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Estudo suíço-americano revela importância das correntes marítimas para a Europa

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Surfistas em Biarritz, França, em dezembro de 2015. A Atlantic Meridional Overturning Circulation (AMOC) é a corrente responsável, em grande parte, pelo clima quente na Europa. Keystone-SDA

Um sistema de correntes marítimas do Oceano Atlântico fundamental para regular o clima europeu não mostrou nenhum sinal de declínio nos últimos 60 anos, de acordo com um novo estudo realizado por cientistas suíços e norte-americanos. Mas isso não significa que as preocupações com o colapso da Corrente do Golfo levantadas por cientistas não mereçam atenção.

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Uma pesquisa analisou o sistema de correntes marítimas conhecido como Atlantic Meridional Overturning Circulation (AMOC). A Corrente do Golfo faz parte da AMOC, e ambas fazem parte de um sistema interconectado que leva grandes quantidades de água dos trópicos para as regiões do norte. As descobertas trazem novas percepções sobre um campo alarmante – e incerto – da pesquisa climática.

A Europa deve seu clima ameno em grande parte às correntes marítimas do Atlântico. O fluxo de água quente que sai das proximidades do Equador em direção à Europa mantém cidades como Londres vários graus mais quentes do que lugares em latitudes semelhantes na costa do Pacífico do Canadá. O AMOC também distribui oxigênio e nutrientes no oceano.

“Nenhuma tendência clara” no enfraquecimento da AMOC, diz novo estudo

Nos últimos anos, o impacto do aquecimento global sobre o sistema da Corrente do Golfo deu origem a várias publicações científicas alertando sobre seu enfraquecimento – ou até mesmo um possível colapso. Agora, uma nova pesquisa publicada na Link externoNature CommunicationsLink externo por cientistas da Universidade de Berna e da Woods Hole Oceanographic Institution, nos EUA, mostra que a corrente tem se mantido estável nos últimos 60 anos.

Usando um novo método que envolve 24 modelos do sistema terrestre e estimativas baseadas em observações do fluxo de calor entre o oceano e a atmosfera no Atlântico Norte, a pesquisa aponta que nenhuma desaceleração foi detectada no AMOC entre 1963 e 2017.

“Nossas análises mostram uma variabilidade considerável, mas nenhuma tendência clara pode ser identificada”, diz o autor principal Jens Terhaar, da Universidade de Berna

Mas isso não significa que o AMOC não diminuirá ou entrará em colapso no futuro.

Sem dúvida, o AMOC será enfraquecido pela mudança climática muito em breve ou talvez até tenha começado a enfraquecer nos anos após 2017, descobertos na análise da equipe suíça, reconhece Terhaar. Mas como a corrente se manteve estável até 2017, um colapso total é menos provável em um futuro próximo, acrescenta o pesquisador.

“O AMOC sofrerá um declínio substancial, o que é praticamente certo, e as consequências serão extremamente graves”, diz Terhaar. “No entanto, ainda é incerto o quão grande será esse enfraquecimento e quando ocorrerá o colapso.”

Nova metodologia “robusta”

Um grande problema para os cientistas que estudam o AMOC é que eles não têm evidências diretas. Medições precisas usando instrumentos submersos no meio do oceano datam apenas de 2004. Portanto, os pesquisadores tradicionalmente se baseiam em uma combinação de dados – aumento da temperatura da superfície do oceano, declínio da salinidade e imagens de satélite – para criar modelos de estimativa do AMOC.

Em seu trabalho, a equipe da Suíça e dos EUA questionou o uso das temperaturas da superfície do mar como um indicador da força do AMOC. Como alguns outros estudos já demonstraram, as anomalias da temperatura da superfície no Atlântico Norte não são influenciadas apenas pelo AMOC, mas também por outros processos no oceano e na atmosfera.

“Você realmente precisa de um forte declínio do AMOC para ver isso de forma robusta nas temperaturas da superfície do mar. Caso contrário, há muitos outros processos que influenciam as temperaturas da superfície do mar, além do AMOC”, diz Terhaar.

As mudanças no fluxo de calor entre o oceano e a atmosfera são um indicador muito mais eficaz, pois “é onde ocorre a principal mudança”, acrescenta. Embora esse fluxo de calor seja um indicador melhor, as estimativas do fluxo de calor são mais incertas do que as medições da temperatura da superfície do mar, de modo que permanecem grandes incertezas.

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Embora os pesquisadores afirmem que suas novas reconstruções são mais confiáveis do que as anteriores, elas vêm com “limitações e advertências”. Isso inclui incertezas inerentes às estimativas baseadas em observações. Processos como o derretimento do gelo da Groenlândia também podem não ser calculados nos modelos.

Risco subestimado

Terhaar diz que a publicação recebeu reações “positivas, desafiadoras e construtivas” dos colegas até o momento.

Pascale Lherminier, pesquisadora de oceanografia do Ifremer [Instituto Francês de Ciência e Tecnologia Oceânica] que não participou do estudo, disse que a metodologia era extremamente sólida.

“A ligação dos fluxos de calor na interface ar-mar com o AMOC faz muito mais sentido do que a ligação da temperatura da superfície do oceano com o AMOC”, disse ela à agência de notícias AFP.

Os alertas sobre um possível colapso futuro da corrente causada pelo aquecimento global Link externonão são novosLink externo. Estudos alarmantes recentes que apontam para um enfraquecimento do sistema da Corrente do Golfo e estimativas de ponto de inflexão Link externojá em 2025-2095Link externo ganharam as manchetes, mas também foram Link externocontestadosLink externo pela comunidade científica.

Em outubro, cerca de 40 cientistas importantes alertaram em uma Link externocarta abertaLink externo sobre o “risco muito subestimado” de uma “grande mudança” no AMOC. Um enfraquecimento da corrente poderia ter “impactos devastadores e irreversíveis” sobre o clima e a biodiversidade.

Isso afetaria gravemente os países nórdicos, escreveram os cientistas, devido ao grande resfriamento e ao clima extremo sem precedentes. Mas haveria consequências para outras regiões, como uma mudança nos cinturões de chuvas tropicais, redução da capacidade do oceano de absorver CO2 e aumento do nível do mar, especialmente ao longo da costa americana do Atlântico.

Em sua avaliação mais recente, em 2021, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que efetivamente define o consenso climático científico, concluiu que o AMOC não entraria em colapso neste século.

“É muito provável que o AMOC se enfraqueça ao longo do século 21 (alta confiança), embora um colapso seja muito improvável (confiança média). No entanto, um enfraquecimento substancial do AMOC continua sendo um cenário fisicamente plausível”, aponta o Link externorelatórioLink externo de avaliação do IPCC.

Edição: Veronica De Vore/fh

Adaptação: Clarissa Levy

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