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Tour mostra figuras femininas que moldaram a Suíça

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A recifense Luci Strijbis quer mostrar ao Brasil uma Suíça ainda desconhecida até de muitos suíços. Com alma de trovadora e sócia da empresa turística Guia Suíça, junto com Magali Albisser, criou o Tour Mulheres de Zurique.

O programa com temática feminina descortina lugares e histórias – nem sempre muito visíveis ou lembradas – de mulheres que participaram intensamente de grandes transformações do país. Elaborado em português, dura duas horas, aborda diversos ícones do gênero no país.

“Infelizmente o mundo não tem sido generoso conosco ao longo dos séculos. Existem suíças que exerceram papel fundamental nesse país, mas que nem sempre são mostradas com a devida importância. Mas estamos aqui para lembrá-las”, afirma Luci Strijbis, feminista de carteirinha, que entre suas atividades, co-lidera o Grupo Leia Mulheres Zurique/Argóvia – que fomenta a leitura de escritoras.

Como há poucas menções a essas personagens na cidade, a guia precisa muitas vezes lançar mão de um prédio ou uma referência histórica já existente para voltar no tempo e conectar a narrativa com o papel das figuras femininas. A swissinfo.ch acompanhou o Tour Mulheres e separou cinco personagens, das inúmeras mencionadas no passeio, em diferentes pontos.

1 – Início

O tour sai da Estação Ferroviária Central da cidade de Zurique. O ponto de encontro foi estrategicamente pensado como parte integrante do discurso do empoderamento, mesmo que a palavra venha sendo usada em excesso. Embaixo da escultura do Anjo Protetor, feita pela escultora Niki de St. Phalle, a reportagem da swissinfo.ch e as outras dez participantes do tour se encontraram com a guia.

A escultura da série Nanas é uma grande senhora de 1.2 tonelada, pendurada a 11 metros de altura na principal estação de trem de Zurique. Vestida com roupa colorida, acena para os cerca de 460 mil passantes diariamente.

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O grupo na estação ferroviária central de Zurique. swissinfo.ch

2 – Convento

Dali o grupo caminha até onde hoje é o Oetenbachgasse, a linha imaginária que até no século XIX abrigava a muralha que cercava a cidade de Zurique na era medieval. Logo ali, em frente ao que hoje é a entrada do estacionamento Urania, ficava o maior convento de freiras da cidade, fechado na Reforma Protestante em 1524.

O prédio, entretanto, só foi demolido na virada do Século XIX. Desse ponto da cidade é possível visualizar os estilos de diferentes épocas dos prédios, de um tempo mais moderno à entrada das construções medievais, bem do outro lado da rua.  

Naquele ponto, o tema feminismo encontra voz quando é narrada a história da última abadessa da Frau Münster, Katharina von Zimmer, que após a Reforma Protestante, se casou. “De uma hora para outra, não poderia mais ser praticada outra religião. Essas religiosas precisavam seguir com suas vidas de alguma maneira e o casamento era uma das poucas opções”, explica a guia. Von Zimmer é tão importante na história do país que ela volta a ser mencionada em outras paradas do tour.

3 – Lindenhof

Um dos pontos altos do passeio é o momento em que Luci conta a história de Hedwig ab Burghalden, mulher que liderou um exército de senhoras em 1292. Como a maioria dos homens lutava em uma batalha fora da cidade, Zurique estava prestes a sofrer um ataque da tropa dos Habsburgos. Para defender seu espaço e famílias, elas se vestiram de soldado e se armaram para fingir que o lugar não estava indefeso. Na crença de que havia reforços, o inimigo desistiu da luta.

Esse momento é interessante porque mostra admiração pela história e a surpresa, de todas as participantes, sem exceção, com o fato de que a única estátua de mulher presente no tour, homenageia justamente Hedwig ab Burgalden. Ali, no meio da praça Lindenhof, um dos lugares mais visitados da cidade, jaz a homenagem que não tem sequer o nome ou explicação de quem teria sido a personagem.

Segundo Luci, Hedwig representa a força feminina do país. E como o tour foi pensado como forma de valorizar essas personagens, ela costura a explicação-aula: “É preciso saber que juntas podemos mudar muita coisa, mas é preciso união. Se fosse hoje, acredito que ela teria feito um grupo de what’s up e reunido as companheiras para defender seu espaço”, diz a guia.

Fabiana Miyazawa, uma das participantes, se diz surpresa com a descoberta. Em frente à estátua de Hedwig ab Burghalder, ela admira a coragem da lutadora e diz: “Já tinha vindo aqui tantas vezes e nem sabia que era uma mulher. Ela era uma verdadeira visionária”.

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4 – Universidade

Ainda na praça Lindenhof, mas focada agora na generosa vista panorâmica da cidade, Luci mira a Universidade de Zurique e conta a história de outras personalidades que se destacaram em seus pioneirismos. Uma dessas é Marie Heim Vögtlin, a primeira médica e ginecologista suíça, feito do fim do século XIX.

Aos 23 anos de idade e com a necessária autorização do seu pai, foi a primeira suíça a iniciar os seus estudos naquela Universidade. Se formou e abriu consultório, mas é preciso mencionar que ela precisou provar que seu trabalho não atrapalhava suas funções de mãe ou dona de casa.

Ao contar a empreitada de Vögtlin, a guia aproveita para discorrer da ainda pouca participação feminina no quadro docente e discente da Eidgenössische Technische Hochschule (ETH), o Instituto Federal de Tecnologia de Zurique, que ainda conta com somente 32% de alunas mulheres, 32,1% de doutorandas e 10% de professoras, segundo dados de Monitoramento de Gênero da ETH de 2018/19. 

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5 – Câmara dos Vereadores

Embora Emilie Lieberherr não tenha marchado em Zurique a favor do direito ao voto feminino, o tour não poderia ignorá-la. Ela, em 1969, liderou 5 mil pessoas, na maioria mulheres, em uma passeata em Berna para lutar pelos direitos políticos delas, inclusive ao do voto e de eleição em nível cantonal. Lieberherr tornou-se a primeira vereadora da cidade de Zurique.

Já no final do tour, em frente à Câmara dos Vereadores e ao Rio Limmat, a guia turística finaliza o passeio dizendo que “se hoje temos uma vida mais igualitária, com inúmeras conquistas, devemos agradecer a essas figuras incríveis e fortes do passado, que tanto lutaram”. Taís Müller, que participou do tour, diz que a experiência foi muito importante para entender como a vida de hoje teve que ser construída com muito custo por essas predecessoras.

Como mensagem final, Luci diz que é preciso que tenhamos coragem e brio de sermos mulheres e que precisamos nos unir e ajudarmos umas as outras, como era feito há tempos, em épocas menos individualistas. E no mais, “ocupe os espaços da sua cidade e história”.

O Tour Mulheres é só mais uma atividade fora da curva da qual se orgulham as duas empresárias. Elas lançam em breve o Tour das Bruxas de Zurique, que irá narrar a atmosfera de como era a caça às bruxas na cidade e no restante da Europa, muito difundida na época da inquisição.

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