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Sonia Guajajara, a líder indígena que combaterá o legado de Bolsonaro

Luiz Inacio Lula da Silva e Sonia Guajajara afp_tickers

Após quatro anos de luta contra o governo de Jair Bolsonaro, a carismática líder indígena Sonia Guajajara combaterá seu legado de “destruição” como ministra no próximo governo de Lula.

Incluída, este ano, na lista da revista Time das 100 personalidades mais influentes do mundo, Sonia Guajajara, de 48 anos, foi nomeada nesta quinta-feira (29) pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva para liderar o novo Ministério dos Povos Indígenas.

Nos últimos anos, Guajajara esteve entre os críticos mais ferozes do governo Bolsonaro (PL), que ela diz ter conduzido uma “agenda genocida” na floresta amazônica e para os povos indígenas.

Prometeu manter-se vigilante ao novo presidente quando assumir o cargo em 1º de janeiro, garantindo que Lula (PT) cumpra suas promessas de proteção das terras indígenas e de políticas ambientais.

Ex-líder da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), Sonia Guajajara foi aliada de Lula durante a campanha, marcando presença em comícios usando trajes tradicionais.

Em outubro, foi eleita deputada federal pelo PSOL de São Paulo, cargo que deixará para atuar no Executivo.

A presença de uma respeitada líder indígena reforçou as credenciais de Lula como candidato pró-ambiental depois que o desmatamento na Amazônia disparou 60% durante o mandato de Bolsonaro.

Mas Guajajara, que é chamada de “guerreira” por seus amigos, também combateu as políticas de Lula em seus dois mandatos anteriores (2003-2010).

Em particular, viajou o mundo denunciando o projeto da hidrelétrica de Belo Monte, que foi levado adiante apesar dos alertas de ativistas de que seria catastrófico para o meio ambiente e os povos indígenas.

Desenvolveu habilidades de ativismo e comunicação nas redes sociais, como quando concedeu o “Prêmio Motosserra de Ouro” à senadora da bancada ruralista Kátia Abreu (PP) pela destruição ambiental.

– ‘Desafiou as estatísticas’ –

A nova ministra nasceu como Sonia Bone de Sousa Silva Santos, em 6 de março de 1974, na reserva indígena Araribóia, no Maranhão.

Seus pais, pertencentes à etnia Guajajara, não sabiam ler.

Saiu de casa aos dez anos para estudar na cidade mais próxima, Amarante, trabalhando como empregada doméstica e babá quando não estava em sala de aula.

Aos 15 anos, ganhou uma bolsa da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) para cursar o Ensino Médio em Minas Gerais. Posteriormente, formou-se em letras e enfermagem pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e fez pós-graduação em educação especial.

Ela “desafiou as estatísticas”, disse Guilherme Boulos, deputado federal eleito em 2022 pelo PSOL de São Paulo e líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), no perfil de Sonia Guajajara publicado pela revista Time.

“Sonia é uma inspiração, não só para mim, mas para milhões de brasileiros que sonham com um país que quita suas dívidas com o passado e finalmente acolhe o futuro”, acrescentou.

Guajajara despontou como liderança com projeção internacional e foi convidada para um fórum das Nações Unidas sobre Povos Indígenas em 2008.

E obteve destaque nacional quando Boulos a escolheu como sua companheira de chapa nas eleições presidenciais de 2018 pelo PSOL.

Ambos obtiveram apenas 0,6% dos votos, mas Guajajara se tornou a primeira indígena a concorrer a um cargo do Executivo federal.

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