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Cruz Vermelha pede fim das bombas de fragmentação

É cada vez maior a crítica ao uso de bombas de fragmentação. Keystone

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) pediu na segunda-feira a suspensão imediata do uso de bombas de fragmentação no mundo e a destruição dos estoques.

Nesse sentido, uma conferência dos países signatários da Convenção sobre Armas Convencionais será iniciada hoje em Genebra para debater o fim desse tipo de armamento.

A principal preocupação dos representantes do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) é impedir que exércitos continuem utilizando bombas de fragmentação contra alvos em áreas densamente povoadas, como foi o caso de Israel e sua atuação no sul do Líbano.

O órgão sediado na Suíça também afirmou que irá organizar uma conferência de especialistas no ano que vem para debater um possível pacto global relativo a esse tipo de armamento.

Na Suíça, a iniciativa lançada no ano passado pelo deputado federal John Dupraz fará com que a questão da erradicação das bombas de fragmentação seja debatida em breve no Parlamento Federal. O exército helvético teria 200 mil armas desse tipo nos seus estoques, além de produzi-las.

Armas nocivas

“O CICV acha que chegou a hora de uma forte ação internacional para acabar com o previsível padrão de tragédia humanitária associada às munições de fragmentação”, disse Philip Spoerri, dirigente da Cruz Vermelha, em entrevista coletiva.

O debate já dura anos, mas se intensificou nas últimas semanas devido ao uso de armas de fragmentação israelenses durante a guerra contra o Hezbollah no sul do Líbano, em julho e agosto.

A reunião de dez dias que começa na terça-feira em Genebra visa a rever a atual convenção internacional sobre armas convencionais, escrita há 23 anos, que proíbe ou limita o uso de armamentos especialmente nocivos às pessoas.

“Lamentavelmente, o letal legado dessas armas [bombas de fragmentação] está sendo demonstrado frequentemente, com Estados sendo incluídos na lista de países afetados quase anualmente”, disse Spoerri.

No Laos e no Afeganistão, segundo ele, bombas de fragmentação usadas nas décadas de 1970 e 80 continuam matando e mutilando civis. Isso dificulta o cultivo das terras, limita obras de reconstrução e desvia verbas de projetos sociais.

Outros países e regiões onde essas armas foram usadas mais recentemente incluem Eritréia e Etiópia, Sérvia e Montenegro, Iraque (durante a invasão norte-americana de 2003) e Líbano (neste ano).

EUA defendem o uso

O Departamento de Estado dos EUA defendeu o uso de bombas de fragmentação, mas disse que deve haver esforços para evitar vítimas civis.

“Os EUA acreditam que se trata de uma munição legalmente aceitável, mas é claro que tem de ser usada muito cuidadosamente em termos das regras de abordagem militar”, disse o porta-voz Tom Casey a jornalistas.

Estudo internacional

Quase todas as vítimas de bombas de fragmentação nas últimas três décadas foram civis, sendo um quarto deles crianças, declarou na semana passada a ONG Handicap International.

Em estudo feito em 24 países e regiões, a agência humanitária disse que o armamento polêmico, matou, feriu ou mutilou 11.044 pessoas, sendo 98 por cento civis. O grupo quer proibir o uso deste tipo de bomba, que durante a queda espalha centenas de bombas menores por uma ampla área.

A falta de registro de vítimas em locais como Afeganistão, Iraque e Vietnã significa que o total de fato pode ser 10 vezes maior, disse o grupo. Cerca de 27 por cento das vítimas são crianças, a maioria meninos, que estavam trabalhando ou brincando em áreas onde a munição que não explodiu no lançamento representa uma ameaça permanente a civis.

Bombas no Líbano

As bombas de fragmentação foram usadas recentemente por Israel em sua guerra de um mês contra guerrilheiros do Hezbollah no Líbano. A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que 100 mil bombas deixaram de explodir e continuam ativas no Líbano e que a maior parte foi lançada nas últimas 72 horas de guerra. A Handicap International disse que elas ainda causam entre duas a três vítimas por dia no sul do Líbano.

O Hezbollah também usou esta munição no conflito de 12 de julho a 14 de agosto, mas em escala menor, e o crescente uso desta arma por grupos guerrilheiros é preocupante, afirmou a agência. Outros locais mencionados no relatório são Chade, Laos, a região russa da Chechênia e Kosovo.

Das 360 milhões de armas estimadas, cerca de 33 milhões ainda não teriam explodido. Segundo os dados do estudo, 84% das vítimas são homens, entre eles, 40% meninos menores de 18 anos. Até agora, a Bélgica foi o único país do mundo a proibir o uso dessas bombas.

swissinfo com agências

– Um relatório divulgado pela Handicap International informou que 98% das vítimas de bombas de fragmentação são civis, 27% deles crianças.(ANSA)

– Em estudo feito em 24 países e regiões, a Handicap International disse que o armamento polêmico, matou, feriu ou mutilou 11.044 pessoas, sendo 98% civis. O grupo quer proibir o uso deste tipo de bomba, que durante a queda espalha centenas de bombas menores por uma ampla área.

– Das 360 milhões de armas estimadas, cerca de 33 milhões ainda não teriam explodido.

– Segundo os dados do estudo, 84% das vítimas são homens, entre eles, 40% meninos menores de 18 anos. Mas, “em países como Kosovo e Camboja, as crianças são as mais atingidas”, disse o especialista.

– O país onde a organização contabilizou mais vítimas é o Laos (com 4.813 vítimas, 2.165 fatais), seguido do Iraque (2.060, 801), Vietnã (1.275, 557), Afeganistão (701, 550), Chechênia (624, 319), Líbano (494, 376), Croácia (277, 258), Etiópia (272, 215), Kosovo (164, 103) e Camboja (120, 91).

Há diversos tipos de bombas de fragmentação. Em geral, elas são formadas por diversas bombas menores, que são espalhadas e detonadas na hora de atingir o chão ou ainda do céu.
As bombas de fragmentação podem ser jogadas de vários tipos de avião. O tipo de explosivo contido nas bombas menores e a área atingida também variam.
Um exemplo: a bomba modelo CBU-87/B é fabricada pelos Estados Unidos. Ela pesa 430 quilos e carrega 202 bombas menores.
Uma conferência dos países signatários da Convenção sobre Armas Convencionais será realizada entre 7 e 17 de novembro, em Genebra, quando será estudada a aprovação de um texto proibindo o uso de bombas de fragmentação.

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