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De banqueiro, a fugitivo, à redenção

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As taxas Libor sustentaram trilhões de dólares de empréstimos, incluindo cartões de crédito. Keystone / Jenny Kane

O ex-operador financeiro suíço Roger Darin descreve seu calvário como um horror “Kafkiano”. Após ser acusado pela justiça americana de facilitar fraudes financeiras, o banqueiro passou 10 anos fugindo dos promotores americanos na Suíça. Em outubro, seus problemas finalmente acabaram e todas as acusações foram retiradas.

O ex-banqueiro trabalhava para o UBS e foi um dos vários traders internacionais acusados de manipular de forma fraudulenta as taxas de juros da Libor em 2012.

O UBS foi um dos bancos internacionais fortemente multados por manipular as taxas de juros Libor, que servem de base para trilhões de dólares de empréstimos, incluindo hipotecas e cartões de crédito.

Diariamente, os bancos reportam o valor da taxa de juros interbancária de Londres, a Libor, que é uma taxa referencial usada para sinalizar o custo dos empréstimos de outros bancos. A Libor, além de influenciar o custo dos empréstimos em todo o mundo, também recai diretamente sobre as negociações de derivativos.

Nos últimos anos, os EUA, a Grã-Bretanha e outros países acusaram alguns atores do mercado financeiro de manipularem as taxas Libor para arrecadar de forma fraudulenta maiores lucros nessas negociações.

A acusação mais notória por manipulação da Libor envolveu o ex-banqueiro do UBS, Tom Hayes, que passou cinco anos e meio na prisão depois de ser considerado culpado por um tribunal britânico em um caso de manipulação da Libor.

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Darin insiste que nunca infringiu a lei como trader e agora viu as acusações criminais contra ele serem retiradas. Roger Darin

Além da condenação na corte inglesa, Hayes também estava sendo investigado pelo Departamento de Justiça dos EUA dividindo o banco dos réus nesta acusação com o suíço Darin. Mas na semana passada, um tribunal de Nova York rejeitou as acusações criminais dos EUA contra Hayes, forçando os promotores a retirarem suas acusações contra os dois homens.

‘História de terror’

“Foi uma experiência kafkiana”, disse Darin à SWI swissinfo.ch ao descrever a última década que passou abrigado em seu país natal, sem sair, confiando na tradição suíça de não extraditar seus cidadãos.

Viajar para o exterior poderia tê-lo exposto ao mesmo destino do ex-executivo do UBS Raoul Weil, que foi preso na Itália em 2013 com um mandado dos EUA em um caso não relacionado.

“Eu não sabia o que aconteceria se cruzasse as fronteiras suíças. Ser preso e passar um tempo em uma prisão estrangeira teria sido uma história de horror”, disse Darin.

“Tenho parentes na Áustria que faleceram e gostaria de ter comparecido aos funerais”, acrescentou. “Essa não era uma opção porque eu não conseguiria mensurar os riscos que estaria assumindo.”

O sistema Libor foi reformado e substituído na Suíça por um novo método de determinação das taxas de juros interbancárias.

Darin sempre insistiu que não fez nada de errado e que a repressão criminal global foi motivada politicamente. Ele se recusou a enfrentar seus acusadores nos tribunais dos EUA depois de ouvir pela primeira vez sobre sua acusação assistindo ao noticiário na televisão.

“Achei que não tinha recursos para me defender. Provavelmente teria me custado milhões em honorários advocatícios para obter um julgamento justo, enfrentando um governo que literalmente tem recursos ilimitados”, disse ele.

E sendo um fugitivo, a única maneira de iniciar uma defesa em seu caso seria primeiro atender às exigências de um juiz para se entregar às autoridades americanas.

Sem viagens

“O conselho de meus advogados era não viajar para os EUA, a menos que eles oferecessem imunidade de processo. Isso não foi oferecido, então eu não fui”, disse ele. “Até hoje me pergunto se as coisas teriam sido diferentes se eu tivesse ido. Várias pessoas que foram, e que desempenharam papéis muito semelhantes aos meus na história da Libor, não foram indiciadas”.

Em 2016, um recurso de seus advogados pedindo a suspensão de sua acusação foi negado pela Suprema Corte dos EUA.

Depois de deixar o banco, a condição de fugitivo da justiça dificultou para Darin encontrar um novo emprego em outro banco. “Alguns bancos me disseram que eu não poderia ser contratado para determinados cargos. Isso me custou oportunidades.”

Ele passou os últimos seis anos trabalhando como consultor de bancos e outras empresas financeiras na área de novas formas de finanças digitais usando blockchain.

Agora que as acusações foram suspensas, Darín está livre para deixar a Suíça sem medo de ser preso. Seu primeiro destino de viagem será Washington DC para comemorar com seu advogado, Bruce Baird, nos Estados Unidos.

Adaptação: Clarissa Levy

Adaptação: Clarissa Levy

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