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Quadrinho transforma Davos em caso de polícia

Quando os serviços secretos do Vaticano operam nos Alpes. (Ed. Dargaud)

O Fórum Econômico Mundial de Davos (WEF) como palco de um colossal delito de informação privilegiada: é o que imaginam os autores de Janitor, no tomo 2 da série em quadrinhos.

Para o cenarista Yves Sente, o sistema fechado de Davos era “uma boa matéria”, que merecia ser explorada.

Janeiro em Davos. A estação de inverno dos Alpes suíços acolhe uma nova edição do Fórum Econômico Mundial, que reúne anualmente os poderosos do planeta. Além das sessões oficiais no Centro de Congressos, transformado em fortaleza pela segurança, muitos encontros e negociações ocorrem nos grandes hotéis da região.


É num desses estabelecimentos, ao lado das pistas de esqui, que ricos escroques – inclusive um carneiro preto bem situado no Vaticano – atuam para enganar especuladores adeptos de valores-refúgio em caso de tempestade nos negócios internacionais.

O mais ambicioso delito de informação privilegiada das finanças modernas acontece em tempo real, graças aos últimos recursos no tratamento e manipulação de imagens.

Membro do serviço secreto do Vaticano, imaginado por Sente e Boucq, o personagem age para que a manobra fracasse. O resultado é um suspense mais que plausível, que diverte, mas também provoca reflexão.

“Nas histórias policiais, reflexo da vida real, hoje tudo está ligado de perto ou de longe às questões financeiras”, afirma Ives Sante. “É uma questão que um autor não pode descartar e que me interessa. O filme Wall Street e a série Largo Winch demonstraram que é possível abordar as finanças através da ação”.

Um ambiente onde tudo é possível

Com seu colega François Boucq, o belga está envolvido em uma série que lhes permite abordar os interesses geopolíticos contenporâneos através da Cúria Romana, sem qualquer alusão esotérica.

A escala em Davos do personagem Janitor não cai do céu. Primeiro, Yves Sente é “fã” da Suíça há muito tempo. Ele vem ao país várias vezes por ano e tem amigos na Suíça. Na conclusão do curso de ciências políticas, seu trabalho final foi sobre a política estrangeira suíça.

O Fórum de Cavos também atrai o cenarista. “É um lugar extraordinário e muito fechado. Nesse ambiente tudo é possível. É como em Agatha Christie”, afirma.

“Davos no final de janeiro é um vilarejo isolado do mundo, um ambiente, um lugar onde muita gente influente se encontra no mesmo momento”, prossegue Yves Sente. É o que chamamos de boa matéria. Aí, refletimos e procuramos uma história. É preciso uma longa maturação, que leva meses. Depois é que escrevemos.”

Chefe da segurança

O cenarista foi a Davos e fez muitas fotos. Essas imagens serviram para que François Boucq reproduzisse a estética do vilarejo e suas imediações.

Graças a um amigo diplomata, Sente discutiu com um responsável da segurança do WEF e a conversa possibilitou ajustar a história: os serviços de segurança dos participantes são tais que o cenário não pode incluir tantos guarda-costas.

Yves Sente encontrou em Davos, portanto, um bom contexto dramático. Ele confessa inclusive uma certa simpatia pelo WEF. As verdadeiras decisões são tomadas nos bastidores, lembra. Davos permite o encontro regular das pessoas que decidem. Se ele não existisse, elas se encontrariam menos e não seriam tão numerosas.

“O anti-Davos é a ONU, afirma Yves Sente. Não sai nada. É um troço grande que depende do dinheiro americano e toma resoluções jamais aplicadas. É um grande ventre mole que decepciona muito.”

Coisas menos gentis

O outro interesse de Davos, de acordo com o autor belga, é de ter incitado os altermundialistas a organizar seu próprio fórum mundial. “Que sejam de um lado ou do outro, o importante é que as pessoas possam se encontrar fora de circuitos formais.”

“Evidentemente, não conheço como as cartas são jogadas. Assuntos não muito simpáticos também são abordados nesses encontros. É inevitável. Mas nada é perdido quando as pessoas se encontram.”

No tomo 2 do Janitor, Sente aborda também um tema que o apaixona: a manipulação da mídia. Os principais canais de TV do mundo cobrem um conflito nuclear desencadeado a partir do Golfo Pérsico. Só que …

“Meu cenário pode parecer um pouco louco, mas é bem realista. Nunca se tem a prova da veracidade do que é mostrado na TV. As imagens podem ser manipulados e as pessoas acreditam.” E Sente sabe o que diz.

swissinfo, Pierre-François Besson

* O Janitor, Tomo 2 – Fim de semana em Davos, em francês. Cenário: Yves Sente; desenho: François Boucq. Edições Dargaud.

Yves Sente é um peso pesado do quadrinho. Cenarista de Black & Mortimer, de Thorgal e de A Vingança do Conde Skarbek, esse belga nascido em 1964 publicou ainda muito jovem no le Wall Street Journal Europa. Diretor editorial das Edições Lombard desde 1993, ele deu um novo impulso ao editor de Bruxelas.

Caricaturista de jornais aos 19 anos e autor de quadrinhos aos 20,
François Boucq nasceu em 1955, na França. Ganhou o pretigioso Grande Prêmio de Angoulême em 1998. Trabalhou com cenaristas como Jerome Charyn e criou suas próprias séries – Lao Tseu e As Aventuras da Mort, entre outras.

Davos é uma estação de inverno no cantão dos Grisões (leste) situada a 11.500 m de altitude. Lá ocorre todo ano o Fórum Econômico Mundial (WEF).

O encontro começou em 1971 e reúne políticos, empresários e lobistas. Eles discutem e negociam mas nenhum resultado concreto é publicado durante ou depois do fórum.

Criticado pelos altermundialistas pelo pressuposto capitalista, o WEF atrai centenas de jornalistas. O essencial dos contatos ocorre nos bastidores e nos grandes hotéis ao abrigo de olhares indiscretos, em paralelo às sessões oficiais.

O Fórum de 2008 ocorre de 23 a 27 de janeiro em Davos.

Entre os participantes estarão 27 chefes de Estado ou de governo, 113 ministros, dirigentes de várias organizações internacionais, 1370 executivos de 74 das 100 maiores empresas do mundo e 340 representantes da sociedade civil (religião, cultura, ONG).

La rencontre annuelle 2008 du WEF se déroule du 23 au 27 janvier à Davos.

Todos os ministros suíços, com excessão da nova ministra da Justiça e Política
Evelyne Widmer-Schlumpf, participarão do WEF.

Com o tema “O Poder da colaborativo da inovação”, os decididores falarão de economia, geopolítica, ecologia, empresa, tecnologia e sociedade.

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