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Relógio de um milhão

Quem paga US$ 1,3 milhões por um 3 Volution? swissinfo.ch

Baselworld e o Salão Internacional de Alta Relojoaria em Genebra são os dois grandes eventos mundiais do setor. Nos estandes de luxo, um relógio de pulso pode custar até mais de um milhão de dólares.

Porém a festa está fechada para quem não pertence ao refinado clube dos compradores. O repórter conta sua experiência.

A primeira impressão está nas roupas: terno Armani para os homens e tailleur Chanel para as mulheres. Muitos visitantes correm pelos corredores falando em voz alta nos celulares e dando ordens de compra. Um japonês levanta o braço e mostra seu poderoso relógio de pulso ao interlocutor americano. Este arregala os olhos ao ver o cebolão e diz apenas: – “great”.

Esse é o ambiente que reina na Baselworld 2005, a maior feira de relojoaria e joalheria do mundo. No total, 2.197 expositores participam desse evento do luxo e do supérfluo que ocorre na Basiléia, a fina metrópole suíça localizada às margens do rio Reno. Cerca de 90 mil visitantes são esperados até sete de abril, quando encerra a feira. O ingresso diário custa 45 francos (US$ 37).

A construção e o aluguel do espaço dos estandes localizados nas áreas mais centrais dos pavilhões podem custar até dez milhões de francos (US$ 8 milhões). Isso por apenas sete dias de utilização. Muitos lembram templos ou bancos, como é o caso das marcas nobres Rolex, Corum ou Patek Philippe.

Nesses locais modelos e agentes de segurança avaliam os visitantes da cabeça aos pés. Quem não parece ter “cash” suficiente para comprar a granel os modelos expostos já é barrado logo na entrada. “Os catálogos estão lá fora”, explica a atendente da Rolex com um olhar impaciente.

Tendências da moda

O desdém da modelo tem sua razão. O enorme investimento na feira só se justifica para o fabricante se o público-alvo for bem atendido: revendedores, donos de boutique e colecionadores.

Eles são pessoas refinadas que viajam para Basiléia com o objetivo não apenas de fazer negócios, mas também admirar os mais novos lançamentos e pescar as novas tendências do mercado.

E elas são dadas pela imprensa. “Para as mulheres as coisas se complicam”, titula o jornal Le Temps, falando da paixão atual do sexo frágil pelos modelos de pulso mais complexos e caros. “Em 2005 a mulher se afirma com grandes relógios”, é o título da matéria do Le Matin citando a tendência dos modelos gigantes no estilo “XXL”.

Um exemplo dessa nova produção é o “Starissime”, relógio de pulso fabricado pelos suíços da Zénith. A peça é fabricada em ouro branco, tem 229 diamantes e custa a bagatela de 260 mil Euros.

Relógios de milhão

Apenas um evento consegue ser mais seleto do que o Baselworld: o Salão Internacional de Alta Relojoaria em Genebra. Ele surgiu quando Alain-Dominique Perrin, antigo chefe da Cartier, decidiu criar sua própria feira afirmando que o evento na Basiléia “estava cheirando muito à salsicha”, referindo-se aos bares e restaurantes dos pavilhões.

Na sua 15a edição, o salão em Genebra reúne de 4 a 10 de abril 16 fabricantes exclusivos de relógios como Piaget, Vacheron Constantin, IWC, Jaeger-leCoultre e Mont Blanc. O público estimado é de apenas 10 mil, sendo que o visitante precisa ser convidado pessoalmente pelas marcas para poder entrar no recinto.

Também, não é à toa. Nos seus pequenos estandes, fabricantes como Vacheron Constantin exibem modelos exclusivíssimos. Um deles é o “Tour de l’Ile”, apresentado como o “relógio mais complicado do mundo”.

Dessa peça rara serão fabricados apenas sete exemplares. Com 16 complicações e 834 peças diferentes, o relógio consumiu mais de 10 mil horas de pesquisa e desenvolvimento. Seu preço de mercado: aproximadamente US$ 1,5 milhão.

Ainda mais exclusivo

Antoine Preziuso, filho de imigrantes italianos e dono de uma empresa fundada há pouco mais de cinco anos em Genebra, fabrica relógios para milionários.

Para ter mais exclusividade, ele decidiu realizar seu próprio evento no Chateau Pein-Vent, não muito distante da feira de Genebra.

Lá ele exibe seu mais novo lançamento, um relógio que custa aproximadamente US$ 1,3 milhões. O “3 Volution” é, segundo declarações da empresa, “uma maravilha técnica”.

A peça contém três tourbillons, que são complicações técnicas cujo objetivo é melhorar a precisão do relógio. “Dessa forma ele é um dos poucos que consegue atingir a precisão dos modelos que funcionam a quartzo, mas essa é até uma comparação pejorativa quando falamos no 3 Volution”, explica Christoph Persoz, um dos relojoeiros que participaram do projeto.

Apesar do seu preço elevado, o relógio já tem potenciais compradores. Dois deles viriam de países asiáticos e já estão em Genebra analisando sua técnica.

Estrelas, dinheiro e luxo

Como ocorrem todos os anos, as feiras de relógios entre Genebra e Basiléia recebem estrelas do mundo artístico, do esporte e da moda.

A beldade alemã Claudia Schiffer faz propaganda para a Ebel; Eva Herzigova para Chopard. O ator americano Bratt Pitt se deixa fotografar portando um relógio da marca TAG-Heuer. Já o guitarrista Eric Clapton dá os seus acordes e mostra no pulso um verdadeiro Rolex. Mesmo os suíços estão presentes: o balonista Bertrand Piccard só usa relógios Breitling, também seu maior patrocinador. O tenista Roger Federer, campeão do mundo em Wimbledon é o garoto-propaganda da Maurice Lacroix.

Esse ano promete muita atividade para os fabricantes de relógios finos. Como mostram os balanços das empresas do setor, períodos de crise econômica parecem ser benéficos para seus lucros. Nada mal para um país como a Suíça, com tantos pesos-pesados do setor.

swissinfo, Alexander Thoele

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