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Leão XIV lamenta declínio da fé em favor do ‘dinheiro’ ou ‘poder’

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O papa Leão XIV lamentou, nesta sexta-feira (9), o declínio da fé em favor do “dinheiro”, do “poder ou do prazer”, na primeira missa de seu pontificado, enquanto o mundo observa de perto seus primeiros passos para tentar compreender como vai liderar a Igreja.

O segundo pontífice das Américas, de 69 anos, nascido nos Estados Unidos e que tem cidadania peruana, foi eleito na quinta-feira após dois dias de conclave. Sua entronização ocorrerá em 18 de maio.

No mesmo cenário de sua eleição, a Capela Sistina, o papa denunciou que “ainda hoje não faltam contextos em que a fé cristã é considerada uma coisa absurda, para pessoas fracas e pouco inteligentes; contextos em que em vez dela se preferem outras seguranças, como a tecnologia, o dinheiro, o sucesso, o poder e o prazer”.

A Igreja deve ser “arca de salvação que navega sobre as ondas da história, farol que ilumina as noites do mundo”, acrescentou o líder espiritual de 1,4 bilhão de católicos no mundo.

Diante dos cardeais que o elegeram, Robert Francis Prevost, que foi missionário no Peru, fez um alerta contra a tentação de reduzir a figura de Jesus a um “líder carismático ou super-homem”, em uma aparente mensagem aos cristãos evangélicos.

Seus primeiros passos são acompanhados de perto. Embora sua eleição seja considerada um sinal de continuidade com o papado de Francisco, também se espera que ele seja um papa mais formal nas questões litúrgicas.

“Buscávamos alguém que seguisse os passos de Francisco, mas (…) acho que o papa Leão XIV não será uma fotocópia” do antecessor, disse o cardeal americano Robert W. McElroy.

Ao contrário de Francisco, Leão XIV vestiu durante sua apresentação aos fiéis na basílica de São Pedro a estola papal, mas calçou, como o jesuíta argentino, sapatos pretos – e não os tradicionais vermelhos papais.

– De Chicago a Chiclayo –

Sua eleição como o 267º papa da Igreja continuou surpreendendo, nesta sexta, os fiéis na praça do Vaticano e em outros locais do mundo.

“Os cardeais fizeram uma escolha muito boa”, declarou à AFP a austríaca Barbara Boterberch em Jerusalém, destacando que a história de Leão XIV o transforma em um papa “imigrante”.

Robert Francis Prevost nasceu em Chicago em 1955, em uma família com origens em vários países como Espanha e França, e em 2015 também obteve a nacionalidade do Peru, nação em que atuou como missionário e bispo em Chiclayo.

A defesa dos migrantes foi uma constante durante o pontificado de seu antecessor argentino. Há alguns meses, quando ainda era apenas o cardeal Prevost, o novo papa criticou a política migratória dos Estados Unidos de Donald Trump. 

Mas, segundo a imprensa italiana, foi o cardeal Timothy Dolan, “o homem do presidente Donald Trump no Vaticano”, quem negociou seus apoios no conclave, como já fizera em 2013 com a eleição de Francisco.

Desta vez, os cardeais dos Estados Unidos estabeleceram um bloco e Prevost recebeu também o apoio dos representantes da África e da Ásia, assim como finalmente de quem figurava como grande favorito, o italiano Pietro Parolin, segundo a imprensa.

– “Apelo à paz” –

Leão XIV assume uma Igreja que enfrenta muitos desafios, como a crise vocacional, o papel das mulheres e os casos de abusos sexuais na Igreja. 

Associações de vítimas destes abusos, como SNAP e Bishop Accountability, receberam com preocupação sua nomeação, ao considerar que no passado ele manteve o sigilo dos casos que supervisionou.

Além dos problemas internos, somam-se os vários conflitos no mundo, o avanço dos governos populistas e a crise climática que se agrava.

Sua eleição aconteceu no maior e mais internacional conclave da História da Igreja, que reuniu 133 cardeais eleitores procedentes de todos os continentes (quase 70 países) na Capela Sistina.

Já na quinta-feira, em seu primeiro discurso como papa, ele fez um “apelo à paz” a “todos os povos” e pediu para “construir pontes” através do diálogo”.

A eleição de Leão XIV e suas palavras geraram uma onda de cumprimentos e elogios de líderes internacionais, dos Estados Unidos à Colômbia, passando por Brasil, México, Ucrânia, Rússia ou Espanha.

A presidente do México, Claudia Sheinbaum, assegurou, nesta sexta, que convidará o pontífice para visitar seu país, que Francisco visitou em 2016.

– Entronização em 18 de maio –

Os próximos passos do novo pontífice o levarão a pronunciar a bênção Regina Coeli no domingo na praça de São Pedro, antes de receber a imprensa em uma audiência na segunda-feira.

No entanto, o outro evento crucial de sua chegada ao trono de São Pedro será sua entronização, em 18 de maio, com uma missa que será celebrada diante de líderes políticos e religiosos de todo o mundo.

O primeiro papa chamado Leão desde 1903 chega ao trono de São Pedro com uma inclinação pastoral, perspectiva global e capacidade para governar a cúria vaticana, além de uma reputação de moderado e construtor de pontes.

A escolha de seu nome papal, uma aparente homenagem a Leão XIII (1878-1903), indica para os analistas a “marca social” que pretende dar ao seu pontificado.

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