WEF garantiu a Trump que temas “politicamente corretos” vão ficar de fora da agenda
Donald Trump concordou em participar da reunião do Fórum Econômico Mundial (WEF) em Davos, em janeiro, depois que os organizadores garantiram que temas abertamente “politicamente corretos” não teriam destaque no encontro anual nos Alpes, de acordo com pessoas familiarizadas com as negociações.
Em uma reunião no outono, funcionários do governo Trump pediram aos funcionários do WEF que retirassem ou reduzissem temas específicos da agenda como condição para a participação do presidente dos EUA. A informação foi repassada ao Financial Times por diversas fontes que acompanham as negociações.
Autoridades seniores dos EUA pediram à administração de Davos que suavizasse ou evitasse discussões sobre áreas como empoderamento feminino e diversidade, transição verde, mudanças climáticas e financiamento do desenvolvimento internacional como condição para sua participação, disseram duas das pessoas.
No fim de novembro, Washington anunciou que Trump voltaria ao evento suíço pessoalmente pela primeira vez em seis anos. A última presença do americano no fórum foi um discurso virtual dias após sua posse em janeiro, quando ele comunicou à elite empresarial reunida que deveria fabricar seus produtos nos EUA ou enfrentar tarifas.
“O lado americano queria garantir que a participação de Trump no evento de elite ainda fosse bem recebida por sua base Maga”, disse uma das pessoas se referindo ao movimento “Make America Great Again” que concentra os apoiadores mais radicais de Trump.
Uma das pessoas disse que o WEF, que já havia se tornado mais pragmático em relação ao cenário geopolítico global, foi capaz de oferecer tais “garantias” aos funcionários do governo Trump.
A pressão do governo Trump sobre o WEF em relação a essas questões ecoou as demandas feitas em outros fóruns multilaterais como condição para a continuidade da participação dos EUA, disse uma terceira pessoa.
Retirada dos EUA e suspensão da ajuda
Sob Trump, os EUA se retiraram do Acordo Climático de Paris e suspenderam grande parte da ajuda externa americana — incluindo programas ligados à mitigação das mudanças climáticas, saúde e direitos das mulheres e meninas e desenvolvimento global. O presidente também cancelou os esforços e programas do governo federal em prol da diversidade.
“Segundo o que o presidente Trump falou na ONU, o mundo se beneficiaria ao adotar o foco dos Estados Unidos na segurança econômica, fronteiras seguras e paz por meio da força, em vez da ideologia woke”, disse um porta-voz da Casa Branca em resposta a perguntas sobre as negociações com o WEF.
O WEF disse: “nenhum governo influencia nossa independência editorial ou a agenda de nossas reuniões”, acrescentando: “Selecionamos os temas e tópicos das reuniões com base na relevância global”.
Outra pessoa familiarizada com as discussões descreveu as conversas entre o alto escalão americano e os organizadores do fórum como “rotineiras”.
“O WEF nunca concordaria com qualquer pedido para moldar ou alterar a agenda, no entanto, é normal que os tópicos e discussões para as partes interessadas presentes na cúpula sejam levantados em tal reunião”, disse a pessoa.
“Um espírito de diálogo”
O tema da reunião de Davos em 2026 é “Um espírito de diálogo”. As discussões se concentrarão em cinco desafios globais: cooperação em um mundo contestado, desbloqueio de novas fontes de crescimento, investimento em pessoas, implantação responsável da inovação e construção da prosperidade “dentro dos limites planetários”.
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Nos anos anteriores, o fórum se inclinou mais fortemente para temas climáticos e da agenda social. Em 2019, a ativista estudantil Greta Thunberg fez um discurso alertando que “nossa casa está pegando fogo” e instou os líderes a agirem contra a crise climática.
Em 2020, o fórum lançou a “Grande Reinicialização” do capitalismo, uma iniciativa pós-pandêmica que promove a sustentabilidade, a inclusão e a mudança sistêmica. O plano de recuperação inspirou rumores falsos sobre a criação de uma conspiração globalista da elite para desmantelar o capitalismo.
O WEF registrou receitas de 469 milhões de francos suíços (US$ 585 milhões) no ano encerrado em junho de 2025. O evento diversificou seus patrocínios globais, incluindo algumas grandes empresas americanas.
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WEF tenta se estabilizar após turbulência
O WEF atravessa uma turbulência há quase 18 meses, desencadeada por denúncias que levaram a duas investigações formais sobre a governança da organização e a conduta de seu fundador, Klaus Schwab.
Schwab renunciou após mais de cinco décadas no comando no início deste ano. As investigações — que não encontraram irregularidades materiais, mas citaram pequenas irregularidades — continuam a ofuscar a instituição.
O WEF agora está tentando se estabilizar com uma nova liderança interina. Em agosto, nomeou o chefe da BlackRock, Larry Fink, e o vice-presidente da Roche, André Hoffmann, como seus novos copresidentes e prometeu uma supervisão mais rigorosa na governança.
Em outubro, o fórum informou que as inscrições para o evento já haviam atingido um recorde. Os organizadores esperam contar com a presença de mais de 60 chefes de Estado e de governo em janeiro, além de 300 líderes governamentais e 1.600 representantes de empresas e ONGs.
Copyright The Financial Times Limited 2025
Adaptação: Clarissa Levy
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