobre a biodiversidade amazônica.


“Goeldi pode ser considerado o ponto de partida para o estudo da biodiversidade amazônica, no sentido da institucionalização da investigação científica. O que se conhecia da maior floresta tropical do planeta antes de sua gestão no Museu Paraense era obra de viajantes, que por vezes acertavam nas suas observações, mas que também cometiam equívocos e eram superficiais nas suas conclusões. Essa crítica foi feita na própria época por Goeldi, de maneira bastante acertada”, afirma Nelson Sanjad.


Uma das principais qualidades de Goeldi, segundo o autor de sua biografia, foi transformar o museu num pólo de intercâmbio científico: “Ele não apenas centrou as atividades do Museu Paraense no estudo da biodiversidade local, como também criou a infra-estrutura necessária para dar suporte às atividades científicas dos pesquisadores do museu e de outros lugares. Simultaneamente, compilou o conhecimento existente na época sobre o assunto, desenvolveu e incentivou pesquisas taxonômicas, biológicas e evolutivas, principalmente de aves, répteis, peixes, primatas, roedores e aracnídeos”.

Museu Emilio Goeldi




O trabalho do suíço em Belém foi tão relevante que, quando ele precisou se ausentar temporariamente e voltar à Suíça por razões diplomáticas, em 1900, o Governo do Pará determinou que o museu passasse a se chamar Museu Paraense Emilio Goeldi, nome que ostenta até hoje. Atualmente mantido pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, é o segundo maior museu de história natural do Brasil, com 4,5 milhões de itens tombados.


“Perde apenas para o Museu Nacional, que fica no Rio de Janeiro. São 17 grandes coleções, que reúnem material biológico, paleontológico, mineralógico, etnográfico, arqueológico, lingüístico, bibliográfico e arquivístico. Parte dessas coleções, justamente a parte formada por Emilio Goeldi, é tombada como Patrimônio Histórico Nacional pelo IPHAN”, revela Sanjad.



O historiador conta que as linhas de pesquisa do Museu Emilio Goeldi são focadas em taxonomia animal e vegetal, biogeografia, ecologia, paleontologia, antropologia, arqueologia e lingüística indígena.

Mais de cem pesquisadores trabalham na instituição, que também mantém quatro cursos de pós-graduação (Zoologia, Botânica, Ciências Sociais e Ciências Ambientais) e um Parque Zoobotânico que é freqüentado por mais de duzentas mil pessoas a cada ano.

Colônia Alpina




Goeldi, que se casou no Brasil com a suíça Adélia Meyer e teve sete filhos, foi também figura pioneira no estímulo à chegada de suíços ao país que o adotou. Em 1890, quando ainda estava no estado do Rio de Janeiro e já havia deixado seu posto no Museu Imperial Nacional, ele se juntou ao sogro, Carl Meyer, em um projeto de colonização que se estabeleceu na Serra dos Órgãos, no município de Teresópolis.


A Colônia Alpina, como ficou conhecida na época, chegou a receber recursos do governo suíço, por intermédio do Conselho Federal, para se estabelecer. O projeto, no entanto, enfrentou inúmeras dificuldades logísticas e políticas e durou pouco, tendo sua permissão de funcionamento cancelada alguns anos depois.


Já no Pará, como diretor do Museu Paraense de História Natural e Etnografia, Goeldi continuou a estimular o estabelecimento de suíços no Brasil, mas de uma outra forma, como revela Sanjad: “Goeldi priorizou a contratação de suíços para o Museu Paraense, seja para o cargo de pesquisador, seja para o de preparador, atualmente conhecido como taxidermista. A maioria deles viria a se estabelecer definitivamente no Brasil. Depois da experiência mal-sucedida de Teresópolis, no entanto, Goeldi nunca mais se envolveu com projetos de imigração”, diz o historiador.


Maurício Thuswohl, Rio de Janeiro, swissinfo.ch

Emilio Goeldi nasceu em 28 de agosto de 1859, no distrito de Toggenburg, localizado no cantão de Saint-Gallen. Seu nome de batismo, segundo os registros, é Émil August Göldi, mas o cientista “abrasileirou” a grafia após os muitos anos vividos no Rio de Janeiro e no Pará.



Goeldi iniciou seus estudos científicos em 1877, na escola superior de Schaffhausen, e em 1880 foi morar em Nápoles, na Itália, onde estudou na Stazione Zoológica. No ano seguinte, o suíço foi morar na Alemanha, onde permaneceu por três anos e freqüentou cursos nas universidades de Leipzig e de Jena.



Após os 23 anos vividos no Brasil, Goeldi retornou à Suíça em 1907. O cientista fixou residência em Berna, onde atuou por dez anos como professor na Universidade Cantonal e na Universidade de Berna. Vítima de um ataque cardíaco, Emilio Goeldi faleceu no dia 5 de julho de 1917 em sua residência.

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