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Drone pousará em Titã em 2034, a missão de uma vida

Elizabeth "Zibi" Turtle, chefe da missão Dragonfly, em 2 de julho em seu laboratório em Laurel (Maryland) afp_tickers

Que alegria quando, em 26 de junho, Elizabeth Turtle recebeu o telefonema da Nasa: seu projeto de enviar um drone para a maior lua de Saturno, Titã, foi aprovado 15 anos depois de proposto e com um orçamento de cerca de US$ 1 bilhão.

Mas o lançamento de “Dragonfly”, “libélula” em inglês, está previsto para 2026. Não seria algo frustrante?

“Vai acontecer muito rapidamente porque há muito o que fazer”, responde “Zibi” Turtle, de 52 anos, planetóloga do Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins, perto de Washington, um centro de pesquisa com 7.000 pessoas.

A “libélula” de 600 quilos pousará em Titã, a 1,4 bilhão de quilômetros da Terra, mais distante do que Marte e Júpiter, apenas em 2034.

“O sistema solar exterior está longe”, explica Zibi Turtle, espantada com a pergunta sobre a lentidão das viagens interplanetárias. “Obviamente, devemos ser pacientes”.

O ritmo da planetologia é incomparável com o da maioria das outras disciplinas científicas. As distâncias são tão enormes, os robôs que são enviados tão sofisticados, que os pesquisadores dedicam suas vidas a um punhado de missões.

Formada no MIT e na Universidade do Arizona, Zibi Turtle lembra as primeiras imagens sumárias de Titã, tiradas pelo telescópio espacial Hubble na década de 1990. A pesquisadora foi uma das primeiras em 2004 a receber fotos próximas de Titã enviadas pela sonda Cassini… lançada sete anos antes.

“Foi fascinante ver nuvens em outro planeta”, diz ela. “Mas não tínhamos ideia do que estava na superfície, apenas áreas claras e escuras eram visíveis”.

Então a sonda europeia Huygens, lançada pela Cassini, teve tempo de enviar fotos antes de morrer. O mundo descobriu, atordoado, leitos de rios. “Foi realmente um grande avanço”.

Em poucos anos se formou um retrato de Titã, curioso astro com temperatura de -179°C, maior do que Mercúrio e a nossa Lua, cuja crosta é formada de gelo e rios e lagos de metano líquido.

O vento sopra, as nuvens se movem, chove (metano) e vales, dunas e montanhas compõem a paisagem. Vulcões frios podem ejetar água como lava.

– Uma Terra primitiva –

“É realmente estranho: Titã tem materiais muito diferentes. Mas sua geologia realmente se parece com a da Terra”, diz Zibi Turtle.

Os cientistas supõem que as condições são semelhantes àquelas que existiam na Terra antes do início da vida.

Eles acreditam que o metano líquido pode ter o mesmo papel que a água para o salto entre a química e a biologia.

O Dragonfly, um mini-laboratório químico, vai procurar por anos, voando de um local para outro, moléculas complexas à base de carbono em busca dos “tijolos da vida”.

Talvez as moléculas coletadas em um rio antigo sejam diferentes daquelas que nunca foram molhadas. Toda essa história primitiva foi apagada da Terra. Titã oferece uma viagem no tempo.

E se Dragonfly não encontrar nada? “É impossível”, garante Zibi Turtle, sem a mínima sobra de dúvida. “Tudo o que encontrar, vai dizer alguma coisa”.

“A exploração dos planetas me ensinou que o sistema solar é mais criativo que nossa imaginação. Sempre há surpresas”.

Enquanto isso, devemos terminar de projetar e fabricar o Dragonfly: quatro pares de rotores, um mini-gerador nuclear, uma bateria de íons de lítio, dez câmeras, dois instrumentos de amostragem, quatro instrumentos científicos.

Centenas de cientistas e engenheiros de várias instituições estão envolvidos.

Ken Hibbard, o engenheiro chefe do projeto, trabalhou muitas noites e fins de semana durante meses. Ele sabe que vai envelhecer com este projeto.

“Investimos tanto tempo e energia que parte de nossa alma acaba nesses projetos”, diz ele.

Ele provavelmente estará na sala de controle do campus em 2026, para o lançamento. Zibi Turtle, vai querer comparecer em pessoa. “Isso é o que está planejado”, diz ela.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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