Ajuda humanitária e neutralidade testam diplomacia suíça no conflito do Oriente Médio
A Suíça defende o cessar-fogo no Oriente Médio, mas é criticada pela sua ambiguidade em condenar o Hamas, apoiar Israel e evitar reconhecer a Palestina. Uma linha do tempo sobre um conflito que já dura décadas.
Em 7 de outubro de 2023, o Hamas, juntamente com outros grupos armados palestinos, atacou Israel, matandoLink externo mais de 1.100 pessoas e levando cerca de 251 reféns para Gaza.
Israel respondeu com uma operação militar em larga escala na Faixa de Gaza. Autoridades de saúde palestinas afirmam que a campanha terrestre e aérea de Israel contra militantes do Hamas matou mais de 67 mil pessoasLink externo desde que a guerra começou há dois anos.
Em setembro, Israel lançou uma ofensiva contra a cidade de Gaza, utilizando ataques aéreos, artilharia e incursões terrestres. Em um documentoLink externo publicado em 16 de setembro, uma comissão de inquérito da ONU afirma que Israel cometeu genocídio contra os palestinos em Gaza. Israel rejeitou as conclusões do relatório.
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O desafio de se provar o genocídio
Um grupo de monitoramento internacional alertou em julho que o pior cenário de fomeLink externo está se desenrolando em Gaza desde que o exército israelense colocou o enclave sob bloqueio humanitário no início de março de 2025.
Nos últimos dois anos, a Suíça continuou a oferecer seus bons ofícios para apoiar a retomada das negociações de paz. A Suíça classificou o Hamas como uma organização terrorista, absteve-se de reconhecer um Estado palestino e considerou encerrar suas contribuições financeiras à UNRWA, a agência das Nações Unidas que apoia refugiados palestinos.
Outubro a dezembro de 2023: declara Hamas como organização terrorista.
O governo suíço condenou veementemente os atos de terrorismo cometidos pelo Hamas, reconheceu o direito legítimo de Israel de garantir sua segurança e defesa e apelou a todas as partes para que respeitem o direito internacional humanitário para proteger a população civil.
Na sequência dos ataques, o governo organizou voos para cerca de 700 residentes suíços de Tel Aviv para Zurique e forneceu 90 milhões de francos suíços para ajuda humanitáriaLink externo ao Médio Oriente.
11 de outubro: Quatro dias após o ataque, o governo suíço declarou que queria proibir o Hamas na Suíça. Uma lei foi apresentada em novembro e entrou em vigor em maio de 2025.
Isto representa uma inversão das antigas políticas da Suíça para o Médio Oriente, que consistiam em se posicionar como uma potência mediadora e não designar o Hamas como uma organização terrorista.
29 de dezembro: Como membro não permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas em 2023 e 2024, a Suíça, que não tem poder de veto, enfatizouLink externo a necessidade de uma solução política duradoura no Oriente Médio em uma reunião de emergência em Nova York.
A Suíça reafirmou seu apoio a uma solução de dois Estados delineada pela ONU, com baseLink externo nas fronteiras de 1967.
2024: Crise da ajuda humanitária em Gaza
Em 2024, Israel ampliou o escopo de sua campanha militar em Gaza, envolvendo ataques aéreos continuados, incursões terrestres e a imposição de bloqueios de suprimentos. A situação humanitária em Gaza se deteriorou acentuadamente, enquanto a violência também se intensificou na Cisjordânia entre colonos israelenses, o exército israelense e palestinos.
Apesar dos repetidos apelos internacionais para a redução da tensão, não foi alcançado um cessar-fogo duradouro e as negociações de paz permaneceram estagnadas.
A Suíça enfatizou que todas as partes envolvidas no conflito israelense-palestino devem aderir estritamente ao direito internacional humanitário, sem exceção, e insiste em uma solução de dois Estados para Israel e Palestina.
Após alegações de Israel de que vários funcionários da UNRWA participaram dos ataques do Hamas, o Parlamento Suíço manteve discussões ao longo de 2024 para encerrar suas contribuições à organização.
O Parlamento federal concluiu que qualquer financiamento para a UNRWA deve primeiro ser discutido com as comissões de relações exteriores.
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Como controvérsias comprometem a assistência humanitária em Gaza
18 de abril: O Conselho de Segurança da ONU votou uma resolução para recomendar a Palestina como membro pleno da ONU. A resoluçãoLink externo recebeu 12 votos a favor, 2 abstenções (do Reino Unido e da Suíça) e foi finalmente vetada pelos Estados Unidos, um dos cinco membros permanentes do Conselho.
Este veto impediu que a resolução avançasse para a Assembleia Geral da ONU, onde uma maioria de dois terços seria necessária para que a Palestina fosse admitida como um estado-membro de pleno direito.
A Suíça afirmou que se absteve de votar porque concluiu que a admissão da Palestina como membro pleno da ONU não contribuiria, nesta fase, para aliviar as tensões ou promover os esforços de paz no Médio Oriente.
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Suíça se abstém em votação para adesão plena da Palestina à ONU
19 de julho: A Corte Internacional de Justiça (CIJ) emitiu um parecer consultivoLink externo declarando ilegal a presença de Israel nos territórios palestinos ocupados. A Suíça contribuiu para o parecer consultivo da CIJ e o apoiou.
18 de setembro: A Suíça se absteve na votação da Assembleia Geral da ONU, apoiando o parecer da CIJ, reafirmando seu compromisso com o direito internacional. A Suíça argumentou que certos pontos da resolução adotada em 18 de setembro vão além do parecer consultivo, em particular o prazo de 12 meses para a retirada de Israel do Território Palestino Ocupado, sem mencionar como a segurança de Israel seria garantida. “Nossa abstenção em nada diminui nosso compromisso de respeitar e garantir o respeito ao direito internacional humanitário em todo o Território Palestino Ocupado”, afirmouLink externo.
2025: fome ameaça a Faixa de Gaza
Apesar dos persistentes apelos internacionais por um cessar-fogo, as hostilidades no Oriente Médio continuam. Desde julho, toda a população de Gaza corre o risco de morrer de fome, segundoLink externo as ONU. Isso gerou críticas internacionais contra Israel e o levou a permitir a entrada de mais ajuda no enclave.
A proibiçãoLink externo da UNRWA imposta por Israel israelense entrou em vigor em 30 de janeiro, o que complicou ainda mais a distribuição de ajuda em Gaza. Além disso, Israel fechouLink externo completamente as travessias da fronteira de Gaza, impedindo a entrada de alimentos, água e ajuda humanitária no território de março a meados de maio.
6 de março: Uma conferência planejada sobre proteção de civis em territórios palestinos à luz das Convenções de Genebra é cancelada devido a profundas divergências entre as partes envolvidas. A Suíça foi criticada por não realizar a conferência conforme determinado pela Assembleia Geral da ONU. O objetivo da conferência era reafirmar a proteção de civis e propriedades civis nos territórios palestinos ocupados.
15 de maio: Início de uma proibição de cinco anos do Hamas na Suíça.
21 de maio: A Suíça prometeu contribuir com 10 milhões de francos (US$ 12 milhões) para a UNRWA em 2025, em linha com a contribuição do ano passado, para apoiar suas atividades na Jordânia, Líbano e Síria.
30 de maio: O governo suíço condenou a aprovação de Israel de 22 novos assentamentos na Cisjordânia em territórios palestinos ocupados.
Início de junho: O ministro suíço das Relações Exteriores, Ignazio Cassis, enfrenta críticas internas por sua suposta leniência em relação a Israel. Isso é reiterado por sua própria equipe.
10 e 11 de junho: Cassis, sob pressão internaLink externo, viaja ao Oriente Médio, sua primeira viagem à região desde os ataques do Hamas. Durante sua visita a Jerusalém, Cassis enfatizou as obrigações de Israel sob o direito internacional humanitário, particularmente seu dever como potência ocupante de garantir o acesso irrestrito à ajuda humanitária. Cassis pediu a Israel que autorizasse mais ajuda a Gaza. Ele também se reuniu com o primeiro-ministro palestino, Mohammad Mustafa, em Ramallah.
2 de julho: A controversa Fundação Humanitária de Gaza (FHG), sediada em Genebra e apoiada pelos EUA e Israel, é dissolvida na Suíça. Ela permanecerá em operação nos EUA. Ela foi criada em fevereiro de 2025 em Genebra como substituto da ajuda humanitária coordenada pela ONU na Faixa de Gaza.
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Fundação Humanitária de Gaza distribui ajuda sob forte tensão
29 de julho: Na conferência das Nações Unidas sobre o Oriente Médio, realizada no final de julho, vários países ocidentais, incluindo o Reino Unido e o Canadá, indicaram que reconheceriam a Palestina como um Estado independente. A França já havia anunciado sua intenção de fazê-lo anteriormente. A Suíça se absteve, argumentando que as condições não foram atendidas.
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Por que a Suíça não reconhece o Estado da Palestina
12 de agosto: “Precisamos de um cessar-fogo que possa pôr fim à guerra”, declararam 29 países ocidentais, incluindo a Suíça, em agosto. “Somos gratos aos EUA, Catar e Egito por seus esforços em pressionar por um cessar-fogo e buscar a paz. Precisamos de um cessar-fogo que possa pôr fim à guerra, para que os reféns sejam libertados e para que a ajuda entre em Gaza por terra sem impedimentos”, disseramLink externo os países signatários.
Setembro a outubro: Em várias cidades suíças, entre elas Genebra e Zurique, milhares de pessoas se manifestam pelo reconhecimento da Palestina e contra a violência em Gaza. O Ministério suíço das Relações Exteriores (EDA) considera que as condições do direito internacional estão cumpridas, mas o gabinete do governo federal tem dúvidas. Um projeto de lei do cantão de Genebra a esse respeito fracassouLink externo no Senado, enquanto agora se prepara um projeto de leiLink externo para ser levado a plebiscito.
5 de outubro: Dezenove ativistas suíços da frota Waves of Freedom foram detidos em Israel após serem interceptados no litoral de Gaza. Os primeiros ativistas que retornaram à Suíça denunciamLink externo maus-tratos. O EDA exige acesso às pessoas detidas e planeja enviar uma nota de protesto a Israel, após o cancelamento de uma visita de um grupo diplomático suíço.
7 de outubro: Dois anos após os ataques da milícia palestina Hamas contra Israel, a presidente da Confederação Suíça, Karin Keller-Sutter, fez um apelo à paz. “Dois anos após os ataques terroristas do Hamas contra Israel, nossos pensamentos estão com todos aqueles que sofrem. É hora de pôr fim à violência. O Hamas deve libertar todos os reféns. O desespero e o imenso sofrimento devem acabar. A paz é o único caminho a seguir”, escreveu na plataforma X.
>>> O artigo a seguir aborda as relações e ações da Suíça no conflito do Oriente Médio desde 1897, ano em que o primeiro Congresso Sionista foi realizado em Basileia, até o fatídico 7 de outubro de 2023:
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Cronologia: a Suíça e o conflito no Oriente Médio
Colaboração de May Elmahdi-Lichtsteiner
Edição:Virginie Mangin/livm
Adaptação: DvSperling
Cronologia atualizada em 7 de outubro de 2025
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