
Saiba como está a guerra no Sudão entre Exército e paramilitares

A guerra do Sudão entrou em uma fase crítica com a intensificação dos combates entre o Exército regular e os paramilitares. O país corre o risco de se fragmentar de forma duradoura e atravessa uma grave crise humanitária.
O que começou em abril de 2023 como uma disputa pelo poder entre o Exército regular e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (FAR) tornou-se uma guerra brutal pelo controle do território. Os combates mais intensos estão agora concentrados nas regiões ocidentais de Darfur e Cordofão.
O Exército controla o norte, o leste e o centro do país, incluindo a capital Cartum e Porto Sudão, um porto estratégico às margens do Mar Vermelho. Lá está localizado o governo de transição formado sob a autoridade do general Abdel Fattah al Burhan, líder de fato do Sudão.
Os paramilitares das FAR, sob o comando do general Mohamed Daglo, dominam o sul do país e quase toda a região de Darfur, no oeste, onde formaram uma administração paralela na cidade de Nyala.
Al-Fashir, capital de Darfur Norte e última cidade da região sob controle do Exército regular, está prestes a cair.
Segundo diversos analistas, o grande risco é que, se as atuais linhas divisórias forem estabilizadas, o país possa ficar fragmentado de maneira duradoura, com administrações rivais controlando cada uma uma região, como acontece na Líbia.
A guerra causou dezenas de milhares de mortos e obrigou 12 milhões de pessoas a abandonarem suas casas.
Estas são as últimas novidades no campo de batalha:
Darfur: o longo cerco de Al-Fashir
As FAR cercam Al-Fashir desde maio de 2024 e avançaram nas últimas semanas sobre várias posições estratégicas, de acordo com imagens de satélite do Laboratório de Pesquisa Humanitária (HRL) da Universidade de Yale, nos Estados Unidos.
Mais de 260.000 civis estão presos lá. Muitos dizem sobreviver com comida para animais. Aqueles que tentam fugir estão expostos a espancamentos, estupros e até mesmo a serem assassinados, segundo os testemunhos recolhidos pela AFP e relatórios da ONU.
Ataques com drones das FAR deixaram 75 mortos em uma mesquita de Al-Fashir na semana passada, e pelo menos 15 mortos na terça-feira em um mercado.
Nyala, capital de Darfur do Sul, serve como capital provisória das FAR, que formaram lá um governo rival. É alvo de bombardeios do Exército e um ataque recente a uma clínica causou 12 mortes.
O Exército acusa os Emirados Árabes Unidos de fornecer aos paramilitares homens, armas e drones através do aeroporto de Nyala. Abu Dhabi nega isso.
Cordofão: massacres e crise humanitária
Os combates se intensificaram nos últimos meses em Cordofão, uma região ao leste de Darfur rica em petróleo e atravessada por rotas estratégicas.
As organizações humanitárias relatam um aumento vertiginoso nos preços dos alimentos básicos e uma desnutrição generalizada, especialmente entre as crianças.
Em julho, centenas de civis morreram em ataques das FAR contra povoados perto da cidade de Bara, em Cordofão do Norte, segundo a Emergency Lawyers, que documenta o conflito.
Cartum: reconstrução e ataques de drones
Em maio, o Exército recuperou do controle dos paramilitares o estado de Cartum, no centro-leste do país. Atualmente, obras de reconstrução estão sendo realizadas na capital, com vistas ao anunciado retorno das instituições.
No entanto, as FAR lançaram ataques em setembro contra locais estratégicos perto de Cartum: uma estação elétrica, uma refinaria de petróleo e uma fábrica de armamentos.
Por muito tempo a salvo dos combates, Porto Sudão foi atingida por drones das FAR em maio.
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