Para a Somália, reconhecimento da Somalilândia por Israel ameaça estabilidade regional
O reconhecimento por Israel da região da Somalilândia como Estado independente é uma “ameaça” para a segurança e a estabilidade da região e incentiva grupos separatistas, afirmou, neste domingo (28), o presidente da Somália, Hassan Sheikh Mohamud.
O território, do tamanho do Uruguai (175.000 km²), fica no extremo nordeste do Chifre da África e declarou sua independência da Somália em 1991, quando o país estava mergulhado no caos após a queda do regime militar do autocrata Siad Barre.
Israel se tornou, na sexta-feira, o primeiro país a reconhecer o território, que funciona de forma autônoma e se distingue por uma estabilidade relativa em comparação com a Somália, afetada por insurgências islamistas e conflitos políticos.
Em uma sessão parlamentar de emergência, Mohamud afirmou que esta medida “equivale a uma agressão descarada contra a soberania, a independência, a integridade territorial e a unidade do povo da República da Somália”.
O dirigente acrescentou que “as violações [do primeiro-ministro israelense, Benjamin] Netanyahu e suas tentativas de dividir a República Federal da Somália são uma ameaça para a segurança e a estabilidade do mundo e da região, e incentivam os grupos radicais e os movimentos secessionistas que existem ou podem existir em muitas regiões do mundo”.
Turquia, Djibuti – que faz fronteira com a Somalilândia – e o Egito repudiaram a iniciativa. E o presidente americano, Donald Trump, disse que Washington não seguiria os passos de Israel, seu aliado.
A União Europeia, por sua vez, pediu respeito à “soberania” da Somália.
O líder dos rebeldes huthis no Iêmen alertou, em comunicado divulgado neste domingo, que qualquer presença israelense na Somalilândia seria considerada um “alvo militar”.
“Consideramos qualquer presença israelense na Somalilândia como um alvo militar para nossas forças armadas; trata-se de uma agressão contra a Somália e o Iêmen, além de uma ameaça à segurança da região”, declarou Abdel Malek al-Houthi, de acordo com uma publicação online da mídia rebelde.
A Somalilândia tem uma posição estratégica na entrada do estreito de Bab el Mandeb, em uma das rotas comerciais mais concorridas do mundo, que liga o oceano Índico ao mar Vermelho e ao canal de Zuez, mais ao norte.
Analistas acreditam que a decisão israelense foi motivada por interesses de segurança regional, em particular devido à frente aberta que mantém com os rebeldes huthis iemenitas.
A costa do Iêmen fica em frente à da Somalilândia, e Israel atacou reiteradamente alvos neste país após o início da guerra na Faixa de Gaza, em 2023.
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