O terrorista suíço e seus serviços para a CIA
O extremista de esquerda suíço Bruno Breguet pertencia ao grupo do notório terrorista “Carlos, o Chacal”. Novos documentos mostram que Breguet também era agente da CIA.
Em 12 de novembro de 1995, Bruno Breguet desaparece misteriosamente de um navio no Mediterrâneo. Na véspera, a sua entrada no porto de Ancona havia sido barrada. O notório extremista não era bem-vindo na Itália. Breguet tinha que voltar para a Grécia, e testemunhas o viram a bordo naquela noite. Mas, quando o navio atraca no dia seguinte em Igoumenitsa, não há nenhum vestígio dele. Atualmente, circulam várias lendas sobre o que aconteceu.
Quem era esse homem do Ticino, hoje pouco conhecido, que a imprensa suíça descrevia ainda em 2003 como um “terrorista de alto escalão”? Bruno Breguet, nascido em 1950, cresceu em Minusio, perto do Lago Maggiore. Em fevereiro de 1969, um comando da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) ataca um avião da companhia aérea israelense El Al no aeroporto de Kloten. É quando o conflito do Oriente Médio atinge duramente a Suíça.
Enquanto a autora e os autores do ataque são julgados em Winterthur, Breguet se radicaliza: ele vê uma grande injustiça na situação dos refugiados palestinos. Como muitos dos que viveram as turbulências políticas de 1968, ele está fascinado pelos escritos de Mao e Che Guevara, mas também vê a resistência palestina como pioneira na luta por uma revolução mundial.
+ Leia também:O atentado de Kloten
Em 1970, o estudante de ensino médio vai para o Líbano e recebe treinamento militar em um campo da FPLP, o que deveria prepará-lo para uma missão em Israel. Breguet se declara pronto para realizar um atentado em nome da Frente Popular. O alvo é a Torre Shalom, o símbolo de Tel Aviv e, na época, o edifício mais alto do Oriente Médio. Mas as autoridades israelenses o prendem ainda no porto de Haifa com dois quilos de explosivos. Um tribunal militar o condena a quinze anos de prisão.
Em 1977, Bruno Breguet está novamente livre. Sua libertação antecipada foi resultado de iniciativas diplomáticas do governo suíço, mas também de uma campanha de solidariedade internacional apoiada por intelectuais como Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Günther Grass, Max Frisch e Friedrich Dürrenmatt.
No colo do chacal
Determinado a retomar a luta armada, Breguet se junta, cerca de dois anos mais tarde, ao grupo do venezuelano Ilich Ramírez Sánchez, conhecido como “Carlos, o Chacal”, o terrorista mais procurado do mundo desde 1975. Naquela época, ele e seu comando haviam atacado a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) em Viena e tomado onze ministros do petróleo como reféns. No final dos anos 70, ele finalmente criou sua própria organização terrorista, recrutando principalmente ex-combatentes da FPLP e extremistas de esquerda das células revolucionárias da Alemanha Ocidental.
No colo do Chacal, os ideais de Breguet evaporam como bolhas numa taça de champanhe. O “grupo Carlos” continua defendendo a bandeira da revolução mundial e “deseja travar uma luta contra o imperialismo em todas as suas formas”, como observa a Stasi da Alemanha Oriental em seus arquivos. Na realidade, porém, trata-se mais de uma associação criminosa com uma fachada revolucionária. Seu principal objetivo é ganhar o máximo de dinheiro possível através da extorsão, do tráfico de armas e de assassinatos encomendados por déspotas árabes.
O grupo Carlos também trabalha para os serviços secretos romenos. Em fevereiro de 1981, junto a alguns extremistas do ETA basco, a organização realiza um atentado com explosivos contra a Radio Free Europe, em Munique. A estação de propaganda americana, que transmite programas de rádio para além da Cortina de Ferro, é uma pedra no sapato da ditadura romena de Nicolae Ceaușescu. Documentos altamente secretos de arquivos da Europa Oriental e declarações de um ex-camarada incriminam fortemente Breguet: aparentemente, é ele quem detona a bomba por controle remoto. Por sorte, não há mortos.
“Breguet não cumprirá sua pena”
Em 1982, enquanto tenta realizar outro atentado com explosivos, o ticinense é preso em Paris. Carlos tenta libertar seu “soldado” e envia uma carta ameaçadora com um ultimato para o ministro do Interior francês. O advogado de Breguet, Jacques Vergès, se mostra confiante em público: “Breguet, você sabe disso, ele sabe disso, o governo sabe disso, mesmo que ele seja condenado, ele não cumprirá sua pena. Nós sabemos disso. O único problema é saber quanto tempo levará para que ele seja solto. Ou seja, quantas mortes, quanta dor seus amigos terão que infligir às autoridades francesas para que elas concordem em libertá-lo”. A resposta é chocante: três anos e meio, pelo menos onze mortos e 139 feridos depois, Bruno Breguet fica livre novamente.
O governo francês deixa passar o prazo do ultimato e Breguet é condenado, junto a Magdalena Kopp, a cinco anos de prisão. Kopp, integrante da liderança do grupo terrorista e futura esposa do Chacal, estava ajudando Breguet no atentado em Paris. Carlos então declara guerra à França. Em uma onda de ataques brutais, muitos civis também se tornam alvo. Mas o governo se mostra inflexível. É apenas depois de cumprir dois terços de sua pena que Breguet é deportado para a Suíça.
De terrorista a agente da CIA
Nos anos seguintes, o suíço atua como uma espécie de governador do grupo Carlos na Europa Ocidental. Nesse meio tempo, o Chacal e seus camaradas mais próximos precisaram fugir para Damasco, pois os regimes socialistas da Europa Oriental não estavam mais dispostos a tolerar a sua presença. Breguet, que vive legalmente no Ticino, também passa muitas semanas na capital síria durante os anos seguintes.
Até agora, a próxima parte da história era desconhecida para o público em geral: um dia, na primavera de 1991, o autoproclamado “revolucionário profissional” vai até uma embaixada americana e se oferece para trair sua organização. Documentos sensíveis conservados nos arquivos nacionais americanos mostram que Breguet colaborou com a CIA nos anos seguintes enquanto agente do FDBONUS/1. Posteriormente, ele passou a fornecer à inteligência americana informações sobre o grupo Carlos em troca de um salário mensal de US$ 3.000 (cerca de 6.000 francos suíços atualmente): ele revelava detalhes operacionais, esconderijos de armas e redes de apoio.
Quando, em setembro de 1991, o governo sírio também expulsa Carlos e seus demais seguidores, o chamado “terrorista mais perigoso do mundo” começa uma odisseia pelo Oriente Médio. Ele encontra refúgio na Jordânia e depois em Cartum, capital sudanesa. Depois disso, Breguet desempenha um papel importante na estratégia da CIA para encontrar o Chacal. Em 1994, o serviço secreto americano finalmente encontra Carlos no Sudão, onde ele é preso e extraditado para a França.
+ Leia também:Anarquistas e o terror na Suíça
A vingança de Carlos?
A revelação de que Breguet era, no final das contas, um agente da CIA lança uma nova luz sobre o seu misterioso desaparecimento. Será que a CIA o ajudou a encontrar uma nova vida e uma nova identidade? A utilidade de Breguet como agente provavelmente havia diminuído no outono de 1995. Afinal, naquela época, Carlos e seu braço direito, o alemão Johannes Weinrich, já estavam atrás das grades.
Por outro lado, um ato de vingança parece óbvio. Será que Carlos ficou sabendo da traição de seu companheiro em sua cela parisiense e procurou vingança? Um cenário possível, pois em novembro de 1995 a estrutura do grupo ainda estava intacta o suficiente para que Carlos pudesse ordenar tal assassinato da prisão. Ele ainda tinha um canal de comunicação com seus seguidores, seus matadores no Líbano permaneciam a seu serviço e o baú de guerra estava bem abastecido. Ou será que Bruno Breguet finalmente desapareceu, como suspeitava a promotora federal suíça Carla del Ponte?
Adaptação: Clarice Dominguez
Adrian Hänni, Terrorista e agente da CIALink externo: A incrível história do suíço Bruno Breguet, Basileia: NZZ Libro, 2023. 296 páginas (em alemão).
Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch
Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch
Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!
Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.