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A rainha da Inglaterra e a Suíça

Queen vor Ehrengarde
Visita oficial da rainha Elizabeth II à Suíça em 1980. Acompanhada pelo presidente da Confederação Suíça na época, Georges-André Chevallaz, a monarca recebe as honras militares da Guarda de Honra no Aeroporto de Zurique. Schweizerisches Nationalmuseum / ASL

A rainha Elizabeth II passou mais de 70 anos à frente do trono na Grã-Bretanha. A Casa de Windsor teve uma estreita relação com a Suíça. Lembramos algumas de suas passagens pelo país.

De um lado a Suíça, republicana. Do outro, a família real britânica. A distância não poderia ser maior. Porém há interseções: na mesa de jantar, especialmente durante um banquete.

É por isso que começamos essa retrospectiva lembrando do cardápio de um jantar festivo: o salmão inglês marinado era acompanhado por lagostins selvagens da Escócia, raquetes de cordeiro das Highlands, legumes do Highgrove, espargos ingleses e batatas Jersey Royal. O sorvete com mel vinha de Berkshire. Esta sequência de pratos não só tinha um sabor delicioso, mas também era uma homenagem culinária aos noivos e suas origens nobres.

A festa de casamento do príncipe William e Kate tinha 300 convidados e foi servida por um mestre de cozinha cujo nome não foi revelado até o último minuto. Só em 29 de abril de 2011 o segredo foi desvendado: Anton Mosimann, o mestre-cuca suíço, também conhecido pelo codinome “o cozinheiro da rainha”. 

swissinfo.ch publica regularmente outros artigos do blog do Museu Nacional da SuíçaLink externo sobre temas históricos. Estes artigos estão sempre disponíveis em alemão e geralmente também em francês e inglês.

Mosimann, originário do vilarejo de Nidau, no cantão de Berna, já havia cozinhado para 1.400 convidados no 70º aniversário do príncipe Philip e 400 convidados nas bodas de ouro da rainha Elisabeth e seu marido. O “Toneli vu Nidau”, como o cozinheiro suíço ironicamente se autodenomina, foi premiado pela própria rainha com a “Ordem do Império Britânico” pelas suas habilidades culinárias.

O fato de Mosimann ter sido autorizado a cozinhar vários banquetes reais é típico do relacionamento entre os “royals” e a Suíça: uma relação caracterizada pela confiança e discrição. Em outras palavras, a conexão não é tão evidente e direta como em uma família.

Os quadros da rainha

Neste contexto, devemos mencionar a lendária rainha Vitória (1819-1901) e sua paixão pela Suíça. A tataravó de William já foi considerada a “avó da Europa”, pois teve 40 netos e 88 bisnetos que se casaram com a aristocracia europeia e garantiram que a família real inglesa tivesse parentes em toda a Europa. Uma forma eficaz de diplomacia para garantir a paz! Porém nenhum suíço participou dessa linhagem.

Queen Victoria auf Pferd
A rainha Vitória durante suas férias de verão em 1868 nas montanhas suíças. David Cole / Alamy Stock Photo

A rainha Vitória gostava muito de passear na Suíça. Após a morte prematura do marido Albert, veio afogar suas mágoas ao passar cinco semanas nas montanhas geladas dos Alpes. Ela também visitou vários pontos turísticos do pais ao longo desse verão de 1868.

Começando em Lucerna, a rainha caminhou, montou seus pôneis, escreveu, descansou e comeu. Ela montava seu cavalete e fazia aquarelas das paisagens deslumbrantes. Longe dos negócios do governo e das brigas na corte, ela realmente relaxava. E absorvia a paisagem. Todas foram eternizadas nas suas pinturas, expostas hoje em alguns museus. São um testemunho do seu estado de espírito.

Gemälde Berge und See
Foi assim que a Rainha Victoria viu e pintou o Lago Lucerna. Royal Collection Trust / © Her Majesty Queen Elizabeth II 2021

Esqui nos Alpes

Os descendentes da rainha Vitoria também descobriram a Suíça como destino de férias. Príncipe Charles, por exemplo, manteve esta tradição: desde 1977 o atual rei visitava regularmente o vilarejo alpino de Klosters no inverno para se dedicar aos esportes de inverno. O trágico acidente em Gotschnagrat, em 11 de março de 1988, uma avalancheLink externo que tirou a vida do seu amigo Hugh Lindsay, marcou a sua vida, mas não fez com que desistisse de rever as montanhas cobertas de neve.

O rei passou a trazer os filhos, William e Harry, para as férias em Klosters a partir de 1994. Ao escorregar uma vez na neve, foi salvo por um ajudante. Este sugeriu depois que o nobre usasse botas apropriadas. O príncipe respondeu: “Fui educado para usar sapatos só à noite”.

O irmão mais novo de Charles Andrew e sua ex-mulher, Sarah “Fergie” Ferguson, já preferiam a estância de Verbier, no cantão do Valais.

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Mas os Windsors não consideravam a Suíça apenas como um destino de férias. Eles também utilizaram o carisma da coroa real para fins políticos. Quando as relações entre a Suíça e a Grã-Bretanha se tornaram tensas após a Guerra dos Boers, o rei Eduardo VII interveio: parabenizou oficialmente a Suíça pela abertura do túnel do SimplonLink externo em 1905 e depois o atravessou, embora incógnito, sem recepções ou festejos.

König sitzend mit Hut
KEYSTONE/HERITAGE IMAGES/The Print Collector

Outro exemplo: em plena guerra das Malvinas e meio a uma crise econômica sem precedentes, a rainha Elizabeth II e seu marido, Philip, vieram à Suíça no final de abril de 1980Link externo. Foi a única visita oficial da família real britânica. Apesar das ameaças de bomba do IRA e da crescente agitação juvenil, o casal real visitou Zurique, Berna, Basiléia, Lausanne, Montreux, Lucerna e RütliLink externo, a famosa pradaria, onde a lenda diz que a Suíça foi fundada.

Mesmo que jovens protestassem e os fãs da Irlanda do Norte assobiassem, o casal real se sentiu bem acolhido pela população helvética. As imagens mostram até como o príncipe Philipp saudava emocionado todos que encontrava. 

Prinz und Mann in Rütlitracht
Schweizerisches Nationalmuseum / ASL

Príncipe quase detido pela polícia

Philip esteve na Suíça com mais frequência do que a rainha, pois estava envolvido em muitas organizações beneficentes. Por exemplo, foi presidente da ong ambientalista WWF, com sede em Gland, no cantão de Vaud, e presidente da Federação Equestre Internacional, (FEI) sediada em Berna.

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Assim, o duque de Edimburgo esteve na Suíça repetidas vezes. Uma delas foi durante uma competição equestre em Zug em 1981, quando já tinha 60 anos. O nobre ficou em 10º lugar e ganhou a medalha de bronze na competição por equipe. Muitos se lembram quando foi quase preso por um segurança depois de esquecer a credencial para entrar no evento.

A Casa de Windsor sempre teve uma boa fama na Suíça. Por exemplo, um bar em Sargans tem o nome da família. Também produtos como um faqueiro de prata fabricado em Schaffhausen. E em Kreuzlingen existe até uma linha de roupas batizada de “Windsor”. Só o Hotel “Windsor”, em Genebra mudou de nome e hoje se chama “Paquis”, lembrando o bairro onde está localizado.

Philip auf Pferd
Fédération Equestre Internationale

Antes de Mosimann outro cozinheiro suíço também já serviu à rainha: César Ritz, do cantão do Valais, foi considerado o “rei dos hoteleiros e hoteleiro dos reis”. Quando o filho de Victoria, Eduardo VII, foi coroado rei em 1903, a família real inglesa confiou todas as festividades da coroação a César Ritz.

O hoteleiro, que na época já dirigia estabelecimentos em Nice, Viena, San Remo, Lucerna, Monte Carlo, Baden-Baden, Roma e Londres, se encarregou da tarefa. Mas não conseguiu levá-la ao fim. E nunca mais se recuperou. A depressão o acompanhou até o final da vida.

Esta é uma das razões pela importância de Anton Mosimann: no final, ele brilhou ao garantir o jantar de casamento de Kate e William. O evento foi registrado nos anais como o “casamento do século”.

Adaptação: Alexander Thoele

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