Integração de estrangeiros vira tema de campanha
Os partidos governamentais descobriram um tema comum para atrair os eleitores: a política de integração de estrangeiros.
swissinfo entrevistou quatro presidentes de partidos que participam do governo durante um encontro realizado em Berna. Um projeto de compromisso apresentado por políticos de centro-direita pode ser aprovado como plataforma unânime.
Essa é uma realidade incontestável: uma má integração dos estrangeiros conduz com freqüência ao desemprego, à pobreza, a comportamentos ilegais e à dependência de assistência social.
Por conseqüência, uma melhor integração é o interesse de toda a sociedade e de seus representantes, os políticos.
Não é de se surpreender que o tema seja uma das prioridades dos quatros partidos suíços membros do governo. Ele dominou o encontro trimestral realizado, em 16 de novembro em Berna, dos presidentes do Partido Radical-Democrático (PRD/direita), Partido Democrata-Cristão (PDC/centro-direita), União Democrática do Centro (UDC/direita dura) e Partido Social-Democrata (PS/esquerda).
Os quatro partidos apresentaram nos últimos meses projetos de política de integração. Os socialistas também se uniram a esse exercício, com uma apresentação realizada há uma semana.
Aplicar a nova Lei de Estrangeiros
Em seu projeto, intitulado “A Suíça requer uma política de integração ofensiva”, o Partido Social-Democrata estima que a nova Lei de Estrangeiros, aprovada pelo eleitor suíço durante um plebiscito realizado em 24 de setembro, possa ser a base de um “contrato de integração”.
Os imigrantes devem comprometer-se a aprender o idioma local e informar-se sobre as leis e os valores fundamentais da sociedade helvética.
“A nova Lei de Estrangeiros contem um artigo que, pela primeira vez na história da Suíça, pode ser um ponto de partida para uma política de integração nacional”, explica à swissinfo o presidente do PS, Hans-Jürg Fehr. “Nós devemos aplicar esse artigo o mais rápido possível”.
Participação ativa
“A integração é um ganho para a Suíça”, defende por sua parte o PRD no texto onde explica sua posição no tema. O partido também vai além das posições dos sociais-democratas: “Exigir e estimular”, ou seja, o estrangeiro que exige direitos precisa também cumprir seu dever.
De acordo com o presidente do PRD, Fulvio Pelli, a integração só pode ser bem-sucedida se a população participa dela em conjunto. “A boa vontade dos imigrantes não é suficiente. É preciso também que os suíços contribuam ao aceitar os novos membros da sociedade”, afirma.
Boa vontade
O PDC apresentou sua posição em abril sob o título “Liberdade religiosa e integração”. O partido põe acento nas relações entre os cristãos e a comunidade islâmica da Suíça.
“Fomos os primeiros a apresentar uma posição nesse sentido. Isso incentivou os outros partidos a apresentar o seu próprio conceito”, recorda-se o presidente recém eleito do PDC, Christophe Darbellay.
O partido também reclama a entrada em vigor da Lei de Estrangeiros. “Porém é preciso ter mais vontade. Com muita freqüência, aqueles que reclamam sem cessar uma melhor integração dos estrangeiros são os mesmo que freiam no momento de tratar das finanças para estabelecer medidas concretas”.
O programa federal de integração, com um orçamento de 14 milhões de francos, é visto por muitos observadores como insuficiente.
As mesmas regras para todos
No seu projeto, lançado em março de 2006, a União Democrática do Centro (UDC) reclama em tom elevado: “Nossas regras são válidas para todos”, escreve o partido. “Aquele que quer viver na Suíça tem de se esforçar para integrar-se”.
“O ponto central é certamente a aprendizagem do idioma”, sublinha o presidente da UDC, Ueli Maurer: “Saber o idioma permite sentir-se parte da sociedade e possibilita a sua evolução dentro dela”.
Durante anos, a UDC foi o único partido a converter sua política de estrangeiros no seu cavalo de batalha. As lideranças do partido afirmam que não se opõem ao fato de outras forças políticas terem entrado no seu terreno. “Eles se deram conta que faltava algo importante nos seus programas. É importante reconhecer os problemas que existem nessa questão dos estrangeiros da Suíça”, analisa Maurer.
Debate no encontro
A reunião prevista para ocorrer na quinta-feira em Berna (16 de novembro) deve desembocar numa aliança de centro-esquerda.
“A direção geral é a mesma para todos”, adianta Ueli Maurer. “Porém os meios privilegiados para chegar nela são distintos entre os partidos. Nós temos os instrumentos necessários, porém falta a vontade de todos os partidos de utilizá-los”.
Christophe Darbellay não compartilha dessa posição da UDC, a quem também acusa de aproveitar-se politicamente do tema da integração, sem querer verdadeiramente trabalhar para encontrar soluções concretas à questão.
“Nesse momento, três partidos governamentais têm a vontade de encontrar soluções”, afirma Darbellay. Segundo o político, uma cooperação entre o PDC é possível, ou seja, “possivelmente com o PRD ou o PS”.
Fluvio Pelli também acredita nela. “Vários partidos estão convencidos de que a integração é a solução de inúmeros problemas que podem surgir no futuro. Com esses partidos é mais fácil trabalhar”. Ele, porém, não quer fazer nenhum prognóstico antes da reunião marcada para hoje.
Hans-Jürg Fehr também se mostra confiante nos resultados do encontro. Existe, segundo ele, uma boa concordância com as posições do PRD.
“Considero que isso é, politicamente, muito positivo. Necessitamos da maioria federal para por em pé uma política de integração. Isso só é possível se conseguirmos criar uma aliança de centro-esquerda”.
swissinfo, Christian Raaflaub
Os suíços aprovaram nas urnas a nova Lei de Estrangeiros. O plebiscito foi realizado em 24 de setembro passado, sendo que a lei teve uma aprovação de 68% dos votos.
A lei prevê melhorias na situação dos estrangeiros que estão radicalizados na Suíça graças ao reforço das medidas de integração. Porém os estrangeiros também devem fazer um esforço na integração como, por exemplo, aprendendo algum dos idiomas falados na Suíça.
Nos últimos meses, os quatro partidos governamentais apresentaram suas próprios projetos de integração. O ponto em comum entre todos eles é a necessidade dos estrangeiros aprenderem o idioma local.
Na Suíça são denominados “governamentais” todos os partidos que contam com pelo menos um representante no Conselho Federal (governo federal)
Desde 1959, o Partido Radical-Democrático (PRD), o Partido Democrata-Cristão (PDC), a União Democrática do Centro (UDC) e o Partido Social-Democrata (PS) representam o governo colegiado helvético, formado por sete ministros de Estado.
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