Palestinas que deixaram Gaza tentam reconstruir suas vidas na Grécia
A palestina Raghad Al Fara foi transferida em fevereiro de Gaza para a Grécia após sofrer ferimentos graves. Agora, ela se desloca com muletas pelas ruas de Atenas, onde tenta, com dificuldade, reconstruir sua vida como adolescente.
“Não pensei que sobreviveria e muito menos que poderia pisar em solo europeu”, contou à AFP a jovem de 15 anos, no abrigo para mulheres refugiadas onde vive após obter asilo na Grécia.
Raghad faz parte de um grupo de 10 menores de Gaza que sofreram “ferimentos complexos, tanto ortopédicos quanto psicológicos” acolhidas pelas autoridades gregas, segundo o secretário-geral de pessoas vulneráveis do Ministério das Migrações, Iraklis Moschov.
A adolescente, que foi ferida em um bombardeio israelense, foi transferida junto com a mãe Shadia e a irmã mais nova, Argwan. O restante da família, três irmãos e o pai, permanece em Gaza.
Ao todo, 26 palestinos chegaram a Atenas em fevereiro, segundo o Ministério das Relações Exteriores grego.
“Quando soubemos que a Grécia (…) aceitava nos acolher, foi um alívio”, expressou a mãe. A palestina Sara Al Sweirki, de 20 anos, que também vive na capital grega, está decidida a “não ser apenas uma sobrevivente”.
“Quero ser como as outras garotas da minha idade, aprender a tocar guitarra e piano e estudar”, exclamou a jovem que saiu de Gaza em setembro com sua mãe e seu irmão.
Sara, que foi admitida na Universidade Americana de Atenas, continuará seus estudos em janeiro. Escolheu o curso de psicologia “para ajudar outros a superar seus traumas”, relatou.
– Traumas –
Raghad Al Fara não recebeu apoio psicológico apesar do grave trauma sofrido, lamentou sua mãe. Em julho de 2024, a jovem ficou ferida durante um bombardeio israelense em Khan Yunis que deixou centenas de vítimas. Sua perna direita e suas costas ficaram sob os escombros de um edifício.
“Durante dois meses, minha filha esteve conectada a um respirador e durante sete meses, acamada, incapaz de se movimentar”, recorda Shadia. Ao chegar à Grécia, Raghad foi atendida por um ortopedista e um fisioterapeuta em um hospital infantil.
No entanto, “ela teve que esperar meses antes de obter um cinto de suporte e eu tive que me virar para comprar sapatos ortopédicos para ela”, recorda sua mãe.
“A Grécia assumiu a responsabilidade de nos acolher, mas depois nos abandonou”, afirmou esta ex-cabeleireira, que afirma não ter recebido nenhuma ajuda do Estado grego.
Segundo Latif Darwesh, um dos representantes da comunidade palestina de Atenas, “não há vontade política” para acolher os feridos de Gaza. “O governo atual esqueceu sua amizade histórica com o povo palestino”.
Muitos estudantes palestinos se refugiaram na Grécia nos anos 1980.
Após o ataque do movimento islamista Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023, e os subsequentes bombardeios israelenses sobre Gaza, a solidariedade aos palestinos cresceu entre a população grega.
– Futuro incerto –
Segundo uma pesquisa recente, 74% dos gregos entrevistados apoiam o reconhecimento de um Estado palestino, algo que o governo do primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis ainda não fez.
Sara Al Sweirki não sabe se permanecerá “para sempre”, mas acredita que “o futuro de Gaza é muito incerto”.
O acordo de trégua em vigor desde 10 de outubro “não é sinônimo de reconstrução”, alerta a mãe de Raghad, que matriculou suas filhas em uma escola grega.
“Não podemos voltar para viver em tendas com medo de que os bombardeios sejam retomados”, declarou. “Meus outros três filhos em Gaza (…) me pedem para tirá-los daquele inferno. Sinto-me impotente”.
Sara olha para o futuro. “Meu sonho foi interrompido” após 7 de outubro de 2023. “Mas agora estou mais determinada do que nunca a seguir meu objetivo” de estudar, concluiu.
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