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Gübelin cria sistema de classificação para pedras preciosas

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Durante muito tempo, os revendedores e joalheiros quebraram a cabeça para produzir um modelo de avaliação que poderia ser facilmente compreendido e amplamente adotado para as três principais pedras preciosas. Keystone / Martial Trezzini

A maior parte dos compradores em potencial sabe que, se desejam comprar diamantes, precisam se familiarizar com os “Quatro Cs”: quilate [carat, em inglês], cor, clareza e corte – o sistema de classificação que determina seu preço. Mas, quando se trata de rubis, safiras e esmeraldas, a única esperança dos compradores inexperientes é encontrar um vendedor digno de confiança.

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Por muitos anos, os revendedores e joalheiros têm quebrado a cabeça para produzir um modelo de avaliação para essas três grandes gemas coloridas que pudesse ser facilmente compreendido e amplamente adotado.

E, quando a pandemia de 2020 forçou a comercialização remota através de inspeções virtuais em telas digitais, a necessidade de uma solução aumentou – foi o momento perfeito para o Gübelin Gem Lab introduzir seu novo sistema de classificação para pedras preciosas coloridas.

Embora a Gübelin tenha começado como uma relojoaria em Lucerna, o negócio passou posteriormente para a joalheria. O laboratório Gübelin Gem Lab abriu suas portas na década de 1920 para avaliar pedras, tornando-se uma autoridade renomada em gemas coloridas.

Seus tradicionais relatórios, que custam mais de CHF 200 (US$ 216), identificam a pedra preciosa, seu país de origem quando possível, e a presença de qualquer tratamento, como aquecimento ou lubrificação. Eles não fornecem, contudo, qualquer indicação acerca da qualidade da pedra em si.

No entanto, o novo Gübelin Gemstone Rating irá agora avaliar a qualidade, raridade e saliência de uma gema específica, atribuindo-lhe um número – Gübelin Points.

Os novos parâmetros são inspirados no sistema de classificação de vinhos de Robert Parker que, desde o final dos anos 70, tem avaliado vinhos de todo o mundo com base numa escala de 100 pontos. 

“Eu queria algo simples, um único número que englobasse a qualidade e a raridade da pedra e que oferecesse de imediato uma noção abrangente da pedra”, explica Raphael Gübelin, diretor executivo da empresa.

O sistema Gübelin começa a classificar as gemas em 75 pontos, dando-lhes o rótulo de “razoável” [“fair”] (75-79,9), e passa então pelas pedras que são classificadas como “boas” (80-84,9), “finas” (85-89,9), “superiores” (90-92,4), “excelentes” (92,5-94,9), “extraordinárias” [“outstanding”] (95-97,4) e “excepcionais” (97,5-100).

A elaboração do sistema de classificação começou em 2018. Ele foi construído com base num banco de dados compilado ao longo de décadas, com registros de mais de 28.000 gemas de origem comprovada. Esses exemplares são analisados pelo Gübelin Gemtelligence, um projeto, ainda em andamento, que desenvolve um algoritmo baseado em aprendizagem de máquina para aumentar a consistência na avaliação de gemas. Gübelin espera que o novo sistema de classificação aumente a confiança dos consumidores. “Há consumidores finais que estão interessados na beleza das gemas coloridas, mas hesitam em comprá-las porque elas são difíceis de entender, e então eles passam para os diamantes”, diz ele.

Esse é um bom argumento. Desde o início dos anos 40, quando o fundador do Instituto Gemológico da América, Robert Shipley, substituiu termos nebulosos como “de rio” e “bem-feito” pelo sistema mais racional dos Quatro Cs, o mercado para joias de diamantes chegou a cerca de US$ 80 bilhões, segundo os dados de 2020 – aproximadamente oito vezes o tamanho do mercado de pedras preciosas coloridas.

“O sistema dos Quatro Cs sem dúvida foi transformador para os diamantes”, diz Tyler Harris, gemólogo e sócio da empresa de consultoria empresarial McKinsey.

“Ele possibilitou a existência de um vocabulário consistente para falar sobre características importantes das pedras. Tão importante quanto isso foi o fato de que o sistema 4Cs fornece uma estrutura que liga as características de um diamante ao seu valor, o que não só impulsiona a padronização do mercado, mas também aumenta a confiança do consumidor”.

Quig Bruning, chefe do departamento de joias da Sotheby’s, em Nova York, concorda que a compra de rubis, safiras e esmeraldas requer mais esforço quando as pedras não podem ser avaliadas pessoalmente. “Frequentemente nos perguntam sobre a natureza e a qualidade da cor e sobre a natureza e presença das inclusões. Em geral, nossos clientes nos procuram para os ajudemos a ter uma ‘impressão’ mais subjetiva de uma gema colorida”, diz ele.

Durante toda a pandemia, joalheiros consagrados a procura de gemas coloridas – como Boghossian – só realizaram compras se as pedras lhes fossem enviadas antes.

O que pode surpreender alguns compradores de gemas é a ausência do país de origem entre os novos critérios de avaliação de Gübelin. Roberto Boghossian, sócio-gerente em sua empresa familiar, reconhece a lógica de se concentrar nas “propriedades gemológicas” das pedras e elogia a nova classificação por trazer “tranquilidade e transparência para nosso setor”. Mas ele está convencido de que o país de origem ainda influenciará a compra de gemas maiores.

Bruning, da Sotheby’s, discorda. “Embora certamente haja pessoas que estão ativamente procurando por safiras birmanesas ou da Caxemira, por exemplo, elas ainda querem comprar safiras de alta qualidade”, argumenta. “Safiras da Caxemira, rubis birmaneses e esmeraldas colombianas… essas são pedras preciosas valorizadas – com razão – por sua raridade. Mas nem todas as gemas originárias dessas localidades famosas são de alta qualidade”.

“Recentemente, temos visto preços robustos sendo pagos por safiras de Madagascar e rubis de Moçambique, por exemplo. Os compradores experientes estão prontos para buscar gemas excepcionais, independentemente de sua origem”.

Para promover seu novo sistema de classificação, o Gübelin o está oferecendo este ano como um complemento de cortesia ao seu já conhecido relatório Gem Lab. Para adquirir a classificação individualmente, estão sendo cobrados CHF 100, e a empresa adverte que suas classificações, por si só, “não são adequadas para deduzir diretamente os preços de compra ou venda”.

A empresa suíça também planeja ensinar os parâmetros de classificação em sua Gübelin Academy, que oferece aos estudantes uma introdução a safiras, esmeraldas e rubis.

O interesse dos consumidores parece ser grande. “As gemas coloridas são uma área em crescimento na joalheria fina”, diz Harris. “Nos EUA, nos últimos cinco a 10 anos, temos visto um crescimento três vezes rápido no valor de mercado de joias finas com gemas coloridas, em comparação às joias com diamantes, e é razoável que a tendência continue no futuro próximo”.

Copyright The Financial Times Limited 2021

Adaptação: Clarice Dominguez 

Adaptação: Clarice Dominguez

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