Perspectivas suíças em 10 idiomas

Procuram-se professores de inglês para lecionar no Brasil

Gustavo Fuga fotografado em uma feira em Zurique.
Gustavo Fuga fotografado em uma feira em St. Gallen. swissinfo.ch

A escola de idiomas brasileira 4YOU2 tem como missão levar o inglês à população de baixa renda. Na sala de aula conta somente com professores estrangeiros. Para juntar-se ao time em 2018 o CEO da empresa, Gustavo Fuga, está à procura de professores de inglês suíços.

Enquanto a maioria significativa dos suíços domina com desenvoltura a língua inglesa, no Brasil menos de 3% da população têm fluência no idioma, de acordo com um site brasileiro de busca de empregos. Se o foco for as classes mais baixas, as estatísticas então beiram a zero. Os cursos são caros, as escolas pouco acessíveis e, em muitos casos, a qualidade do ensino é duvidosa. Foi pensando nessa dura realidade – enfrentada por ele próprio, como um jovem crescendo no subúrbio do Rio de Janeiro –, que o economista Gustavo Fuga, 25 anos, fundou em 2012 a 4YOU2, uma escola de inglês que leva o idioma para as periferias do país.

Além de já nascer com a missão de impulsionar uma transformação social, a 4YOU2 conta com um modelo de ensino que tem alguns diferenciais. Um deles é o fato de que os professores que ali trabalham têm que ser estrangeiros. “A maioria dos nossos alunos nunca teve contato com alguém de outro país, com um estrangeiro. Com essa estratégia, queremos não apenas ensinar o idioma, mas apresentar outros referenciais para os alunos”, explica Fuga.

E é exatamente aí que entra a Suíça, ou melhor, os suíços que dominam inglês. Fuga está em busca de professores de inglês na Suíça que tenham interesse em ter uma experiência no Brasil. Mas o perfil destes professores de inglês não é exatamente aquele que pensamos normalmente. O profissional, de acordo com Fuga, não precisa necessariamente ter experiência em ensino. É necessário que o candidato tenha domínio da língua inglesa, tenha interesse no tema educação e queira passar um tempo no Brasil. Neste grupo entram também recém-formados e estudantes universitários, por exemplo.

Perfil dos candidatos

Fuga explica ainda que não é necessário que os candidatos falem português, nem espanhol. A própria 4YOU2 oferece para esses professores aulas de português enquanto estiverem no Brasil. O processo de seleção tem cinco etapas. E em uma dessas fases o candidato terá que dar uma aula de inglês por Skype. “Trata-se de um processo de seleção rigoroso. Queremos realmente entender o perfil, as qualidades e potenciais do candidato”, explica Fuga.

Uma vez aceito, o candidato será orientado pela equipe de talentos da escola, que tem uma estrutura pronta para receber esse profissional no Brasil. “Nós ajudamos com o processo de visto, buscamos no aeroporto, damos um treinamento completo antes de o professor entrar em sala de aula e acompanhamos na adaptação cultural”, afirma Fuga. O professor fica hospedado na casa de famílias pré-selecionadas pela escola.

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Hoje cerca de 35 candidatos competem por uma vaga. Para o ano letivo de 2018, 40 professores de várias partes do mundo devem chegar ao Brasil. “Não apenas os alunos, mas os professores são nossos clientes. Por isso, faz parte do nosso modelo de negócio receber e acompanhar a experiência do professor ao longo dos 10 meses que ele fica no país”, diz o jovem CEO. O salário do professor é de 1.200 reais (cerca de CHF 370) mensais por um trabalho de cerca de 25 horas semanais.

Demanda em alta

A mensalidade paga pelos alunos é de 76 reais (cerca de CHF 23.30). Aliás, esse valor reduzido é um dos fatores que determinam a singularidade deste projeto. A demanda, é claro, não para de crescer. Hoje, a escola conta com 5 unidades atendendo alunos em São Paulo nos bairros de Capão Redondo, Campo Limpo, Jardim Ângela, Heliópolis e Santana. Já passaram pela escola mais de 10 mil estudantes.

Até o final deste ano, duas novas escolas serão abertas: uma em João Pessoa, Paraíba, e outra em Pedro Leopoldo, Minas Gerais. Para 2018, mais quatro escolas devem ser inauguradas em São Paulo.  Alguns desses projetos estão sendo desenvolvidos em parcerias com empresas. Os planos da direção da escola não param por aí: “nos próximos três anos, devemos abrir 40 unidades”, explica Fuga.

Enquanto segue a trilha de crescimento, o projeto liderado pelo jovem economista vem recebendo vários prêmios na área de empreendedorismo social.  Em abril deste ano, Fuga foi selecionado para o hub de São Paulo do Global Shapers, uma comunidade de transformadores sociais. O projeto é uma iniciativa do World Economic Forum (Fórum Econômico Mundial). Em 2015, Fuga recebeu prêmio Jovem Talento da Viva Idea, uma fundação voltada ao apoio do “desenvolvimento humano sustentável” na América Latina. A Viva Idea faz parte do Viva Trust, uma organização fundada pelo suíço Stephan Schmidheiny.

Jovem professora ensinando inglês às crianças na escola de línguas.
Jovem professora ensinando inglês às crianças na escola de línguas. Cortesia

Em outubro, Gustavo Fuga e outros empreendedores da América Latina premiados pela Viva Idea estiveram em St. Gallen, na Suíça, para participar de um evento sobre sustentabilidade e contar suas histórias de impacto social, ecológico e econômico. “Depois destes dias na Suíça, volto com a esperança de que é possível caminharmos para uma sociedade mais justa, mais igualitária, próspera. As realidades brasileiras e suíças são muito diferentes. Nós brasileiros temos muito a aprender e também a ensinar. É uma via de mão dupla.”

Bem longe do ideal

No recém-publicado ranking dos países (cujo idioma nacional não seja o inglês) que melhor dominam a língua inglesa, o Brasil aparece na 41ª posição. A Suíça ocupa a 14ª.  O ranking, publicado pela EF Education First, cobre 80 países e cerca de 1 milhão de adultos que fizeram o teste EF Standard English Test (EF SET). Na liderança do ranking está Holanda, seguida da Suécia e Dinamarca.

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