Perspectivas suíças em 10 idiomas

“Agradeço pelo momento de paz”

Marc Wilkins mit seiner Frau Olga und der Tochter Matilda
Marc Wilkins, Olga e a filha, Mathilda. zVg

Ele foi um dos poucos suíços que permaneceu na Ucrânia com o propósito de ajudar. Mas, para o nascimento de sua filha, o cineasta Marc Wilkins e sua esposa retornaram. E garante que não ficam por muito tempo. 

Há um ano começou a fuga. Embora eles tivessem tomado a decisão de ficar em Kiev, quando Marc Wilkins e sua mulher Olga acordaram com bombas, no dia 24 de fevereiro de 2022, resolveram pegar o carro, com o tanque cheio, e seguir viagem. No porta-malas, o cachorro e um galão de gasolina. Depois de passar por Varsóvia, chegaram a Berlim, onde mora a irmã de Wilkins.

Na Alemanha acabaram não ficando muito tempo – tamanho era o peso de consciência de terem deixado família e amigos para trás. “Entregamos nossa casa ao destino, enquanto outras pessoas a estavam defendendo por nós”, afirmou Wilkins na ocasião.

Economias ficaram em Kiev

Marc Wilkins nasceu na Suíça e cresceu na Alemanha. Sua mulher, Olga Wilkins, é ucraniana. Ambos viveram seis anos em Kiev, onde eram proprietários de dois apartamentos e donos de uma galeria de arte contemporânea. Eles investiram muito dinheiro em diversos projetos até a eclosão da guerra. 

Portrait von Marc Wilkins
Marc Wilkins em sua galeria em Kiev, antes do início da guerrra. Vitaliy Uhov

Mal haviam chegado a Berlim, os dois resolveram voltar, mas, na fronteira entre a Polônia e a Ucrânia, a ajuda que estavam dispostos a prestar não teve utilidade. Foi então que o casal resolveu voltar para a Ucrânia imediatamente depois do ataque russo ao país.

O carro deles era praticamente o único a cruzar a fronteira naquela direção. “Na pista da rodovia em sentido contrário, tinha uma fila de carros de 15 quilômetros”, contou Wilkins na época.

De início, ele conseguia imaginar qualquer coisa para ajudar a Ucrânia – terra natal de sua esposa e o lugar que ele havia escolhido para viver – nesta situação de guerra. “Pensei em entrar para as Forças Armadas, em evacuar pessoas de Kharkiv com meu carro ou trabalhar intensamente pelas redes sociais – mas, na verdade, me sentia perdido e não sabia o que fazer”, relembra o cineasta.

Ajudando com filmes

Foi então que ele começou a ajudar com o que melhor sabe fazer: cinema. Wilkins, que é um diretor e roteirista conhecido, criou a seguir, junto de parceiros suíços, o projeto #U4Ukraine, que conclamava as pessoas a fazerem doações diretas.

O cineasta retratou nos filmes desta série personalidades na Ucrânia que, desde o início da guerra, não puderam mais exercer suas atividades originais e passaram a fazer coisas incríveis”. 

Um dos exemplos é Misha, que tenta refutar a propaganda russa através da campanha “Papa, believe meLink externo“. Ou Kseniia, que fornece roupas e sapatos de inverno aos defensores voluntários. Um total de 50 mil francos suíços foram coletados nesta ação. 

Consultas médicas ao som de alarme aéreo

O que Wilkins não revelou naquela ocasião é que sua mulher, Olga, estava grávida. E sua filha deveria nascer em Kiev, como queriam os então futuros pais. No entanto, o dia a dia passou a ser dominado por consultas médicas ao som de alarmes aéreos, drones sobre a casa de campo dos dois e notícias apreensivas de amigos. 

Só quando Olga Wilkins já estava no oitavo mês de gravidez é que o casal resolveu deixar Kiev e fugir para a Suíça. “Uma vida por trás de janelas com barricadas, ao som constante de alarmes aéreos, talvez fosse suportável para nós, mas não é adequada para um bebê”, relatou Wilkins ao jornal NZZLink externo.

Poucos dias depois da chegada na Suíça, nasceu Mathilda, a filha do casal. “Agradeço meu país, minha família e meus amigos pelo apoio, pelo momento de paz (e pelo fluxo estável das coisas)”, escreveu o cineasta em seu perfil no Instagram, após o nascimento da filha.

Marc e Olga Wilkins não se veem como refugiados, pois tiveram escolha, enquanto quem foge normalmente perde tudo o que tem.

O apartamento em que vivem no momento em Zurique está alugado até fins de março. “Quando o sol da primavera iluminar os telhados da rua Reytarska, vamos retornar a Kiev. Assim Mathilda poderá conhecer seus conterrâneos e ter uma ideia de seu maravilhoso país”, escreveu Wilkins no Instagram.

>>>>Projeto #U4Ukraine continua<<<<

Na próxima semana, Wilkins mostra, em outra série de filmes, como estão seus protagonistas um ano depois. ” É comovente ver como este ano mudou as pessoas”, diz ele.

Publicamos aqui com exclusividade o primeiro vídeo da série. Os próximos vídeos você encontra acessando o link:  https://uforukraine.ch/deLink externo

Adaptação: Soraia Vilela

Mostrar mais
Cadeira gigante em Genebra

Mostrar mais

Genebra internacional no fogo cruzado da guerra da Ucrânia

Este conteúdo foi publicado em Organizações internacionais em Genebra vivem um dilema: isolar a Rússia para acabar com a guerra na Ucrânia ou incluí-la nas negociações? Diplomatas opinam.

ler mais Genebra internacional no fogo cruzado da guerra da Ucrânia

Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!

Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR