Trump sinaliza interesse em influenciar decisões do Fed, caso volte a ocupar Casa Branca
WASHINGTON (Reuters) – O candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta quinta-feira que os presidentes norte-americanos deveriam ter voz ativa nas decisões tomadas pelo Federal Reserve, a indicação mais explícita até o momento de seu interesse em infringir a independência do banco central dos EUA, caso ele volte a ocupar a Casa Branca.
“Acho que o presidente deve ter pelo menos (uma) palavra a dizer”, disse Trump a repórteres em sua residência em Mar-a-Lago, na Flórida.
“Acho que, no meu caso, ganhei muito dinheiro, fui muito bem-sucedido e acho que tenho um instinto melhor do que, em muitos casos, o das pessoas que fazem parte do Federal Reserve ou do chairman.”
Aliados de Trump têm elaborado propostas que tentariam reduzir a independência do Fed se ele vencesse, noticiou o Wall Street Journal em abril. Na época, a campanha de Trump se distanciou da reportagem.
Mas seus comentários nesta quinta-feira indicam que ele está totalmente alinhado com um dos principais eixos das propostas: se ele se tornar presidente, Trump deveria ser consultado sobre as decisões relativas à taxa de juros, e as propostas de regulamentação bancária do Fed deverão estar sujeitas à análise da Casa Branca.
O chair do Fed e os outros seis membros de seu conselho de diretores são nomeados pelo presidente, sujeitos à confirmação pelo Senado dos EUA. No entanto, o Fed tem grande independência operacional para tomar decisões de políticas que exercem enorme influência sobre a direção da economia do país e dos mercados globais.
Por exemplo, entre os fatores que sustentam o status do dólar como moeda de reserva mundial está a capacidade do Fed de definir a política monetária por conta própria, sem supervisão política. Esse status, por sua vez, é fundamental para garantir ao governo dos EUA uma capacidade quase sem monitoração de tomar empréstimos nos mercados globais de títulos a taxas de juros relativamente baixas, apesar de ter uma dívida de 35 trilhões de dólares, apelidada de “privilégio exorbitante”.
“BRIGUEI MUITO COM ELE”
O próximo presidente — Trump ou a candidata democrata Kamala Harris — terá a chance de escolher o próximo chair do Fed nos dois primeiros anos de seu mandato.
Um caminho para interferir na independência do Fed seria selecionar — e obter a confirmação — um candidato disposto a atender aos desejos de Trump de manter o controle sobre o banco central.
Economistas temem que isso possa resultar no tipo de erro de política monetária que ocorreu no início da década de 1970, quando o chair do Fed, Arthur Burns, foi pressionado pelo presidente Richard Nixon — que o havia nomeado — a manter uma política monetária expansionista antes da eleição de 1972, apesar das evidências de aumento das pressões inflacionárias.
Em 1974, a inflação estava acima de 12% e continuou sendo um problema persistente na década seguinte, até ser controlada pelo chair do Fed Paul Volcker, por meio de aumentos esmagadores dos juros que causaram duas recessões no início da década de 1980.
O mandato do atual chair do Fed, Jerome Powell, como chefe expira em 2026, enquanto sua posição no conselho do Fed expira em 2028.
Powell foi nomeado pela primeira vez para a diretoria do Fed pelo ex-presidente Barack Obama, mas foi Trump quem o escolheu para chefiar o banco central, cargo que Powell assumiu no início de 2018.
Logo depois, Trump se voltou contra ele, criticando os aumentos da taxa de juros que o Fed realizou durante o primeiro ano de Powell no comando do banco.
“Eu costumava brigar com ele, briguei com ele algumas vezes de forma muito forte”, disse Trump em seus comentários nesta quinta-feira. “Briguei muito com ele.”
De fato, Trump chegou ao ponto de discutir a demissão do chefe do Fed, embora Mick Mulvaney — ex-chefe de gabinete do presidente — tenha dito posteriormente que Trump chegou à conclusão de que provavelmente não tinha o poder para fazê-lo.
Isso não impediu que Trump continuasse a ameaçar Powell durante seu período na Presidência dos EUA, uma prática que Joe Biden, sucessor de Trump, evitou durante seu mandato.
Em uma entrevista à Bloomberg publicada no mês passado, Trump disse que não tentaria destituir Powell se ele se tornasse presidente.
(Por Gram Slattery)