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Helvetia festeja dia nacional suíço no Brasil

Apesar das palmeiras, as mulheres em trajes típicos lembram a Suíça dos antepassados. swissinfo.ch

Helvetia não é apenas o nome latino para a Suíça, mas também o nome da colônia de suíços criada há mais de cem anos no estado de São Paulo, Brasil

Apesar da enorme distância geográfica entre os continentes, seus habitantes não deixam de festejar tradições como as comemorações pelo dia nacional da Suíça em 1° de agosto.

A foto das duas jovens com trajes típicos poderia ter sido tirada em qualquer povoado da Suíça. Porém, as palmeiras ao fundo revelam a verdadeira origem da imagem: a colônia Helvetia em Indaiatuba, Brasil.

O visitante que chega no dia da festa ouve de longe o barulho dos tiros de rifle. Ao se aproximar, o que soa é a melodia da música popular suíça. Muitos dos presentes na festa também vestem os trajes típicos, como os que podem ser vistos nas aldeias das montanhas do Berner Oberland, onde começam os Alpes no cantão de Berna.

Como na pátria distante, existem os lançadores de bandeira e os tocadores de tuba dos Alpes, um instrumento típico feito de madeira e longo como uma grande corneta. Para comer tem “Schüblig”, uma lingüiça típica suíça, e salada de batatas.

Festejar como na Suíça

O 1° de agosto, dia nacional da Suíça, é festejado com muito carinho e tradição na colônia Helvetia desde 1977. Assim como no país dos antepassados, tem fogos de artifício, competição de tiro e lançadores de bandeiras. Naturalmente não pode faltar um grupo de “jodel”, ma espécie de canto típico das montanhas, e dança.

Para reforçar os laços com a pátria, todos os anos são convidados grupos de suíços para passar o feriado nacional em território brasileiro. A maior parte vem da região de Obwalden, cantão da região central da Suíça.

Trabalho como na escravidão

Há 116 anos, em 1888, quatro famílias originárias de Obwalden – Amstiel, Amstalden, Bannwart e Wolf – compraram terras de um fazendeiro brasileiro e fundaram a colônia Helvetia.

Os suíços chegaram em 1854 ao Brasil para dividir o trabalho com escravos nas grandes plantações de café. O motivo da emigração foi a crise econômica, depois de uma guerra civil que quase devastou o país (Sonderbundskrieg).

As pessoas originárias do cantão de Obwalden vinham principalmente das comunas de Giswil, Lungern, Stalden, Stans e Sarnen. Apesar do trabalho duro nas plantações brasileiras, eles conseguiram juntar dinheiro suficiente para comprar a própria liberdade.

Quatro famílias compraram inicialmente um terreno de 1.900 hectares. Posteriormente outras famílias suíças de Obwalden se juntaram à iniciativa, adquirindo mais terras. Doze anos depois, a colônia havia quase duplicado de tamanho.

O dialeto foi esquecido

Hoje em dia os mais de oito mil descendentes dos antigos colonos vivem espalhados em 180 municípios brasileiros e sete diferentes países. Porém apenas uma pequena minoria retornou a terra dos ancestrais.

Cerca de 300 deles vivem ainda na colônia Helvetia, que pertence aos municípios de Campinas e Indaiatuba.

José Luiz Siegrist, doutor em filosofia e professor na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) é um deles. Seus avós foram uma das famílias de fundadores. Apesar dele ter aprendido o dialeto em casa, hoje em dia o acadêmico quase não sabe mais uma palavra dessa variação suíça do alemão. “Eu ainda entendo um pouco”, ressalta Siegrist.

Apesar do distanciamento cultural, os contatos com a Suíça continuam intensos. Os descentes costumam enviar cartas para os familiares na Europa e também recebem muitas visitas de longe.

As tradições continuam

Os descendentes de suíços em Helvetia estão organizados em três associações: conselho da Igreja, conselho escolar e associação de tiro. Além disso, os habitantes da colônia jogam o “jass”, um jogo de cartas típico na Suíça, dançam e cantam músicas folclóricas.

O clube de canto, onde se exercita o “jodel”, é coordenado por Arnold Heuberger, que vive há apenas dois anos no Brasil. Ele visitou a colônia pela primeira vez nos festejos pelos 100 anos de fundação e acabou ficando. Em Helvetia o suíço conheceu sua esposa. O casal viveu um tempo na Suíça mas decidiu vender o que tinja para tentar uma nova vida no Brasil.

Em 1° de agosto, Heuberger estará se apresentando na praça de Helvetia com seu grupo de canto, como no passado.

swissinfo, Brigitte Ariane Müller
traduzido por Alexander Thoele

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