 
Sämi, o “Motorista Cantante”
 
Motorista e cantor de canto alpino, Sämi Zumbrunn transforma cada viagem de ônibus em uma experiência inesquecível. Quem melhor do que ele para representar uma tradição suíça que em breve poderá figurar na lista do patrimônio cultural imaterial da UNESCO?
Assim que o ônibus postal aparece na curva, as crianças começam a acenar. Elas reconheceram Sämi ao volante, seu motorista favorito. É ele quem as levará de volta à escola após o intervalo do almoço.
Assim que entra no ônibus, um menino vestido com uma camisa listrada e um cinto decorado com vacas pergunta em voz alta: “Sämi, você pode cantar um yodel para nós?” Ele repete o pedido três vezes, pois o motorista hesita em atendê-lo.
Depois de embarcar o último turista, Sämi entoa um yodel e, imediatamente, as conversas no ônibus cessam. Enquanto as últimas notas ainda ressoam entre as janelas, aplausos calorosos irrompem, acompanhados de assobios de aprovação.
Mais uma vez, Sämi conquistou o coração de seus passageiros. Hoje, ele faz a ligação entre Brienz e o desfiladeiro de Brünig, perto de Hasliberg.
«Eu sou assim. Gosto de partilhar a minha paixão pelo canto e pelo yodel», conta Sämi Zumbrunn ao chegar ao museu ao ar livre de Ballenberg. Lá, ele bebe diretamente da bica da fonte durante uma breve pausa.
“Cresci em uma família de camponeses em Unterbach, perto de Meiringen. Já quando criança, cantava enquanto ordenhava as vacas ou cuidava dos bois no pasto alpino de Chaltenbrunnen, no vale de Rychenbach”, lembra o homem, hoje com 62 anos.
Em sua casa, cantava-se com frequência e em qualquer ocasião: enquanto lavava a louça, após o jantar ou durante passeios nas montanhas. Essa ligação com os animais, a natureza e as paisagens alpinas marcou profundamente sua infância e adolescência.
“Aos 12 anos, ganhei uma fita cassete com uma compilação dos melhores cantores de yodel da época”, conta ele. “Eu a ouvi milhares de vezes, a ponto de surgir em mim o desejo de me tornar um cantor de yodel igualmente talentoso.”
«A viagem de ônibus mais bonita da minha vida»
Sämi Zumbrunn aprendeu os ofícios de carpinteiro e agricultor e, aos 19 anos, ingressou no clube de canto alpino de Ringgenberg. O maestro do coro o incentivou a cultivar seu talento vocal e sugeriu que ele fizesse aulas particulares de canto.
«Graças à prática diária, alcancei um alcance vocal de quatro oitavas», diz ele. Sua primeira apresentação em palco, durante um festival de yodel, como é comumente chamado o canto alpino, remonta a quarenta anos.
 
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«Obtive a melhor nota: classe 1», conta ele com um orgulho mal disfarçado. Essa seria a primeira de uma longa série de distinções.
Foi também nessa época que começou sua carreira de motorista: primeiro dirigindo um caminhão-pipa para leite, depois um ônibus de turismo. Uma atividade que o colocou em contato com as pessoas e com o setor do turismo – um pilar da economia no Oberland bernês.
Com o tempo, ele se tornou embaixador de Grindelwald, das ferrovias Jungfrau e da Suíça Turismo. Ele viaja por metade do globo, sempre acompanhado de seu canto alpino.
“A música fala uma linguagem universal, compreendida em todos os lugares porque vem do coração”, afirma Sämi Zumbrunn. Ela pode construir pontes entre diferentes culturas e criar amizades, pois transmite harmonia. »
E mesmo na linha entre Brienz e o desfiladeiro de Brünig, Sämi irradia alegria de viver. Ao atravessar as passagens estreitas de Hasliberg, o “Motorista Cantante”, como gosta de se autodenominar, liga o microfone, cumprimenta os visitantes internacionais com um «Grüessech» e anuncia que deseja dar um presente a todos.
“Se gostarem, podem levá-lo”, explica. “Caso contrário, podem deixá-lo no ônibus”. E assim, a mesma cena se repete em cada viagem.
Primeiro, os passageiros ficam espantados, depois um sorriso de surpresa e alegria surge em seus rostos. Ao descer do ônibus, alguns agradecem pelo presente inesperado, enquanto outros, com a voz ainda trêmula de emoção, confessam ter vivido “a viagem de ônibus mais bonita de suas vidas”.
“Tenho a sorte de poder associar meu trabalho à minha grande paixão, e as pessoas apreciam isso”, afirma Sämi.
 
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O sonho de cantar na “Elbphilharmonie” de Hamburgo
Foi um turista americano de Chicago, que conheceu em Grindelwald, que o encorajou a dar um novo passo na sua carreira no canto alpino. “Todos os meses, ele me escrevia uma carta para perguntar se eu já tinha gravado meu primeiro CD”, conta Sämi.
“Eu botei o nome nele de Singing Driver (Motorista Cantante, n.d.r.), porque esse já era o apelido que os passageiros me davam. O CD fez muito sucesso, principalmente entre os turistas japoneses”, conta Sämi.
Esse primeiro CD foi seguido por outros dois. O último, intitulado My Jodlerwäg, foi lançado para comemorar seus quarenta anos de carreira. E na estrada – bem asfaltada – Sämi continua despertando entusiasmo.
Mas o “motorista cantante” não consegue competir com o irresistível apelo do smartphone: nem mesmo suas melodias conseguem desviar os olhos dos alunos de uma turma do ensino médio da cidade de Berna das telas de seus telefones.
Mas quando ele lhes oferece uma nova canção enquanto esperam pelo trem na estação, eles finalmente lhe dão um pouco de atenção: os jovens o filmam e provavelmente compartilham o vídeo imediatamente nas redes sociais.
Sämi Zumbrunn vive para seus sonhos. Ele já escalou muitos picos em sua região natal, incluindo o Wetterhorn e o Mönch.
“No próximo verão, gostaria de escalar o Eiger pela crista do Mittellegi”, confidencia.
Quando questionado sobre quais projetos musicais ainda tem guardados, ele responde: “Cantar na Elbphilharmonie de Hamburgo”.
Incrédulos, pedimos que ele repita o nome do edifício, que entretanto se tornou um templo da música. “Quero levar minhas montanhas e a natureza para a sala de concertos com vista para o Elba”, repete ele com convicção.
Após uma pausa para o café, é hora de voltar ao volante. Passam-se apenas alguns minutos antes de Sämi nos presentear novamente com sons de canto alpino.
“Quero oferecer uma coisa para vocês”, explica ele aos novos passageiros. “Se gostarem, levem com vocês, caso contrário, deixem no ônibus.”
Temos certeza de que todos levaram para casa e compartilharam essa experiência inesquecível com seus amigos e conhecidos.
O canto alpino está concorrendo para entrar no patrimônio cultural imaterial da UNESCO. A candidatura foi apresentada em 2024 e a decisão está prevista para o final de 2025.
Praticado na Suíça por mais de 12.000 cantores e cantoras, o canto alpino é transmitido em família, em clubes e escolas, o que lhe permite permanecer vivo e popular.
Apesar de sua popularidade, são necessárias medidas para garantir seu futuro. A candidatura permitiu definir medidas de proteção, como a melhoria da coordenação nacional, a ampliação da oferta de formação, o apoio a jovens talentos e a sensibilização do público.
No passado, a Suíça já obteve vários reconhecimentos da UNESCO por suas tradições vivas, incluindo a Festa dos Vignerons, o Carnaval de Basileia, as procissões de Mendrisio, a relojoaria e a temporada de pastagem alpina.
Adaptação: Fernando Hirschy
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