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David Chipperfield: Elogiado internacionalmente, mas criticado em Zurique

David Chipperfield at the Kunsthaus
David Chipperfield posa na inauguração do novo prédio do Kunsthaus Zürich. Keystone / Walter Bieri

O arquiteto responsável pela mais recente expansão do Museu de Arte de Zurique (Kunsthaus Zürich) ganhou o Prêmio Pritzker. Mas na Suíça suas obras dividem opiniões.

Em 7 de março, David Chipperfield recebeu a honraria de maior prestígio da arquitetura, o Prêmio Pritzker e seu respectivo cheque de 100 mil dólares. A extensa obra de Chipperfield abrange quase todas as escalas e continentes, incluindo desde pequenos edifícios de museus na Inglaterra ou no México até o espetacular America’s Cup Building em Valência, passando por uma capela no Japão, pela sede da BBC na Escócia e outros complexos de arranha-céus na Ásia.

A Suíça também foi agraciada com construções do arquiteto, inclusive recentemente. O novo prédio do Museu de Arte de Zurique, sua maior extensão desde que foi criado, foi projetado por Chipperfield. O novo pavilhão complementa o espaço expositivo existente em cerca de cinco mil metros quadrados, duplicando o museu e tornando-o o maior da Suíça.

Fundado por Jay e Cindy Pritzker em 1979, a escolha dos premiados ao longo da história foi bastante convencional: em suas primeiras 22 edições todos os vencedores foram arquitetos homens com mais de 50 anos. Apenas a partir de 2000 que o prêmio começou a incluir equipes como possíveis premiados. A mudança de regra resultou na primeira honraria para uma equipe suíça: Jacques Herzog e Pierre de Meuron, da Basileia.

Só em 2004 que foi homenageada a primeira mulher, Zaha Hadid, já falecida. Depois disso, foram premiadas pessoas mais jovens e até equipes de três pessoas.

Nos últimos três anos, o júri se abriu para os sinais dos novos tempos e, em 2020, homenageou a Grafton Architects, com sede em Dublin, uma equipe feminina. Depois conferiu a honraria a Anne Lacaton e Jean-Philippe Vassal, dois arquitetos conhecidos sobretudo por apostarem em conversões arquitetônicas e intervenções mínimas, evitando demolições. Em 2022, foi a vez de Francis Kéré, o primeiro arquiteto premiado de origem africana, levar o prêmio.

Kunsthaus Zurich
A extensão de Chipperfield na Heimplatz fez do Kunsthaus Zürich o maior museu de arte da Suíça em 2021. Ele abriga as coleções Looser e Merzbacher, assim como a controversa coleção Emil Bührle, e também hospeda exposições temporárias de médio porte. O salão de entrada de livre acesso é projetado como um espaço aberto para experimentar a arte. © Keystone / Christian Beutler

Discordâncias e polêmicas

A escolha de Chipperfield como arquiteto responsável pelo projeto da extensão polarizou a cidade desde que a decisão foi tomada em 2008, e ainda mais depois da inauguração do novo edifício em 2021.

Inicialmente, o foco da polêmica estava principalmente no tamanho do edifício, mas depois os debates acalorados e acirrados se voltaram para o próprio museu. As pessoas começaram a questionar as coleções sobrecarregadas com a história da guerra e a falta de transparência dos modelos de financiamento de origem privada da associação de arte que supervisiona o funcionamento do museu – a Zürcher Kunstgesellschaft.

A maior polêmica foi causada pela decisão do museu de hospedar a coleção do ex-traficante de armas Emil Bührle, que fez uma enorme fortuna durante a Segunda Guerra Mundial. A nova diretora da Kunsthaus, Ann Demeester, está agora sendo pressionada a explicar a história sombria por trás da coleção Bührle.

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O prédio também entrou na linha de fogo das discussões. O corredor que dá acesso ao público, e também é uma passagem, foi considerado muito fechado – como que bloqueado pelo véu de pedra da fachada. O professor de arquitetura Philipp Ursprung o descreveu como um “monumento ao isolamento”.

Chipperfield via de forma diferente: graças às novas salas amplas e iluminadas, o Kunsthaus seria mais acessível ao público, escreveu o arquiteto no pequeno livreto preparado para a inauguração. A amplidão das novas salas faria do museu “um lugar para se ir”.

Por mais elegante que pareça a fachada de pedra natural, o tamanho do edifício segue gerando incômodos. O novo prédio do Museu de Arte de Zurique é um bloco ao qual muitos moradores de Zurique ainda não se acostumaram.

O tamanho também é uma questão perene nas discussões sobre a Europaallee de Zurique, onde David Chipperfield também projetou uma construção junto com Max Dudler e Gigon/Guyer Architekten. O bloco de quatro edifícios de escritórios ocupa 14.600 metros quadrados de espaço destinados a um grande banco suíço.

Kunsthaus Zürich: Giacomettis no meio da galeria, com vista para o prédio original do museu do outro lado da rua.
Kunsthaus Zürich: Giacomettis no meio da galeria, com vista para o prédio original do museu do outro lado da rua. © Keystone / Christian Beutler

Reconhecendo o compromisso com o clima

O júri do Prêmio Pritzker escreveu que a arquitetura de Chipperfield nunca é arte pela arte. Seus méritos vão muito além da elegância e rigor de sua arquitetura. Segundo o júri, a obra do suíço persegue com cuidado, maestria e muita serenidade, uma “finalidade superior e o esforço pelo bem social e público”.

O arquiteto, que este ano completa 70 anos, demonstra que seu empenho vai muito além da arquitetura através de sua mais recente paixão, a recém criada Fundação RIA, localizada na Galiza, no noroeste de Espanha. Lá ele lida com a tarefa de encontrar novas maneiras de melhorar a vida e as condições de existência em nosso planeta ameaçado. A missão da RIA é contribuir para a preservação de paisagens, agricultura, ecologia e tradições regionais.

Com a escolha deste ano, o Prêmio Pritzker permanece fiel ao espírito de nosso tempo: os arquitetos devem continuar a contribuir para o design com seus edifícios – e, na melhor das hipóteses, com “rigor, integridade e relevância”, como David Chipperfield. Se também demonstrarem comprometimento social e ambiental, merecem um Prêmio Pritzker.

Adaptação: Clarissa Levy

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