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Bancos suíços analisam o custo das sanções à Rússia

Moscow city centre at night
As luzes parecem estar se apagando no sistema financeiro sancionado da Rússia. Copyright 2016 The Associated Press. All Rights Reserved. This Material May Not Be Published, Broadcast, Rewritten Or Redistribu

Bancos, gestores de ativos e fundos de pensão estão se adaptando à exclusão da Rússia dos mercados financeiros. Alguns efeitos foram sentidos instantaneamente na Suíça, enquanto outras consequências são menos certas e ainda levarão algum tempo para aparecer.

A princípio, a Suíça não queria aplicar todas as sanções da União Europeia quando a Rússia invadiu a Ucrânia. O país alpino argumentou que sanções severas prejudicariam seu status de país neutro. Mas sob a pressão dos Estados Unidos, da UE e de sua própria opinião pública, o governo logo reverteu sua política e seguiu a linha da UE.

Dez dias depois da invasão russa, o governo suíço anunciou que estava proibindo muitas importações industriais russas e impondo amplas restrições às atividades financeiras, além de cortar os bancos russos do sistema de transferências financeiras SWIFT.

“Os bancos suíços gostavam dos clientes russos porque podiam cobrar taxas em dobro. Agora eles são tratados como se fossem pessoas infectadas e perigosas”, disse Enzo Caputo, cujo escritório de advogados bancários suíços aconselha clientes ricos a transferir seus ativos para a Suíça.

Os bancos suíços agora suspeitam de qualquer cliente russo, diz Caputo. Como resultado, alguns querem converter seus ativos em ouro e transferi-los para Dubai. “Desde que as sanções foram impostas, os russos não confiam mais na Suíça”, disse Caputo à SWI swissinfo.ch. O advogado também atende clientes  ricos da região do Báltico que querem transferir seus ativos para a Suíça, temendo que a Rússia invada a Estônia, Letônia ou Estônia.

“As pessoas estão assustadas e em pânico. Recebemos ligações de clientes pedindo conselhos sobre como manter seus ativos seguros”, disse um banqueiro privado, que não quis ser identificado.

“Muitos advogados e consultores financeiros estão procurando maneiras de diversificar o risco. As verificações de antecedentes de alguns desses clientes revelaram que os beneficiários efetivos eram russos, então recusamos o negócio”, declarou.

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Dinheiro russo em cofres suíços

De longe, o risco mais potente para os bancos suíços é a quantidade de dinheiro russo mantido no maior centro global de riqueza offshore, diz o economista-chefe do EFG Bank, Stefan Gerlach.

“Como país, a Suíça não se beneficiou de sua reputação passada de paraíso para sonegadores de impostos e de lugar seguro para as fortunas de ditadores”, disse ele à SWI swissinfo.ch. “Todo banco sabe que, se não cumprir escrupulosamente as sanções, enfrentará enormes riscos legais e de reputação”.

A Associação Suíça dos Bancos estima que seus membros detêm até CHF 200 bilhões em dinheiro russo . Mas a associação, que expulsou o Gazprombank e o Sberbank de suas fileiras, não diz quanto desse valor está sujeito a sanções.

A pressão ainda pode aumentar na Suíça por conta das exigências da Força-Tarefa de Ação Financeira (GAFI), um órgão internacional criado para combater a lavagem de dinheiro. Em 4 de março, o GAFI atualizou suas recomendaçõesLink externo sobre como rastrear os beneficiários de ativos que estão escondidos atrás de empresas de fachada.

O GAFI agora aconselha explicitamente os países a manterem um registro central de beneficiários efetivos, algo que a Suíça rejeitou até o momento. ONGs como Transparency International e Public Eye dizem que isso deve ser retificado de acordo com as diretrizes do GAFI.

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Riscos dos investimentos

Além da gestão de patrimônio, o centro financeiro suíço até agora relatou uma exposição limitada a investimentos e empréstimos russos. As ações de empresas russas são praticamente inúteis nos mercados globais e há temores de inadimplência de crédito e títulos nas próximas semanas e meses.

O UBS tinha US$ 634 milhões (CHF593 milhões) em risco direto na Rússia no final do ano passado e o Credit Suisse tinha US$ 1,7 bilhão. Esta é uma fração dos valores que outros bancos europeus, como Raiffeisen da Áustria, Société Générale da França e Crédit Agricole ou ING da Holanda tem.

“A exposição de Julius Bär à região é modesta e bem administrada como resultado dos esforços de redução de risco nos últimos anos”, afirmou um porta-voz do maior grupo bancário privado da Suíça. UBS, Credit Suisse e Julius Bär continuam a manter suas filiais em Moscou abertas, apesar do Goldman Sachs e de outros bancos americanos terem anunciado a saída da Rússia.

Nos Estados Unidos, a maior gestora de ativos do mundo, a Blackrock, sofreu um golpe de US$ 17 bilhões em seus investimentos russos. Os fundos focados na Rússia dos bancos UBS e Pictet também foram afetados. No caso do Pictet, o banco teve que suspender seu fundo de ações russo, já que as condições de mercado impossibilitaram o preço das ações. Mas a situação entre os gestores de ativos independentes é menos clara.

A Clarus Capital, com sede em Zurique, que gerencia mais de CHF 1,5 bilhão de ativos, diz que já diversificou sua ênfase na Rússia e no leste europeu. “Quando começamos, há 10 anos, éramos muito dependentes de clientes russos”, disse o sócio-gerente Giancarlo Guetg à SWI swissinfo.ch. “Mas agora as coisas são significativamente diferentes. Alemanha, Israel e Polônia são nossos mercados que mais crescem.”

Ameaça de ataque cibernético

Os fundos de pensão suíços detalharam as perdas relacionadas à Rússia, incluindo CHF 170 milhões atingidos pelo maior fundo, o Publica. O grupo de consultoria PPCmetrics, com sede em Zurique, estima que os fundos de pensão suíços tenham, em média, entre 0,3% e 0,5% dos ativos investidos na Rússia. Os fundos também sofreram perdas recentes de uma queda geral nos mercados de ações globais.

“A súbita perda de valor dos investimentos e as restrições comerciais impostas pelas sanções não deram aos fundos de pensão nenhuma oportunidade real de tomar medidas concretas no curto prazo”, disse Michael Lauener, pesquisador sênior da Associação Suíça de Fundos de Pensão. “Mas a exposição direta [à Rússia] permanece muito modesta e não representa um risco substancial. Não houve reações de pânico. É importante notar que os fundos de pensão são orientados para o longo prazo”.

Não está claro como a Rússia reagirá às sanções ocidentais, mas as empresas financeiras estão se preparando para uma possível onda de ataques cibernéticos.

“Vimos uma maior atividade [de ataques] no início da guerra e pouco antes da guerra. E agora a atenção está se voltando aos negócios, como de costume”, disse Jos Dijsselhof, CEO da operadora de bolsa de valores suíça SIX Group, no início deste mês.

“Acho que isso ilustra que o setor bancário pode ser um negócio perigoso se você lida com países que não são democráticos e têm líderes autoritários”, disse Stefan Gerlach.

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Adaptação: Clarissa Levy
(Edição: Fernando Hirschy)

Adaptação: Clarissa Levy

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