The Swiss voice in the world since 1935

Ex-presidente Sarkozy deve ser preso após nova condenação na França

afp_tickers

O ex-presidente conservador Nicolas Sarkozy deverá entrar em breve na prisão, depois que a Justiça francesa o condenou, nesta quinta-feira (25), a uma pena de cinco anos no caso sobre o suposto financiamento ilegal de sua campanha eleitoral de 2007 por parte da Líbia.

Sarkozy, 70 anos, está prestes a ser o primeiro ex-presidente francês a ser levado para uma prisão, já que o tribunal de Paris solicitou a aplicação provisória da pena. A Justiça deve comunicar em 13 de outubro a data do início do cumprimento da pena. 

A condenação por associação criminosa segue outras duas por corrupção, tráfico de influência e financiamento ilegal de campanha em 2012, uma das quais provocou a perda da principal distinção francesa, a Legião de Honra. Sarkozy nunca passou um dia na prisão.

“Vou dormir na prisão com a cabeça erguida. Sou inocente”, reagiu o ex-presidente (2007-2012), quem considerou sua condenação de “extrema gravidade para o Estado de Direito” e chamou a sentença de “injustiça insuportável”.

“O ódio não tem limites”, acrescentou.

Sarkozy anunciou que vai apresentar recurso, mas isto não o livrará de ser levado para a prisão. O ex-presidente compareceu ao tribunal acompanhado de sua esposa, a modelo, cantora e atriz Carla Bruni-Sarkozy, e de três de seus filhos, constataram repórteres da AFP.

Jean-Michel Darrois, um dos seus advogados, disse que o ex-presidente estava “abalado” e destacou as “consequências para sua esposa, seus filhos, sua família”. “Estamos absolutamente estupefatos com esta decisão”, acrescentou.

A presidente do tribunal, Nathalie Gavarino, explicou que Sarkozy, que também já exerceu o cargo de ministro do Interior, é culpado de ter “permitido que seus colaboradores próximos (…) atuassem com o objetivo de obter apoios financeiros”.

O processo, no entanto, não conseguiu demonstrar que “o dinheiro que saiu da Líbia” foi utilizado “em última instância” para financiar de forma oculta a vitoriosa campanha eleitoral de 2007, explicou a magistrada.

– Aliados condenados –

A Promotoria havia solicitado, em março, sete anos de prisão, por considerá-lo o “verdadeiro” responsável por um pacto com o ditador líbio Muammar Kadhafi, que morreu em 2011. O tribunal absolveu o ex-presidente da acusação de corrupção.

Para os investigadores, Sarkozy e sua equipe prometeram ajuda a Kadhafi para restaurar sua imagem internacional, depois de Trípoli ter sido acusada por atentados contra um avião na Escócia e outro no Níger, em troca de dinheiro para a campanha eleitoral.

Outras 11 pessoas foram julgadas. A Justiça condenou a seis anos de prisão o seu ex-braço direito Claude Guéant por corrupção e associação criminosa, e a dois anos de prisão o ex-ministro Brice Hortefeux. Três foram absolvidas. 

O caso é baseado em declarações de sete ex-dirigentes líbios, viagens à Líbia de Guéant e Hortefeux, transferências de dinheiro e nos cadernos do ex-ministro do Petróleo líbio Shukri Ghanem, encontrado afogado no rio Danúbio em Viena em 2012.

Um dos principais acusadores, o empresário franco-libanês Ziad Takieddine morreu aos 75 anos na terça-feira em decorrência de uma parada cardíaca. Takieddine afirmou diversas vezes que, em 2006 e 2007, ajudou a entregar a Sarkozy e sua equipe dinheiro procedente de Kadhafi.

Posteriormente, ele se retratou de suas acusações, e depois caiu em contradição. A Justiça abriu outra investigação contra Sarkozy e também contra sua esposa por suspeitas de pressionar uma testemunha.

– Histórico judicial –

A Procuradoria Nacional Financeira (PNF) deve comunicar a ele em 13 de outubro a data de sua entrada na prisão, segundo uma fonte próxima ao caso. Outra fonte judicial indicou que ele seria encarcerado em um “prazo relativamente curto” após sua convocação.

Sarkozy se tornou este ano o primeiro ex-chefe de Estado francês a usar uma tornozeleira eletrônica, no marco de sua condenação a um ano de prisão por corrupção e tráfico de influência no chamado caso das “escutas”. 

A Corte de Cassação examinará no dia 8 de outubro seu recurso no caso “Bygmalion”, relacionado ao financiamento de sua fracassada campanha presidencial de 2012, pelo qual foi condenado a seis meses de prisão. 

Apesar das condenações, Sarkozy continua sendo um político influente da direita e costuma conversar com o atual presidente, o centro-direitista Emmanuel Macron. O líder de seu partido conservador, o ministro do Interior Bruno Retailleau, lhe expressou “apoio”. 

A líder de extrema direita Marine Le Pen considerou um “perigo” a aplicação provisória das pena, que, na opinião dela, vai contra a presunção de inocência.

Ela é objeto de uma pena de inelegibilidade por desvio de fundos europeus, o que a impede de se candidatar à eleição presidencial de 2027, apesar de ter apresentado recurso contra a sentença.

ng-edy/tjc/avl/fp/jc/dd/ic/mvv

Mais lidos

Os mais discutidos

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR