Secretário-geral da ONU alerta sobre ‘terrível escalada’ dos confrontos no Sudão
O secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou nesta segunda-feira (27) para uma “terrível escalada” dos combates na cidade sudanesa de El Fasher, assolada pela fome, de onde as tropas do exército se retiraram, segundo o general Abdel Fatah al Burhan.
Desde abril de 2023, o Sudão é palco de uma guerra pelo poder entre o general Abdel Fatah al Burhan, comandante do exército regular e líder de fato do país desde o golpe de Estado de 2021, e o general Mohamed Daglo, chefe do grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (FAR).
O conflito já causou dezenas de milhares de mortes e provocou o que a ONU descreve como “a pior crise humanitária do mundo”.
As FAR anunciaram no domingo que haviam tomado o controle total de El Fasher, a última grande cidade da vasta região ocidental de Darfur que ainda não estava sob seu domínio — um possível ponto de virada na implacável guerra civil.
Nesta segunda-feira, o general Al Burhan reconheceu em uma transmissão de TV “a retirada do exército de El Fasher para um local mais seguro” e afirmou que seu lado “se vingará” e lutará “até purificar aquela terra”.
A tomada de El Fasher “representa uma terrível escalada do conflito”, declarou Guterres em resposta a uma pergunta da AFP. “O nível de sofrimento que estamos testemunhando no Sudão é insuportável.”
Com a captura de El Fasher, sitiada há 18 meses, as FAR passariam a controlar todo o Darfur, onde estabeleceram uma administração paralela, desafiando o poder do general Burhan, que se encontra em Porto Sudão (leste).
O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, alertou para o risco crescente de “violações e atrocidades por motivos étnicos” na cidade.
Türk fez um apelo por “uma ação urgente e concreta (…) para garantir a proteção dos civis em El Fasher e uma passagem segura” para aqueles que tentam fugir.
Imagens divulgadas na página do comitê local de resistência no Facebook — um grupo civil pró-democracia que documenta o conflito — mostram civis em fuga e cadáveres espalhados pelo chão ao lado de carros em chamas.
Por sua vez, as FAR afirmaram estar conduzindo operações para “eliminar os últimos focos de terroristas e mercenários” e ter mobilizado equipes para “proteger os civis”.
A AFP não pôde verificar de forma independente o que está acontecendo no local nem se comunicar com os civis em El Fasher.
Segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), mais de 26 mil pessoas fugiram dos combates desde domingo, a maioria buscando refúgio nas áreas periféricas da cidade, enquanto outras seguiram para Tawila, 70 quilômetros a oeste.
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