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Panamá inicia novo diálogo com ‘mesa única’ para acabar com protestos

Manifestantes protestam na Cidade do Panamá, 20 de julho de 2022 afp_tickers

O governo e representantes de sindicatos e organizações cidadãs iniciaram, nesta quinta-feira (21), uma “mesa única” de diálogo para acabar com as manifestações e bloqueios no Panamá, com “propostas concretas” para enfrentar o alto custo da vida e a corrupção.

“Não tenho qualquer dúvida de que, através do diálogo sincero e respeitoso, podemos chegar a soluções viáveis”, afirmou o presidente do Panamá, Laurentino Cortizo, antes do início das negociações em Penonomé, 150 quilômetros a sudoeste da Cidade do Panamá.

Em seu discurso, o presidente expressou o desejo de alcançar “consenso e bons resultados” e pediu aos manifestantes que reabrissem todas as avenidas para permitir a atividade comercial que impulsiona o crescimento econômico e a criação de empregos. Além disso, Cortizo elogiou o fato de que a maioria dos bloqueios já foi suspensa.

“Não faz sentido atingirmos a nós mesmos”, continuou o presidente, que alertou que durante os protestos “vandalismo e ações contrárias à lei serão punidos”.

Uma das primeiras propostas de Cortizo foi que seu governo pedirá à Assembleia Nacional, onde a situação tem maioria, a revogação das leis que concediam créditos fiscais milionários a projetos turísticos, questionados pelos manifestantes, que pediram o redirecionamento desses recursos para a saúde ou educação.

“Esperamos que o governo venha com respostas concretas às necessidades fundamentais da população”, disse Saúl Méndez, secretário-geral do sindicato da construção Suntracs, um dos promotores dos protestos.

As organizações pedem redução e congelamento dos preços da cesta básica, combustível, energia, medicamentos, o investimento de 6% do PIB em educação pública e abordar o futuro do sistema de saúde estatal.

Também exigem medidas contra a corrupção, em meio a fortes críticas dos cidadãos pelos salários dos altos funcionários e pelo desperdício de recursos públicos.

– Abastecimento –

Há mais de duas semanas, o Panamá é palco de várias manifestações e bloqueios de estradas em todo o seu território. Nesta quinta-feira, ainda havia bloqueios breves em algumas estradas da capital.

O fechamento de rodovias devido aos protestos ocorre principalmente na rodovia Pan-Americana, que liga o Panamá à Costa Rica e é a principal rota de comércio e transporte de mercadorias do país, o que tem causado desabastecimento.

Um bloqueio de estrada na quarta-feira impediu que uma caravana de mais de 200 caminhões chegasse à capital panamenha com centenas de toneladas de alimentos frescos da província de Chiriquí, no extremo oeste do país e considerada o celeiro do Panamá.

Os sindicatos reivindicaram a responsabilidade por este bloqueio e acusaram “bandidos” e “criminosos” por interceptar a caravana “com armas na mão”.

Os manifestantes apontaram dois cidadãos ligados a partidos políticos como promotores desta atividade. As autoridades ordenaram sua prisão.

A Polícia disse que garantirá a chegada dos camiões com alimentos nesta quinta-feira.

O Fundo de Segurança Social alertou que os bloqueios também afetam o fornecimento de medicamentos e material médico.

– Mesa Única –

Os manifestantes exigem que o governo de Laurentino Cortizo tome medidas contra o aumento da inflação e a corrupção, na maior crise social desde a invasão americana de 1989.

Associações empresariais calculam que as perdas por bloqueios de estradas tenham sido de cerca de US$ 500 milhões em 10 dias.

A convocação para o diálogo agrupa a Aliança Nacional do Povo Organizado (Anadepo), que reúne a maioria das organizações que convocam os protestos, a Aliança Povo Unido pela Vida, de sindicatos de esquerda, e representantes de comunidades indígenas.

Acordos anteriores entre o governo e algumas dessas organizações foram ignorados poucas horas depois de serem assinados pelos manifestantes, que os consideraram insuficientes e exclusivos.

Para acalmar os ânimos, o presidente Cortizo inicialmente baixou o preço do galão de gasolina (3,78 litros) de US$ 5,20 para US$ 3,95, mas a medida foi rejeitada.

Em seguida, foi oferecida uma redução para US$ 3,25, que está em vigor atualmente, mas os representantes dos manifestantes agora se juntarão ao diálogo para exigir mais medidas do governo para reduzir o custo de vida.

Apesar da economia dolarizada, altos números de crescimento econômico e receita de mais de US$ 2 bilhões por ano do Canal, o Panamá tem uma das maiores taxas de desigualdade do mundo, com serviços públicos de saúde, educação e acesso precários à água potável em algumas áreas.

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