
TPI emite ordens de prisão contra dois líderes talibãs por perseguição a mulheres

O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu ordens de prisão nesta terça-feira (8) contra líderes talibãs por perseguição a mulheres no Afeganistão, um crime contra a humanidade.
Os juízes do TPI afirmaram que havia “motivos razoáveis” para suspeitar que o líder supremo, Haibatullah Akhundzada, e o presidente da Suprema Corte do Afeganistão, Abdul Hakim Haqqani, “cometeram (…) o crime contra a humanidade de perseguição (…) com base no gênero”.
“Embora os talibãs tenham imposto algumas regras e proibições à população como um todo, visavam especificamente meninas e mulheres devido ao seu gênero, privando-as de direitos e liberdades fundamentais”, indicou o tribunal.
O órgão judicial afirmou que os supostos crimes teriam sido cometidos entre 15 de agosto de 2021, quando os talibãs chegaram ao poder no Afeganistão, e pelo menos 20 de janeiro de 2025.
O governo talibã “privou severamente” meninas e mulheres dos direitos à educação, privacidade e vida familiar e das liberdades de movimento, expressão, pensamento, consciência e religião, disseram os juízes do TPI.
“Além disso, outras pessoas foram visadas porque algumas expressões de sexualidade e/ou identidade de gênero foram consideradas incompatíveis com a política de gênero dos talibãs”, acrescentaram.
O governo talibã chamou a decisão de “absurda”.
Os mandados de prisão “não afetarão de forma alguma o firme compromisso [das autoridades talibãs] com a sharia [lei islâmica]”, disse o porta-voz talibã, Zabihullah Mujahid, em um comunicado.
Com jurisdição sobre crimes de guerra e contra a humanidade, o TPI não dispõe, entretanto, de sua própria força policial e, portanto, depende da boa vontade de seus 125 Estados-membros para executar mandados de prisão.
Em teoria, isto significa que qualquer pessoa sujeita a um mandado de prisão do TPI não pode viajar para outro país membro do órgão, sob pena de detenção.
– “Perseguição inadmissível” –
Após retornar ao poder em agosto de 2021, os talibãs prometeram que este segundo mandato seria menos rigoroso do que o seu primeiro governo (1996-2001). Mas rapidamente começaram a impor uma política que proíbe mulheres e meninas de frequentar espaços públicos, o que a ONU chamou de “apartheid de gênero”.
Atualmente, as mulheres afegãs não têm acesso a universidades ou ao ensino médio, nem podem frequentar parques, academias e salões de beleza.
Uma lei as proíbe de cantar e recitar poesia, seguindo, como as demais diretrizes, uma visão ultrarrigorosa da lei islâmica. Elas também são obrigadas a cobrir o rosto ao sair de casa.
O promotor do TPI, Karim Khan, afirmou, ao solicitar a emissão dos mandados de prisão em janeiro, que “mulheres e meninas afegãs, além de membros da comunidade LGBTQIA+, enfrentam uma perseguição inadmissível e sem precedentes” e agressão contínua dos talibãs.”
Para o promotor, essa ação enviou uma mensagem de que “o status quo não é aceitável para as mulheres e meninas do Afeganistão”.
Khan também declarou que solicitaria mandados de prisão para outros líderes talibãs.
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