México oferece asilo político para Julian Assange
O México ofereceu, nesta segunda-feira (4), asilo político para o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, depois que a Justiça britânica rejeitou sua extradição para os Estados Unidos para ser julgado pela publicação de centenas de milhares de documentos secretos.
“Vou pedir ao secretário de Relações Exteriores que faça os trâmites correspondentes para que se solicite ao governo do Reino Unido a possibilidade de que o senhor Assange fique em liberdade e o México lhe ofereça asilo político”, declarou o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, em sua habitual entrevista coletiva matinal.
O presidente de esquerda comemorou a decisão da justiça britânica e foi favorável ao perdão de Assange. “É um triunfo da justiça (…) porque Assange é jornalista e merece uma oportunidade”, disse.
López Obrador disse que o México oferece asilo com proteção, mas também com “a responsabilidade de zelar para que quem recebe o asilo não intervenha, nem interfira, nos assuntos políticos de nenhum país”.
Uma juíza britânica rejeitou na segunda-feira a extradição de Assange para os Estados Unidos, considerando que, se o fizesse, poderia cometer suicídio.
“O México tem uma longa história de asilo, demonstrou isso em muitos conflitos, como a Guerra Civil Espanhola, com o ex-presidente boliviano Evo Morales (em 2019) e com outros atores”, disse o internacionalista Adolfo Laborde à AFP.
Entre os exilados recebidos no México estão o revolucionário russo León Trotsky, o rebelde nicaraguense César Augusto Sandino, o cineasta espanhol Luis Buñuel e Hortensia Bussi, viúva do presidente chileno Salvador Allende.
Laborde considera que o resultado dos esforços do México dependerá “da pressão política dos atores envolvidos, do Reino Unido e da decisão dos países que possam ter interesse em que o homem não saia” do território britânico.
Para Arturo Sarukhán, ex-embaixador mexicano nos Estados Unidos, a decisão de López Obrador trará atrito com o próximo governo do democrata Joe Biden.
O governante mexicano “parece ignorar ou decide ignorar o papel que Assange desempenhou na campanha presidencial dos EUA de 2016 com o ‘hack’ dos computadores da campanha democrata e, assim, transforma esta questão em outra frente potencial de atrito com a próxima administração americana”, disse Sarukhán.
Assange, de 49 anos, está há 20 meses detido na prisão de Belmarsh, em Londres, desde sua espetacular detenção em abril de 2019 na embaixada do Equador no Reino Unido. Ele viveu por sete anos como refugiado nessa missão diplomática.
Assange e WikiLeaks se tornaram conhecidos em 2010, após a divulgação de cerca de 700.000 documentos militares e diplomáticos confidenciais que colocaram os Estados Unidos em uma difícil situação.
Washington o acusa de colocar em risco a vida de seus informantes, ao publicar documentos secretos sobre as ações militares dos EUA no Iraque e no Afeganistão. O material vazado revelou atos de tortura, mortes de civis e outros abusos.