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Suíça dá exemplos de boa integração de imigrantes

Imigrantes hispânicos manifestam-se, em Los Angeles, Estados Unidos, em abril passado. Keystone

A Suíça é um dos países que mais investem na integração dos imigrantes, apesar de ter aprovado recentemente uma lei que restringe e impõe novas regras para a entrada de estrangeiros no país.

A afirmação é de Gianni Damato, do Fórum Suíço para Estudos de Migração e População, um dos representantes suíços na 11ª Conferência Internacional Metropolis, que terminou neste último fim de semana, em Lisboa.

Segundo Damato, a Suíça pode ser considerada um exemplo de integração, apesar de ter consciência que este é um trabalho difícil, complexo, de longo prazo, no qual a política de investimentos deve ser prioritária e constante, principalmente na escola.

Uma política de integração que se deve implantar nos demais países, de acordo com as conclusões da Conferência, que fez apelo aos grandes países receptores de imigrantes que “usem o dinheiro gasto em medidas de restrição à imigração em programas internos de integração e regulamentação”.

Demetrios Papademetriou, do Migration Police Institute dos Estados Unidos, que publicou mais de 200 livros sobre o tema, condenou a política migratória do seu país afirmando que os milhões gastos no muro para evitar a entrada ilegal de estrangeiros, que está sendo contruido na fronteira com o México, é um exemplo de desperdício e de uma política migratória “sem consistência, que resolverá, em parte, o problema mas por pouco tempo”.

– Fui otimista durante vinte anos, mas tenho de admitir que sou pessimista em relação ao que poderá acontecer nos próximos cinco anos. Vejo muita hipocrisia nos debates políticos e sociais em relação aos imigrantes; e não vejo nenhum líder político realmente interessado. As autoridades só se ocupam realmente quando acontecem fatos que mobilizam a atenção pública, como a revolta nos guetos da França ou a tragédia humanitária dos africanos que tentavam entrar na Espanha através de Gibraltar, explicou Papademetriou.

Imigração nos países lusófonos

Entre os países de lingua portuguesa da Africa e o Brasil existem mais diferenças do que coincidências acerca da emigração, de acordo com a socióloga brasileira Teresa Sales, professora da Unicamp e autora de inúmeras publicações sobre a imigração brasileira.

– O painel da Conferência dedicado aos países de lingua portuguesa foi particularmente interessante porque ficou clara a diferença entre eles. A maior parte dos países africanos tem dimensão territorial diferente, situações econômicas diferentes e outros indicadores que demonstram que o emigrante brasileiro tem outras razões, e não só economicas , para sair do seu país, afirmou.

Teresa Sales tentou enfatizar o fenômeno recente da emigração brasileira , que começou praticamente a partir dos anos 80, depois dos fracasso de sucessivas políticas econômicas e da inflação galopante, que fez com que as pessoas perdessem a esperança no futuro do Brasil.

Classe média

– Fiz um trabalho quantitativo em Governador Valadares, cidade de emigração por excelência, e percebi que os últimos três anos da década de 80, com o plano cruzado, foram aqueles em que mais gente abondonou a cidade para tentar a vida no exterior. Mas hoje em dia que o Brasil atravessa uma certa estabilidade econômica, sem muita inflação, a economia deixa de ser o principal fator que possa justificar essa continuidade. O que só pode ser explicada pelas redes que se estabelecem entre quem emigrou e quem ficou. Primeiro vem o marido, depois a esposa, depois os amigos… e depois ele volta de férias mas não conta o lado difícil da emigração. O que cria expectativas”, explica Sales.

A diferença do migrante brasileiro dos demais países de lingua portuguesa, de acordo com a socióloga, é que a nossa emigração é composta principalmente por pessoas de classe média, que deixam ocupações mais qualificadas para exercerem outras muito menos qualificadas. Porém no caso de Portugal , mesmo antes da onda migratória, vários profissionais qualificados vieram para a “patria mãe”, buscando oportunidades em várias áreas onde os brasileiros se destacavam, como os dentistas ou os profissionais de marketing e TV, que dominam atualmente o mercado português. O que não acontece no resto da Europa onde residem 17% da emigração brasileira mundial.

Cinqüenta países a debater soluções

O Alto Comissariado para Imigração e Minorias Étnicas de Portugal, Rui Marques, afirmou a swissinfo que esta conferência, na qual participaram 50 países, foi uma oportunidade única para compartilhar experiências e discutir o futuro dos fluxos imigratórios.

Marques reforçou a importância de que seja criada uma política comum européia, apesar das dificuldades e divergências entre os países-membros. Um tema que será prioritário da presidência portuguesa da União Européia, no segundo semestre de 2007.

O comissário aponta também para a aplicação de políticas sérias de sensibilização pública sobre a importância da imigração nos países europeus, para que este tópico não seja utilizado para alimentar partidos xenófobos e racistas, que aproveitam da falta de informação da sua população para ganhar votos; mas ver a imigração como algo positivo para a Europa e como fator essencial para seu crescimento econômico.

Para Rui Marques, a tendência de restrição à entrada de imigrantes na Europa é preocupante e deve ser combatida. “Temos que explicar aos europeus que uma Europa-fortaleza não traz vantagem para ninguém”.

Swissinfo, Adriana Niemeyer, Lisboa

– A 11a Conferência Internacional Metropolis ocorreu em Lisboa, de 02 a 6 de outubro, com a participação de representantes de mais de 50 países.

– A cada ano, a Conferência é realizada em um país diferente.

– O Projeto Internacional Metrópolis consiste num conjunto atividades coordenadas entre universidades, institudos de pesquisa, instituições governamentais e organizações não governamentais.

– O objetivo é uma atuação política mais eficaz, baseada em pesquisas relevantes e na colaboração internacional.

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