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Gisèle Pelicot enfrenta último de seus acusados por estupro na França

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Gisèle Pelicot retornou a um tribunal na França nesta segunda-feira (6), quase um ano após a condenação de 51 homens por agressão sexual, depois que um deles recorreu da sentença alegando que “nunca” quis estuprá-la. 

Pelicot, que se tornou um símbolo feminista mundial, chegou ao tribunal em Nîmes sob aplausos e apertou as mãos de várias pessoas que expressaram seu apoio, antes de entrar no julgamento de um de seus supostos estupradores, Husamettin Dogan. 

“Chega de estupros” e “Estupradores, que vergonha!”, diziam faixas penduradas do lado de fora do tribunal. 

Vestindo um casaco rosa e sem fazer nenhuma declaração, Gisèle Pelicot, de 72 anos, caminhou ao lado de um de seus filhos, Florian, enquanto o acusado subiu discretamente os degraus do tribunal, escondido sob boné, máscara e óculos, observou um jornalista da AFPTV. 

“Estou aqui porque nunca quis estuprar esta senhora, a quem respeito. Tenho todo o respeito por ela”, declarou Husamettin Dogan ao tribunal, apoiando-se em uma bengala devido a problemas de saúde.

O caso chocou o mundo. Em dezembro, um tribunal de Avignon condenou o ex-marido de Gisèle, Dominique Pelicot, à pena máxima de 20 anos de prisão por drogá-la com tranquilizantes entre 2011 e 2020 para fazê-la dormir e estuprá-la com estranhos. 

Os juízes também condenaram 50 desses homens a penas entre 3 e 15 anos de prisão. Embora 17 tenham inicialmente apelado da sentença, apenas um deles manteve o recurso. 

Embora tenha sido condenado a 9 anos de prisão em dezembro, o ex-pedreiro agora pode ser condenado novamente a 20 anos por estupro. 

A pressão sobre este homem de 44 anos será intensa. Ao contrário do primeiro julgamento, ele ficará sozinho no banco dos réus em um caso de grande interesse social. Mais de 100 jornalistas de todo o mundo foram credenciados. 

Um grupo feminista se reuniu para “recebê-lo” antes do início da audiência, e outras manifestações foram anunciadas em frente ao tribunal de Nîmes durante o julgamento, que deve terminar na quarta ou quinta-feira. 

Pelicot está presente no tribunal para “virar a página” definitivamente, embora “preferisse ficar onde está para se concentrar em sua nova vida e seu futuro”, disse seu advogado, Antoine Camus, antes do julgamento.

– “Sim, são realmente estupros” –

Os fatos em julgamento ocorreram na noite de 28 de junho de 2019, na casa da família Pelicot, em Mazan. 

O acusado afirma que Dominique, que ele conheceu online, o manipulou. O ex-marido de Gisèle Pelicot teria lhe dito que sua esposa estava de acordo e fingia estar dormindo. Dominique nega.

Naquela noite, o réu estava no meio do ato quando percebeu que algo estava errado, pois a mulher roncava. Embora alegue ter saído às pressas, não achou necessário alertar as autoridades. 

O ex-marido da vítima, que está preso, prestará depoimento na terça-feira. Sua advogada, Béatrice Zavarro, indicou que ele manterá sua posição desde o primeiro julgamento: “Sou um estuprador e todos os homens neste tribunal também o são”. 

A vítima não entende essa “negação persistente”, especialmente quando existem vídeos, segundo Camus. “Ela precisa que a Justiça lhe diga: ‘Todos os estupros que vimos, sim, são realmente estupros'”, acrescentou. 

Ao renunciar a um julgamento a portas fechadas em Avignon para que “a vergonha mudasse de lado”, Gisèle Pelicot tornou-se um ícone feminista, e seu rosto foi visto em todo o mundo. 

Este julgamento, que transcendeu as fronteiras da França, também desencadeou intensos debates sobre violência sexual, consentimento, submissão química e até mesmo a definição legal de estupro.

dac-siu/tjc/an/pb/jc/aa

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