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Guerra de Gaza comove Festival de Veneza com ‘The Voice of Hind Rajab’

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A guerra de Gaza foi a protagonista desta quarta-feira (3) do 82º Festival de Veneza, onde a franco-tunisiana Kaouther Ben Hania apresentou “The Voice of Hind Rajab”, filme baseado na história real de uma menina palestina assassinada pelas forças israelenses enquanto tentava fugir da Cidade de Gaza.

“The Voice of Hind Rajab” recria as longas horas vividas em 29 de janeiro de 2024, quando os trabalhadores de um centro de emergência em Ramallah, na Cisjordânia, tentaram salvar a pequena de cinco anos, refugiada em um carro junto com seis familiares.

Com o consentimento de sua mãe, no filme foram utilizadas gravações reais da chamada em que Hind Rajab pedia socorro; registros que causaram grande comoção em todo o mundo quando vieram à tona.

“Fique comigo, não me abandone”, ouve-se a menina dizendo na chamada, entrecortada pelo som de tiros e bombas.

A projeção oficial terminou com uma ovação de 23 minutos, com vários espectadores erguendo bandeiras palestinas e gritando slogans na sala do palácio de festivais, constatou um jornalista da AFP.

A equipe do filme, composta de atores palestinos, acabou chorando. Duas horas antes, vestidos de preto e levando uma foto de Hind Rajab, os atores e a diretora desfilaram pelo tapete vermelho, acompanhados pelo casal formado por Rooney Mara e Joaquin Phoenix, produtores executivos.

O filme também conta com o apoio de Brad Pitt e dos diretores Alfonso Cuarón e Jonathan Glazer, também produtores executivos.

O filme, apresentado em seleção oficial, é um dos vinte e um que competem este ano pelo Leão de Ouro, que será atribuído no dia 6 de setembro por um júri presidido pelo americano Alexander Payne.

– “Desumanizante” –

“Estamos vendo que, em todo o mundo, a imprensa apresenta os mortos em Gaza como danos colaterais. Parece-me muito desumanizante, por isso o cinema, a arte e todas as formas de expressão são tão importantes para dar uma voz e um rosto a essas pessoas”, afirmou Ben Hania em uma coletiva de imprensa.

Desde o início do festival, em 27 de agosto, o glamour do evento foi eclipsado em diversos momentos pela devastadora situação da Faixa de Gaza, palco de uma guerra desencadeada pelo ataque do movimento islamista palestino Hamas em Israel em 7 de outubro de 2023.

Um coletivo fundado por dez cineastas italianos independentes, chamado Venice4Palestine (V4P), lançou um chamado no início da Mostra condenando a guerra no território palestino, com uma carta aberta, que reuniu – segundo o grupo – 2 mil assinaturas. 

Também compareceram várias personalidades que expressaram sua condenação à ofensiva israelense.

A diretora marroquina Maryam Touzani e seu marido, o cineasta Nabil Ayouche, seguraram um cartaz preto onde se lia “Stop the genocide in Gaza” (“Parem o genocídio em Gaza”) no tapete vermelho, e a cineasta argentina Lucrecia Martel denunciou que “diariamente vemos imagens e sons de um país sendo devastado, um povo sendo devastado, que é a Palestina”.

Por sua vez, o diretor artístico do Festival, Alberto Barbera, afirmou que o festival é “um lugar de abertura e debate”.

– Três propostas da América Latina –

Este ano não há nenhum filme ibero-americano na competição oficial. A maioria das produções apresentadas da Espanha e da América Latina está nas seções Horizontes e Spotlight, dedicadas a novas tendências.

Nesta quarta-feira, a diretora equatoriana Ana Cristina Barragán trouxe a Veneza “Hiedra”, um filme intimista, alinhado aos últimos trabalhos (“La Piel Pulpo”, “Alba”), sobre uma mãe em busca de seu filho, que ela abandonou quando ele era bebê.

Apresentar seu filme em Veneza “foi muito especial e muito importante para a cultura do Equador”, declarou à AFP Barragán, cujo país não trazia um longa-metragem à Mostra há 26 anos, quando Sebastián Cordero estreou “Ratos e Rueiros”.

Por sua vez, o uruguaio Daniel Hendler exibiu na seção Spotlight “Un Cabo Suelto”, que acompanha as peripécias de um oficial da polícia argentina que foge para o Uruguai para escapar de outros agentes que o perseguem. O filme conquistou em 2024 o prêmio WIP Latam no Festival de San Sebastián, uma ajuda para a pós-produção.

Este ano, Hendler terá uma presença dupla no festival donostiarra: seu último filme, “27 Noches”, abrirá o evento e “Un Cabo Suelto” será exibido na seção “Horizontes Latinos”.

“Eu me sinto muito sortudo”, disse nesta quarta-feira Hendler à AFP, referindo-se a um “enorme privilégio e a um orgulho” pelo fato de seus dois filmes, “um mais argentino, outro mais uruguaio”, terem sido selecionados.

E do México veio o primeiro longa-metragem de Mayra Hermosillo, “Vainilla”, exibido na seção Jornadas dos Autores, sobre a luta de uma família para evitar ser despejada no final dos anos 1980.

jvb/avl/dd/aa/hgs/lm/am

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