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15 minutos de sucesso em Weggis

Desde 1990, o "gaúcho" Clovis acompanha a seleção na Copa. swissinfo.ch

A Seleção se despede de Weggis com o último treino. Para o pequeno vilarejo, sobram as lembranças de duas semanas inesquecíveis.

A festa foi animada por muitos brasileiros, sendo que alguns até conseguiram alguns minutos de fama pela tietagem, exotismo e até faro para os negócios.

Depois de dias de chuva e temperaturas glaciais, o sol resolveu despontar no céu de Weggis no último treino da Seleção Brasileira antes do jogo amistoso contra a seleção da Nova Zelândia em Genebra.

As dezenas de barraquinhas montadas nas ruas da cidade finalmente se encheram de clientes e venderam seus estoques de produtos “verde-amarelo”. Os vários grupos de pagode conseguiram colocar os suíços para dançar. O ambiente era de carnaval e festa. Até os moradores de Weggis se emocionavam.

– Acho que nós nunca mais teremos uma festa dessas na nossa cidade. É tão emocionante ver a alegria de todos – afirmou uma senhora, que ajudava numa barraca de salsichas.

As arquibancadas do estádio Thermoplan Arena lotaram pela última vez. Mais de cinco mil espectadores se deliciaram com uma simples sessão, onde Ronaldo, Ronaldinho, Cicinho, Juninho e companhia apenas fizeram exercícios físicos e jogaram uma curta partida em meio campo, para depois receber do prefeito e outras personalidades de Weggis diplomas de agradecimento. Nas arquibancadas mulheres e crianças gritavam o nome dos jogadores. Muitas vezes eles acenavam para o público. Um grupo de brasileiros trouxe até uma imagem de São Francisco e pediu para entregá-la aos representantes da CBF.

A última cena levou os torcedores ao delírio: os jogadores deram-se as mãos e correram nas quatro direções do campo para agradecer e se despedir do público pela simpática acolhida em Weggis. Logo depois o campo foi tomado pelas passistas lideradas pelo Neguinho da Beija Flor. Com samba e plumas, as brasileiras deram um show de carnaval.

Os “exóticos” de Weggis

Se a Seleção Brasileira comandou a festa em Weggis, os coadjuvantes foram alguns brasileiros que terminaram se destacando no público por chamarem atenção.

Um deles é Clovis Fernandes, um brasileiro que se transformou na mascote da seleção canarinho. Vestido de bombacha, chapéu e com um típico bigode decorando o rosto, esse senhor é mais conhecido como o “Gaúcho da Copa”. Desde 1990, ele acompanha a Seleção Brasileira aonde ela vai.

– Já assisti 96 jogos. Tive em amistosos, na Copa América e nas Copas do Mundo. Tudo começou quando tive uma vontade louca de estar com a Seleção. Eu disse para a minha esposa, a Débora, que ia para Milão. Logo depois estava desembarcando na Itália, sem mesmo saber o idioma – conta Fernandes.

O gaúcho é proprietário de uma pizzaria em Porto Alegre e tem quatro filhos. Um deles o está acompanhando na passagem por Weggis e durante a Copa na Alemanha. Todas suas aventuras, fotos e experiências estão sendo publicadas num site na Internet (www.gauchosnacopa.com.br). Para dar sorte à Seleção Brasileira, ele carrega sempre consigo uma réplica da taça da FIFA que será dada ao time vencedor da Copa. O único apoio financeiro foi de uma empresa que imprimiu 60 mil fitinhas verde-amarelo, que ele distribui incansavelmente em Weggis e, em breve, na frente dos estádios alemães.

Boas idéias na chuva

Em algumas coisas, a Suíça se parece com o Brasil. Toda a vez que chovia em Weggis, uma vendedora ambulante surgia e levava vantagem em cima das barracas de brindes nas proximidades do Estádio Thermoplan: Gleice Kummle, a menina do guarda-chuva com as cores do Brasil.

Vivendo há doze anos em Zurique, a carioca produz em casa diversos produtos “verde-amarelo”. Ela criou o guarda-chuva, pois já imaginava que o tempo ia enganar os torcedores que esperavam uma primavera ensolarada em Weggis.

– A única coisa que está dando dinheiro para mim nessa Copa é a chuva – afirma Kummle.

Ao mesmo tempo, na mesma rua do camelódromo, que geralmente ficava lotada de torcedores e curiosos, a todo instante uma roda se formava para aplaudir um homem fantasiado de Carmem Miranda com batom, bochechas rosadas e um cesto de frutas de plástico pendurado na cabeça. Para alegria da criançada, ele dançava um forró com um Ronaldinho bigodudo de pano em tamanho natural.

Cristiano Cavendch, 42 anos, é o nome do artista. Ele descobriu uma forma muito simpática de ganhar dinheiro. Há quinze anos, o recifense sai todos os anos do Brasil para passar seis meses durante o verâo europeu vestido de mulher e dançando nas ruas ao som de toca-fitas.

– Eu danço samba e forró. As pessoas adoram essa folia e ainda me dão um dinheirinho. Depois da Suíça, vou descer para a Espanha, Itália ou qualquer outro lugar da Europa – conta suando o recifense durante uma pequena pausa no show.

A correria dos jornalistas

Enquanto o povo festejava a presença da Seleção Brasileira nas ruas de Weggis, os mais de duzentos jornalistas brasileiros lutavam febrilmente atrás de notícias.

O ritmo de trabalho era febril, sobretudo pelas cinco horas de diferença do fuso horário entre o Brasil e a Suíça. Nos jornais diários, as redações fazem o fechamento às dez da noite, que já é três da manhã no país dos Alpes.

– Eu praticamente não dormi. Você vive o ritmo suíço e trabalha no ritmo brasileiro. Além disso, nós temos que encontrar outras histórias além do que é contado pelo Parreira e os jogadores – explicou uma jornalista do O Dia, uma das poucas mulheres cobrindo a Copa.

Afora as coletivas de imprensa organizadas depois do treino e as conversas rápidas na zona mista, área por onde os jogadores passavam quando desembarcavam do ônibus para o treino no Estádio Thermoplan, a CBF chegou a oferecer uma vez uma conversa mais à vontade com os jogadores diretamente no Park Hotel Weggis.

Boatos que fazem sucesso

Os jornalistas não querem apenas saber sobre a condição física dos jogadores, mas também suas expectativas, fraquezas e problemas de treino. Na saída do ônibus Cafú responde rápido que já não sabe o que dizer. Na falta de assunto, mesmo boatos acabaram ganhando destaque na imprensa.

Léia Gomes (26 anos), Francielly Plüss (19 anos) e mais outra amiga apareceram na capa da edição de sexta-feira (2 de junho) do jornal sensacionalista suíço “Blick” segurando uma camisola autografada por vários craques. Ao repórter elas contam como passaram a noite com alguns jogadores tomando cerveja e uísque num quarto do hotel “Palace” em Lucerna, logo depois de terem conhecido Roberto Carlos numa discoteca da mesma cidade. Ao repórter suíço, elas não quiseram contar o que fizeram até a manhã. “É um segredo nosso”, disse uma delas.

A história foi o bastante para terem sido procuradas posteriormente por vários outros veículos de mídia. E, como elas tinham uma barraca na feira próxima do estádio, viraram a atração de Weggis. “Todo mundo queria tirar fotos de nós, perguntar coisas. Até falaram por aí que talvez a gente seja convidada para posar para a Playboy, afirmou Vânia a um jornal do Brasil.

Já a estudante e dançarina Francielly relata que, após a reportagem, recebeu convite para ser capa do guia cultural “Caliente” e diz que o sucesso repentino tem gosto duvidoso. “Tá estranho, porque essa fama de minuto não é legal, pela forma com que o jornal tratou a gente”.

Verdade ou não, um representante da imprensa, também hospedado no mesmo hotel em Lucerna, confirmou que um quarto havia sido alugado pelo Roberto Carlos. Porém ele segurou a história até o momento em que a mídia já estava soltando a notícia, mesmo sem ter muita vontade de publicá-la.

– Para mim não importa o que os jogadores fazem no seu tempo livre. O próprio Parreira havia dito isso. Mas quando eu vi o pessoal falando do assunto, resolvi dar a matéria, mas passando a bola para o Blick. Não quero me sujar com o Roberto Carlos – contou o jornalista à swissinfo.

Depois da despedida da Seleção Brasileira em Weggis, os computadores foram desligados e todos estão à caminho de Genebra. Para o pequeno vilarejo suíço, a festa do século acaba de terminar. Weggis volta a ser mais uma vez…o paraíso dos aposentados.

swissinfo, Alexander Thoele

Uma festa foi organizada pelos organizadores do evento em Weggis no gramado do Estádio Thermoplan para a despedida dos jogadores da seleção brasileira.
Teve criança com uniforme esportivo, dançarinas brasileiras e até o Neguinho da Beija-Flor.
Ontem (3 de junho) após o jantar, a delegação embarcou para Genebra, onde enfrenta à noite a seleção da Nova Zelândia. Depois do jogo a seleção brasileira vai para a Alemanha.

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