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Mídia suíça critica pedido de desculpas oficial à Líbia

Presidente suíço explica acordo com a Líbia. Keystone

O pedido de desculpas da Suíça à Líbia pela prisão do filho de Muammar Gaddafi gerou críticas no país, mas, segundo o presidente Hans-Rudolf Merz, foi um passo indispensável para libertar dois "reféns" e normalizar as relações bilaterais.

Na opinião do presidente da Comissão de Política Externa do Parlamento, Dick Marty, a Suíça teve de capitular e se humilhou diante da pressão de Trípoli.

“Merz ajoelha-se diante de Gaddafi”, “De joelhos no deserto”, “Desculpas que doem”. Estas foram algumas das manchetes do jornais suíços nesta sexta-feira (21/8) sobre o acordo que pôs fim a mais de um ano de tensões entre a Suíça e a Líbia, desencadeadas em julho de 2008 pela prisão de Hannibal Gaddafi (filho do chefe de Estado líbio Muammar Gaddafi) e sua esposa, em Genebra.

A “Suíça capitula”, escreveu o Le Temps, de Genebra. Pior: “É obrigada a aceitar que um tribunal de arbitragem neutro julgue o caso, uma perspectiva que os diplomatas combateram durante muito tempo”. Segundo jornal, a Suíça não só pagou o “preço máximo” para restabelecer suas relações econômicas com a Líbia, como também tomou “consciência de sua impotência”.

Para o Tribune de Genève, o balanço da viagem de Merz a Trípoli foi desastroso. “Desde a detenção do gaiato líbio, duas vítimas retiraram sua denúncia (por maus-tratos) em troca de nada; outros dois inocentes (executivos suíços) foram privados de sua liberdade; nosso Estado de Direito foi ridicularizado; um tribunal estabelecido por um regime que desdenha a Justiça vai julgar a nossa; e empresas suíça perderam contratos. É muito”, escreveu.

Diversos diários de língua alemã foram menos severos, como o Berner Zeitung, que considera que “o conselheiro federal Merz elegeu com pragmatismo a boa via”. Esse é o tom também da reação do Neue Zürcher Zeitung. “Certamente a pílula é amarga (…), mas era indispensável para obter a libertação de dois suíços retidos como reféns há um ano.”

Merz explica o acordo

Diante da onda de críticas, Merz justificou sua missão a Trípoli (em 20/8), numa entrevista coletiva à imprensa, nesta sexta-feira, em Berna. O atual presidente suíço disse que sua viagem teve dois objetivos: o retorno dos dois suíços retidos naquele país e a normalização das relações entre a Suíça e a Líbia.

“Eu respeito o comportamento da polícia e das autoridades de Genebra”, disse Merz, referindo-se à divisão de poderes. Ao mesmo tempo, ele defendeu o atributo “desproporcional”, com o qual teria descrito na Líbia a prisão de Hannibal Gadaffi.

Merz rebateu a crítica de que teria se ajoelhado em Trípoli, repetindo mais uma vez o texto do pedido de desculpas incluído no acordo entre a Suíça e a Líbia. “Não havia outra alternativa para desatar o nó górdio”, disse. Ele explicou que não foi uma decisão aprovada pelo Conselho Federal (Executivo), mas que este sempre esteve informado.

O presidente, que ao mesmo tempo é ministro das Finanças, explicou aos jornalistas que o pedido de desculpas era uma “conditio sine qua non” para conseguir a permissão de saída do país dos dois suíços retidos na Líbia. Eles devem retornar à Suíça na próxima semana.

Merz explicou também que houve uma tentativa infrutífera de um estadista dos Emirados Árabes Unidos para intermediar o conflito. Como a polícia de Genebra garante ter feito tudo corretamente e a Líbia insiste que houve uma violação de Direito Internacional, a proposta de criação de um tribunal de arbitragem foi a saída para resolver o impasse, acrescentou.

“Irritação e alívio”

O presidente da Comissão de Política Externa do Parlamento suíço, Dick Marty, disse que tomou conhecimento do acordo entre a Suíça e a Líbia “com irritação e alívio”. “A Suíça teve de se desculpar por uma coisa que não tinha motivo”, disse o senador liberal, na sexta-feira, à agência de notícias SDA.

Segundo ele, foram violados princípios, como, por exemplo, o do tratamento igual perante a lei. “Hannibal Gaddafi não tinha status de diplomata quando foi preso. A Suíça aceita o contrário no acordo”, disse Marty.

Marty afirmou, no entanto, que está aliviado com o fim da crise. “A situação antes estava bloqueada e a Suíça havia tentado tudo para resolvê-la.” Ele disse estar aliviado também pela prometida libertação dos dois “reféns”. Em sua opinião, eles já deveriam ter voltado ao país com Merz. “Nesse ponto, a Suíça não deveria ter cedido”, concluiu.

Geraldo Hoffman (com colaboração de Isabelle Eichenberger) e agências

Até 2008, a Líbia era o principal parceiro comercial da Suíça na África – à frente da África do Sul e da Nigéria – com um volume de 1,937 bilhão de francos (2007).

Mais da metade das importações de petróleo cru da Suíça (2007: 56%) vinham da Líbia. Em 2008, elas cairam 70%, e, no primeiro semestre deste ano, 88%, o que foi atribuído à crise nas relações bilaterais.

A empresa petrolífera Tamoil (com 35% de capital líbio) possui mais 350 postos de gasolina e a refinaria de Collombey, no cantão do Valais (sudoeste suíço). A Líbia procura diversificar seus seus mercados de exportação.

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