The Swiss voice in the world since 1935

Ex-presidente colombiano Uribe é declarado culpado por suborno a paramilitar

afp_tickers

O ex-presidente Álvaro Uribe foi declarado culpado nesta segunda-feira (28) por tentar subornar um paramilitar para evitar que o vinculasse a esses esquadrões de extrema direita que enfrentavam as guerrilhas na Colômbia.

Este é o primeiro julgamento de um ex-presidente no país, acusado de tentar persuadir paramilitares a mentirem a seu favor. 

O suborno “foi comprovado”, afirmou a juíza responsável pelo caso. Uribe participou da audiência de forma virtual enquanto balançava a cabeça negativamente. 

A leitura dos argumentos se estendeu por onze horas, enquanto, do lado de fora do tribunal, apoiadores e opositores do ex-presidente entravam em choque. “Uribe inocente”, “Uribe paraco” (paramilitar), gritavam uns e outros.

Uribe, que segundo a Justiça também cometeu fraude processual, pode ser condenado a até 12 anos de prisão. A sentença e a possibilidade de o político cumprir prisão domiciliar serão anunciadas na sexta-feira. 

O ex-presidente afirma ser inocente e que o julgamento foi motivado por “vingança” da esquerda, das extintas Farc e do ex-presidente Juan Manuel Santos, signatário do acordo que desarmou os rebeldes em 2017.

O secretário de Estado americano Marco Rubio, de quem Uribe é um aliado-chave na América Latina, criticou a decisão de “juízes radicais”. 

“O único delito do ex-presidente colombiano Uribe foi lutar incansavelmente e defender sua pátria”, disse o titular da diplomacia dos Estados Unidos na rede social X. 

– “Interferência” dos EUA –

A condenação do político colombiano mais influente do século, amplamente popular por sua postura firme contra a guerrilha, representa um duro golpe para a direita conservadora antes das eleições presidenciais de 2026. 

O partido que ele lidera, o Centro Democrático, é o principal movimento de oposição ao presidente de esquerda Gustavo Petro e aliado do governo dos Estados Unidos.

O longo processo judicial começou em 2012, quando Uribe acionou na Justiça o parlamentar de esquerda Iván Cepeda por buscar presos para acusá-lo de ter vínculos com os paramilitares.

Em uma reviravolta inesperada, em 2018 a Corte Suprema de Justiça mudou o rumo da investigação ao suspeitar que foi Uribe, então congressista, quem tentou suborná-los para alterarem suas versões.

Após múltiplas manobras judiciais, Uribe renunciou ao Senado em 2020, perdeu seus privilégios parlamentares e o caso passou para a Justiça comum.

O presidente Petro criticou as declarações dos Estados Unidos sobre a decisão. 

“Interferência nos assuntos judiciais de outro país é interferência na soberania nacional. O mundo deve respeitar os juízes da Colômbia”, disse Petro no X.

“A Justiça deixou de ter em sua esfera figuras consideradas intocáveis, imunes. Pois bem, hoje elas não são mais”, disse Cepeda à AFP, que pediu a Uribe que “diga a verdade ao país”. 

– “Com dor” –

A decisão representa um revés para Uribe, que foi o primeiro presidente reeleito da história moderna do país. Após deixar o poder, o líder de direita manteve um alto nível de popularidade que o permitiu apadrinhar seus dois sucessores. 

Juan Felipe Amaya, membro de sua equipe jurídica, disse que aceitou a sentença “com dor”. “Mas este não é o fim deste processo”, acrescentou.

De acordo com um paramilitar condenado que foi testemunha no julgamento, Uribe e seu irmão Santiago participaram da criação de um grupo ilegal conhecido como Bloque Metro no departamento de Antioquia.

O ex-presidente começou a ser investigado em 2018. Em 2020, foi detido em prisão domiciliar e renunciou ao Senado.

O caso passou a ser investigado pelo Ministério Público, aliado à direita, que conseguiu sua liberdade e pediu várias vezes que o caso fosse arquivado.

No entanto, em 2024, após a chegada de uma procuradora-geral considerada alinhada a Petro, o órgão acusador convocou Uribe para um julgamento no qual mais de 90 testemunhas prestaram depoimento.

“A consciência me diz: eu disse a verdade”, afirmou Uribe nos argumentos finais.

– ‘Relógio espião’ –

Um paramilitar que depôs contou que um dos advogados de Uribe o pressionava em visitas à prisão para que alterasse sua versão e tentou suborná-lo. O advogado é réu em outro julgamento.

“Nunca fiz diretamente nem através do doutor Diego Cadena ofertas, muito menos para mentir”, disse Uribe durante o julgamento, que foi transmitido ao vivo pela imprensa.

As principais provas foram uma reunião do advogado de Uribe com esse paramilitar, que ele gravou com uma câmera instalada em um “relógio espião”, segundo a juíza, além de interceptações telefônicas do ex-presidente que a defesa sempre considerou ilegais.

Uribe é defendido e criticado em igual medida por sua guerra contra a insurgência, em meio a fortes questionamentos por supostos abusos aos direitos humanos durante o seu governo.

das/lv/mel-lbc/aa/lm/ic/rpr

Mais lidos

Os mais discutidos

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR