Covid-19 revela miséria em uma das cidades mais ricas do mundo
Aproximadamente 2500 pessoas esperaram de 3 a 4 horas para conseguir uma sacola de alimentos em Genebra
Keystone / Martial Trezzini
A crise ligada à epidemia do coronavírus está empurrando uma parte escondida da população para a miséria. No sábado, mais de 2.500 pessoas fizeram fila em Genebra para conseguir uma sacola de alimentos no valor de 20 francos.
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Sou responsável da distribuição e dos canais de mídia social da redação de língua portuguesa, produzo reportagens e conteúdo multimídia, além de adaptações em português.
Suíço-brasileiro formado em jornalismo e comunicação social pela Universidade de Friburgo, Suíça. Ex-colaborador da antiga Rádio Suíça Internacional (RSI), que deu origem à SWI swissinfo.ch.
A Caravane de Solidarité é a associação por trás desta ação. Desde o início da pandemia, a distribuição de alimentos vem sendo organizada e os números estão crescendo a cada semana. A polícia precisou intervir para que as medidas de segurança contra a Covid-19 fossem respeitadas.
A demanda acabou levando a prefeitura de Genebra a ajudar a associação. No sábado, a distribuição foi feita dentro do rinque de patinação de Vernets, um dos bairros da cidade. Na parte externa do prédio, uma enorme fila se formou com várias centenas de metros de comprimento.
“Era preciso esperar até três horas para pegar os alimentos”, explica Christophe Jakob, membro da associação, à agência de notícias SDA-ATS. Entre as pessoas dispostas a ser tão pacientes por tão pouco, havia muitas ilegais que trabalham clandestinamente na economia doméstica, no cuidado de idosos ou na gastronomia, e que de repente ficaram sem nenhuma renda.
Há também famílias que, antes da crise do coronavírus, já viviam no limite, com pouco mais de 3.000 francos por mês, e que acabaram caindo na precariedade com a paralização da economia. “Não devemos esquecer que essas pessoas invisíveis também contribuem para a prosperidade do cantão de Genebra”, disse Jakob.
“Quanto mais tempo a crise durar, mais pessoas haverá”, adverte. A Caravane de Solidarité divulga suas informações através de sua conta no FacebookLink externo. Mas o boca a boca também funciona maravilhosamente bem nestas situações de emergência.
Situação indigna
“O que estamos testemunhando não é benigno, é um caso de emergência de saúde pública e uma situação excepcional em muitos aspectos”, disse Serge Mimouni, Vice-Diretor do Departamento de Coesão Social e Solidariedade da Cidade de Genebra, ao jornal Le TempsLink externo.
Além da ajuda alimentar, uma estrutura voluntária criada pelo Hospital Universitário de Genebra (HUG) e Médicos Sem Fronteira (MSF) oferece testes gratuitos para aqueles que apresentam sintomas da Covid-19. O serviço social da cidade inscreve as pessoas que podem se beneficiar de vales semanais no valor de 50 francos da associação Colis du cœurLink externo.
Patrick Wieland, chefe da missão do MSF contra a Covid-19 na Suíça, já viu campos de batalha e linhas de frente, mas ele nunca imaginou que tal situação poderia acontecer em Genebra: “As respostas à sondagem que o MSF realizou mostram que quem recebe ajuda teme menos o coronavírus do que suas consequências econômicas. Ironicamente, essas pessoas também se sentem fisicamente mais saudáveis agora que pararam de trabalhar e isso é uma indicação da dureza do trabalho realizado no serviço doméstico, na restauração ou em canteiros de obras”.
Para Esther Alder, responsável pelo Departamento de Coesão Social e Solidariedade, “o Estado deve assumir essa responsabilidade, pois é inaceitável que aqueles que trabalham na economia informal e contribuem para a riqueza do cantão sejam reduzidos a depender de pacotes de macarrão para sobreviver”.
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