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Ativista pró-palestino volta ao Líbano após 40 anos preso na França

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O ativista pró-palestino Georges Ibrahim Abdallah retornou a Beirute nesta sexta-feira (25), após passar mais de quatro décadas preso na França por ter sido cúmplice no assassinato de dois diplomatas em 1982.

O libanês, libertado com a condição de nunca retornar a um país europeu, foi recebido por uma dezena de apoiadores no aeroporto de Beirute, onde aterrissou às 14h30 (8h30 em Brasília).

“As crianças da Palestina morrem de fome enquanto milhões de árabes observam como espectadores”, disse em sua primeira declaração pública no salão de honra do aeroporto.

“A resistência deve continuar e se intensificar”, acrescentou o ex-professor diante de familiares e figuras libanesas, incluindo um deputado do movimento libanês pró-iraniano Hezbollah.

O governo libanês ainda não se pronunciou sobre sua chegada.

Uma dezena de apoiadores, alguns com bandeiras palestinas e do Partido Comunista libanês, se reuniram perto da área de desembarque para recepcionar o recém-libertado, relatou um correspondente da AFP.

“Georges Abdallah se tornou um símbolo e uma fonte de inspiração para todos nós”, afirmou Siham Antun, uma professora de 56 anos.

A família do ativista informou anteriormente que o levaria para sua cidade natal, Kobayat, no norte do Líbano, onde está prevista uma “recepção popular e oficial”.

– “Companheiro de luta” –

Abed Tabah, um ex-militante de 75 anos, contou que foi saudar um “ex-companheiro de luta”.

“Georges Abdallah mostrou ao mundo inteiro, e aos franceses em particular, que não se curva. E, por fim, tiveram que ceder, libertando-o e devolvendo sua liberdade”, disse.

O encarregado de Relações Exteriores da embaixada libanesa em Paris, Ziad Taan, viu o ativista antes de seu retorno e disse à AFP que ele estava “bem, em bom estado de saúde, muito feliz por voltar ao Líbano junto com sua família e recuperar a liberdade”.

Abdallah foi preso em 1984 e condenado à prisão perpétua por seu envolvimento no assassinato do adido militar americano Charles Robert Ray e do diplomata israelense Yacov Barsimantov em Paris. O libanês sempre negou qualquer participação nos dois crimes.

Embora pudesse ter sido beneficiado pela liberdade condicional desde 1999, nunca a obteve, por oposição dos Estados Unidos, e se tornou uma das pessoas que permaneceu presa na França por mais tempo.

Por fim, a Corte de Apelação parisiense ordenou sua libertação a partir desta sexta, com a condição de que deixasse o território francês e nunca retornasse. 

Os juízes estimaram que a duração de sua pena foi “desproporcional”.

Embora a Procuradoria-Geral de Paris tenha anunciado na segunda-feira um recurso de cassação contra esta decisão, o apelo será examinado apenas depois de várias semanas e não tem efeito suspensivo, pelo que não pôde impedir a saída do ativista.

O advogado de Abdallah foi visitá-lo na quinta-feira. “Ele parecia muito feliz por sua libertação iminente, embora esteja consciente de que está retornando ao Oriente Médio em um contexto extremamente difícil para os libaneses e palestinos”, afirmou Jean-Louis Chalanset à AFP.

Nos últimos dias, este ex-professor pró-palestino esvaziou sua cela, decorada com uma bandeira vermelha de Che Guevara e repleta de pilhas de jornais e livros, que ele confiou ao seu comitê de apoio.

Na década de 1980, em meio à guerra civil no Líbano, este ex-professor fundou as Frações Armadas Revolucionárias Libanesas (Farl), um grupo marxista pró-Síria e anti-Israel que reivindicou cinco ataques na França entre 1981 e 1982.

O condenado compartilhou o advogado Jacques Vergès — falecido em 2013 — com outro conhecido “revolucionário” pró-palestino das décadas de 1970 e 1980, o venezuelano Ilich Ramírez Sánchez, de 75 anos, apelidado de Carlos “O Chacal”.

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