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Prostitutas estrangeiras invadem Suíça

Abertura das fronteiras suíça traz nova leva de prostitutas. Keystone

Polícia suíça teme que a aprovação recente da extensão dos acordos de livre circulação possa causar invasão de prostitutas. Assistentes sociais acham que não.

Porém o número de prostitutas registradas aumentou dramaticamente desde que o mercado de trabalho foi aberto aos 15 primeiros países-membros da UE em junho de 2004.

Em Genebra o número de prostitutas cresceu 50% desde junho do ano passado, passando de 700 para 1000. Na Basiléia o aumento foi de 500 para 750 no mesmo período.

Em Zurique a situação não é muito diferente: no ano passado, 399 mulheres se registraram como prostitutas, sendo que 109 vêm de um dos 15 países que já faziam parte da União Européia como a Alemanha. Elas exercem uma atividade considerada legal e engrossam a legião de 3.500 profissionais que já atuavam na maior cidade do país.

Jürg Leibundgut, vice-comandante da polícia local, acredita que esse número possa aumentar após a aprovação popular em 25 de setembro da extensão dos acordos de livre circulação aos dez novos membros da UE, todos na Europa do leste.

– O número de novas prostitutas aumentou consideravelmente. Possivelmente esse fenômeno está ligado aos acordos firmados com a União Européia, cujos cidadãos não precisam mais de visto de trabalho nos primeiros noventa dias de residência na Suíça – analisa.

– Por enquanto pessoas origiárias do novos países da UE ainda não dispõem dessas facilidades, mas no momento em que as fronteiras forem abertas, a Suíça pode viver uma invasão de profissionais do sexo.

Demanda e oferta

Um número considerável de prostitutas francesas se estabeleceu em Genebra quando a livre circulação foi instituída, explica Christophe Boujol, vice-comandante da polícia cantonal.

– Antes tínhamos três pedidos de registro por mês. Agora recebemos entre 30 e 40. A diferença com a nova lei é que antes apenas as mulheres suíças podiam trabalham nessa profissão em Genebra – conta.

– As mulheres podem facilmente sair de Paris ou Lyon e vir para cá e trabalhar legalmente. Efetivamente abrimos para elas as portas do país.

Boujol também acredita que o afluxo de prostitutas do leste europeu possa provocar uma queda nos preços do mercado. Porém ele recusa-se a falar em “dumping salarial”.

– As mulheres não iriam vender o seu corpo por nada. Os preços caem, pois existem mais profissionais no mercado do que antes. E se existe mais oferta do que demanda, então elas não podem cobrar mais.

Mercado saturado

Assistentes sociais em Genebra consideram o mercado saturado. Essa situação dissuade as mulheres do leste europeu de virem trabalhar na Suíça.

Para Marianne Schweizer, colaboradora da Aspasie, organização que oferece apoio e informações às prostitutas do país, a maior parte das “novas” profissionais do sexo registradas desde a entrada em vigor do acordo de livre circulação já estava vivendo na cidade.

– Não estamos observando uma chegada massiva de prostitutas vindas dos países da UE. Muitas já atuavam aqui ilegalmente. No ano passado chegaram algumas, mas o problema é que a Suíça é um país caro demais para se viver – conta.

Schweizer acredita que algumas mulheres da Europa do leste, que já trabalham na Suíça como dançarina de boate através do visto “L”, poderão pedir o registro para exercer a prostituição. Porém a falta de clientela poderá ser um problema para elas.

– A indústria do sexo também está passando por uma crise, assim como muitos outros setores na Suíça. Se o mercado está saturado, então a situação do desemprego piora. A situação é a mesma em outras áreas, mas com uma concentração muito pior. A conseqüência é que as mulheres ficam extremamente vulneráveis nessa situação.

Sem previsão

O Departamento Federal de Migração também é cético em relação aos riscos de uma “invasão” de prostitutas. Dominique Boillat, porta-voz do órgão, explica que a maioria das dançarinas de cabaré européias vêm da Ucrânia, Rússia e Romênia, ou seja, países que não aderiram à União Européia.

Em junho desse ano, 504 das 1.134 mulheres européias com o visto “L” vieram da Ucrânia e 222 da Rússia. Em comparação: apenas 7 vieram da Eslováquia, duas da Polônia e 14 da Hungria, países que aderiram à UE.

Funcionários da FIZ, ONG suíça dedicada ao apoio de mulheres que vêm da Europa do leste procurar trabalho, também se mostram cautelosos nas previsões.

– O grande boom de mulheres originárias do leste europeu para trabalhar na indústria do sexo ocorreu logo depois da queda do Muro de Berlim, em 1989 – explica o porta-voz da organização, Doro Winkler.

– Quinze anos atrás quase não havia pessoas desses países na Suíça, mas agora a metade das prostitutas em Zurique vem de lá. Porém é impossível de prever quantas ainda virão a partir do momento da abertura das fronteiras. A indústria do sexo na Suíça cresceu muito nesses últimos anos. A verdade é que se a demanda não fosse tão grande, nenhuma mulher viria para cá.

swissinfo, Matthew Allen

A prostituição é legalizada na Suíça, porém as mulheres precisam estar registradas na polícia e no serviço de saúde local e fazer regularmente exames.

Proxenetismo é ilegal e incomum: a maior parte das prostitutas trabalha de forma independente em pequenos salões e fazem contato com os clientes através de celulares. Elas não podem exibir-se publicamente quando estão à trabalho.

A Suíça tem uma das mais altas taxas de herpes genital de todo o ocidente. Estima-se que 19% da população estão infectadas.

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